3 características dos workaholics e por que é um erro se viciar em trabalho

Muitos viciados em trabalho negam o fato de que isso afeta suas famílias e amizades

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Manisha Thakor 4 minutos de leitura

Qualquer um que já tenha amado uma pessoa workaholic lhe dirá que elas costumam ser pais ausentes, amigas negligentes e péssimas parceiras românticas. De acordo com uma pesquisa da Universidade da Carolina do Norte, as taxas de divórcio são 40% mais altas entre os viciados em trabalho do que entre casais em que nenhum dos cônjuges trabalha demais. 

Tendo trabalhado com administração financeira por mais de três décadas, pude observar como a obsessão com o trabalho, com o dinheiro e com o avanço na carreira pode destruir relacionamentos. Ironicamente, em meu próprio caso, foi somente quando enfrentei uma grave crise de saúde, prestes a completar 50 anos, que parei o suficiente para perceber que havia feito exatamente isso comigo mesma.

Por acreditar que quanto mais dinheiro eu ganhava, mais importante eu era como ser humano, simplesmente não me afastava da mesa de trabalho, independentemente do rastro de destruição que eu deixava nos meus relacionamentos. 

aqueles que atrelam seu patrimônio líquido à autoestima têm relacionamentos menos felizes, em parte porque priorizam o dinheiro em detrimento do relacionamento.

A especialista em vício em trabalho Malissa Clark e sua equipe na Universidade da Geórgia estão realizando estudos que podem nos ajudar a entender as causas e os impactos do vício em trabalho. Ela diz que muitos workaholics entram em negação sobre como sua devoção ao trabalho afeta suas famílias. 

"As pessoas que se identificam como viciadas em trabalho costumam dizer: 'às vezes, eu gostaria de passar mais tempo com meus filhos, mas eles sabem que estou fazendo isso por causa de... X, Y, Z' ", diz ela. "Mas, quando conversamos com os seus parceiros, ouvimos muito ressentimento e queixas de que tudo recai sobre os ombros deles, e que a intimidade está indo embora junto com o casamento."

A psicóloga Deborah Ward descreve uma lógica que associa autovalorização a patrimônio líquido e chama isso de " autoestima financeiramente contingente". Trata-se de "um desejo de obter sucesso financeiro para cumprir a meta primordial de proteger, manter e melhorar a autoestima". 

Ward e seus coautores estudaram quase 2,5 mil pessoas e descobriram que as que apresentam altos níveis de “autoestima financeiramente contingente” sofrem de solidão, desconexão e pressão autoimposta para trabalhar mais.

Em um estudo posterior, eles voltaram sua atenção para os casais e descobriram que aqueles que atrelam seu patrimônio líquido à autoestima têm relacionamentos menos felizes, em parte porque priorizam o dinheiro em detrimento do relacionamento.

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Tenho vergonha de admitir que, muitas vezes, optei por ganhar mais dinheiro em vez de investir nos meus relacionamentos. Quando me lembro desses fatos, fico constrangida com meu comportamento. Mas, na época, não vi nada de errado em minhas decisões.

Na verdade, eu conhecia colegas que tinham tido problemas piores: divórcios dolorosos, que destruíram famílias. Pais cujos filhos cresceram odiando-os porque eles nunca estavam presentes física ou emocionalmente.

Há uma diferença entre o vício no trabalho e o "engajamento no trabalho", que é como os pesquisadores chamam quando uma pessoa tem um prazer saudável em se dedicar à carreira. Clark explica as diferentes maneiras de avaliar essa distinção. Em geral, os viciados em trabalho compartilham as seguintes características comuns:

- Sentir-se compelido a trabalhar devido a pressões interiores.

- Ter pensamentos persistentes sobre o trabalho quando não se está trabalhando.

- Trabalhar além do que é razoavelmente esperado do funcionário, apesar do potencial prejuízo à saúde.

Muitos de nós nos encontramos tão aprisionados em nossos comportamentos tóxicos que eles se enquadram na definição clínica de vício. Só que a compulsão por trabalho é um vício aceito socialmente. Há inúmeros livros, podcasts e TED Talks criados para nos ajudar a ser mais produtivos, criar empresas maiores, ter mais seguidores. Somos constantemente incentivados a fazer mais.

É difícil resistir a essa tendência. Só a mais extrema crise de saúde ou familiar pode conter nosso desejo de continuar trabalhando. Porque, em nosso íntimo, há uma ligação inseparável entre as conquistas profissionais e financeiras e o valor que atribuímos a nós mesmos como seres humanos.

Autoestima = patrimônio líquido, dizemos a nós mesmos. Mas essa é uma receita para o esgotamento, para a desilusão e para relacionamentos fracassados.

Nos últimos dois anos, entrevistei uma grande variedade de especialistas multidisciplinares e indivíduos de diversas origens – de pais que ficam em casa a professores, empresários e CEOs –, todos com problemas de dependência em relação ao trabalho.

a compulsão por trabalho é um vício aceito socialmente. Somos constantemente incentivados a fazer mais.

Há fatores muito específicos – traumas pessoais, pressão da sociedade, cultura do local de trabalho e até instintos biológicos – que levam alguém a acreditar que precisa trabalhar mais, ganhar mais e ser mais para alcançar o "sucesso". Mas essa falsa crença não leva a uma vida plena.

Não me entenda mal. Não estou dizendo que o dinheiro não é importante ou que tudo o que você precisa é de amor. A estabilidade financeira é essencial para a possibilidade de prosperar.

Mas, como alguém que passou a vida inteira se dedicando a aprimorar a capacidade de ganhar dinheiro às custas de relacionamentos, posso dizer com autoridade: a riqueza financeira, por si só, não retrata uma vida bem vivida.

O que eu sei agora, com profunda certeza, é que a família, as amizades e as conexões que aprofundam nossa riqueza emocional têm um retorno de investimento muito maior do que o trabalho sem fim.

Este trecho foi extraído do livro MONEYZEN: The Secret to Finding Your ‘Enough”, com a permissão da Harper Business.


SOBRE A AUTORA

Manisha Thakor trabalha com serviços financeiros há mais de 30 anos, com ênfase no empoderamento econômico das mulheres. saiba mais