3 erros comuns que cometemos ao planejar o futuro

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Em 1988, a Kodak, na época a empresa líder no mercado cinematográfico, contratou a futurista Faith Popcorn para aconselhá-los sobre futuro do cinema. Apoiada por pesquisas e baseada (até então) em mais de uma década de experiência em sua empresa de consultoria de marketing, a BrainReserve, Popcorn disse à Kodak que o futuro do cinema seria digital. Mesmo assim, a visão da Kodak permaneceu limitada por seu sucesso e  especificidade. “Não foi isso que perguntamos”, eles se queixaram. “Queríamos saber o futuro do cinema!”

Faith Popcorn utiliza uma ampla gama de sinais, tendências, previsões e outros modelos para projetar resultados plausíveis para o futuro. As empresas costumam contratar especialistas em projeções para ajudá-las a criar estratégias de longo prazo, preparando seus líderes para as mudanças que se aproximam.

Para a maioria das pessoas, tentar prever o futuro é como tentar adivinhar o conteúdo de uma caixa fechada: você não sabe o que há ali, até ver com os próprios olhos.  No entanto, algumas práticas usadas pelos futuristas melhoram a precisão na compreensão do que o futuro provavelmente trará, permitindo que você reaja com agilidade quando ele chegar.

Três proeminentes futuristas e visionários – Amy Webb, Faith Popcorn e Rita McGrath – sugerem um processo de três etapas para ajudar a evitar armadilhas em que muitos caem quando tentam planejar o futuro ou desenvolver estratégias para agir em cenários imaginários.

  • NÃO ANALISE APENAS A SUA INDÚSTRIA. AMPLIE A PERSPECTIVA

A maioria dos relatórios de tendências futuras se volta para algum setor muito específico: “as dez principais tendências na área de tecnologia financeira”, ou “as dez principais tendências em saúde” etc. Isso é um erro.

Amy Webb ´é fundadora do Future Today Institute e foi eleita uma das principais pensadoras de gestão pela Thinkers50 em 2021. Ela ministra um curso de MBA sobre previsão estratégica e previsão de futuros na NYU Stern School of Business. Seu método de futurismo quantitativo utiliza dados para modelar cenários futuros possíveis e viáveis – e para desenvolver estratégias em torno deles.

AO AMPLIAR O HORIZONTE DE ANÁLISE, UMA SÉRIE DE CENÁRIOS POSSÍVEIS E PROVÁVEIS CONCEITOS FUTUROS VÃO SE ABRIR.

A abordagem de Webb começa com a elaboração de um “mapa marginal” de tendências em desenvolvimento que podem ser relevantes para a empresa. Ao fazer isso, ela aconselha ampliar as perspectivas. “Quando as pessoas pensam no futuro, tendem a se concentrar somente em um aspecto dele. Mas esse não é o caminho. Por exemplo: se uma empresa está tentando imaginar o futuro dos carros, ela na verdade precisa pensar no futuro da mobilidade como um todo. Se considerarem apenas o futuro dos carros, isso os limitará a uma ideia de futuro em que só existem carros.”

O exemplo daquele conselho que não foi compreendido pela Kodak na década de 1980 nos ensina que restringir demais a definição do seu setor pode ter consequências desastrosas. Ao ampliar o horizonte de análise, uma série de cenários possíveis e prováveis conceitos futuros vão se abrir. Isso ajudará a refinar uma variedade de estratégias para guardar como plano b. 

  • NÃO OUÇA APENAS OS ESPECIALISTAS. CONVERSE COM TODO TIPO DE GENTE 

O olhar futurista não se limita à identificação de tendências. As novas tecnologias não definem o futuro de modo determinista. Em vez disso, os futuristas começam identificando os conceitos e as linguagens emergentes em torno dessas tecnologias. Por exemplo, a ideia de um serviço de táxi não era nova, mas o conceito do Uber de coordenar passageiros e motoristas antes descoordenados revolucionou o compartilhamento de caronas. Pouco tempo depois, começamos a ouvir falar da “uberização” das indústrias.

Rita McGrath, especialista global em inovação e estratégia de crescimento corporativo, propõe que as grandes mudanças começam a se mostrar nas margens das empresas e mercados, onde estão mais evidentes os problemas emergentes dos clientes, as formas como esses problemas estão sendo resolvidos e perspectivas mais diversificadas.

AS GRANDES MUDANÇAS COMEÇAM A SE MOSTRAR NAS MARGENS DAS EMPRESAS E MERCADOS.

Para entrar em contato com essas margens, McGrath recomenda encontrar pessoas que muitas vezes não têm capacidade de tomar decisões, mas que têm uma visão profunda dos fenômenos em mudança. Escute-os. Mais importante: afaste-se regularmente do seu dia a dia para observar como os sinais mais sutis de mudanças futuras estão se revelando. Muitas coisas estão no ar, mas você não percebe se não estiver prestando atenção.

Converse não apenas com os especialistas formais, mas com pessoas à margem, que estão trabalhando para resolver problemas práticos. Esse movimento exigirá que você saia da sua zona de conforto e da bolha da sua rede pessoal ou de experiências. As empresas podem facilitar isso, capacitando equipes pequenas e ágeis e incentivando os funcionários a verbalizar comentários desconfortáveis ou contraditórios.

  • NÃO FIQUE PRESO AO PASSADO. OLHE PARA FRENTE

Em uma entrevista, Faith Popcorn descreveu o maior erro que as pessoas cometem ao tentar prever o futuro. “Acho que é tentar extrapolar o que vai acontecer com base no que já aconteceu no passado. Esse é um grande equívoco. A melhor maneira de descobrir o futuro e de se tornar um futurista da noite para o dia é olhar para frente.”

Quando você tenta prever o futuro com base no que está acontecendo no presente, limita o escopo de sua imaginação às empresas, aos pensamentos e às tendências que já estão em jogo hoje. Isso deixa pouco espaço para imaginar novos padrões, tecnologias e ideias que certamente se desenvolverão ao longo do tempo. 


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