3 estratégias para evitar o nem sempre eficiente pensamento de grupo

Quando o pensamento de grupo domina a tomada de decisões, a inovação perde espaço

Crédito: Jonathan Borba/ Pexels

Shipra Kayan 5 minutos de leitura

A cada dez anos, mais ou menos, alguma falha catastrófica evidencia que até mesmo pessoas muito competentes em suas áreas são capazes de tomar decisões desastrosas quando estão agindo em conjunto. Nesses momentos, um fenômeno psicológico chamado “pensamento de grupo” volta à tona no debate público.  

No rescaldo da invasão do Iraque, em 2003, o pensamento de grupo foi frequentemente citado por diversos líderes como justificativa para sua decisão de apoiar a invasão. Também é citado como uma razão por trás da explosão do ônibus espacial Challenger em 1986, quando a liderança da NASA aprovou o lançamento, apesar do conhecimento dos riscos de falha de alguns dos componentes.

Hoje, as empresas vêm sendo pressionadas a tomar muitas decisões delicadas em tempo recorde, já que a economia está, aos poucos, saindo da pandemia e entrando em uma possível recessão – o que aumenta o risco de pensamento de grupo.

O pensamento de grupo acontece quando a pressão para ser agradável, conformar-se ou chegar mais rápido ao resultado domina um processo de tomada de decisão, tomando o lugar do pensamento crítico.

Quando o pensamento de grupo se torna o motor comum na tomada de decisões, é sinal de que nem todas as vozes serão ouvidas.

Nos exemplos anteriores, ambas as equipes estavam sob pressão dos líderes para chegar a uma determinada decisão e, assim, encontraram maneiras de justificar uma conclusão predeterminada, em vez de considerar opiniões contrárias.

O pensamento de grupo nem sempre tem resultados tão trágicos, mas sempre traz alguma consequência. Em alguns casos, produtos ruins podem ser colocados no mercado enquanto excelentes ideias são deixadas para trás, para nunca mais serem ouvidas.

Pior ainda é o que esse tipo de falha sinaliza sobre uma empresa. Quando o pensamento de grupo se torna o motor comum na tomada de decisões, é sinal de que a inovação não é uma prioridade, de que a dissidência não é bem-vinda e de que nem todas as vozes serão ouvidas. O pensamento de grupo cria uma cultura que reprime a inovação e afasta talentos inteligentes.

 IDENTIFICANDO O FENÔMENO

O pensamento de grupo é difícil de identificar, porque muitas vezes se disfarça de consenso. Quando um grupo de especialistas toma uma decisão, espera-se que ela seja inteligente, certo? Mas nem sempre é o caso. 

A boa notícia é que existem maneiras de alertar os colegas quando o pensamento de grupo está tomando conta de uma conversa.

Uma maneira fácil de identificar isso é examinando outras ideias que o grupo havia debatido antes de fazer sua escolha. Se as pessoas conseguirem elaborar verbalmente o processo de pensamento por trás do motivo pelo qual essas ideias alternativas foram descartadas, então dá para confiar que elas estavam de fato pensando criticamente – e não sendo apenas sugadas pelo pensamento de grupo.

Se a equipe acredita que seu plano é infalível, provavelmente não imaginou tudo o que pode dar errado.

Outra maneira é questionar os riscos ou consequências da decisão que o grupo tomou. Se a equipe está muito eufórica e acreditando que seu plano é infalível, provavelmente não imaginou tudo o que pode dar errado.

O excesso de confiança é um sintoma típico do pensamento de grupo. Os líderes devem estar prontos para ajudar as equipes a encontrar falhas em seus planos, mesmo quando elas insistem que não existe nenhuma. Em caso de dúvida, você também pode perguntar diretamente ao grupo se eles se sentiram pressionados a tomar uma decisão.

Pressões externas ou restrições, como de orçamento ou de tempo, podem levar uma equipe a tomar decisões com muitos efeitos colaterais. Essa pressão às vezes é inevitável, mas estar atento a ela pode ajudá-la a avaliar as ideias de maneira objetiva, apesar de tudo.

SUPERANDO O PENSAMENTO DE GRUPO

Se perceber que o pensamento de grupo está tomando conta de uma equipe, existem alguns truques que podem ser usados para arejar o ambiente com novas ideias e perspectivas. Eles permitem que se crie espaço para apresentar objeções sem dominar totalmente a conversa.

  • Promova brainstorms em silêncio: O pensamento de grupo cria um ambiente hostil para ideias alternativas, provocando o medo do julgamento naqueles que gostariam de sugerir algo que fuja à regra. Você pode contornar esse medo dando à equipe vários minutos para cada um anotar silenciosamente suas ideias ou perguntas. Recolha as anotações e compartilhe anonimamente o que todos escreveram. Essa técnica silencia temporariamente as vozes mais poderosas da sala e coloca todos em um nível igual para contribuir.
  • Questione o excesso de confiança: Uma maneira de fazer isso é desempenhando o papel de advogado do diabo. Às vezes, é tão simples quanto perguntar: “como é que isso pode dar errado?” Ou, então, você pode sugerir uma pesquisa de confiabilidade, pedindo às pessoas que votem em quão confiantes elas estão de que aquela ideia é boa. Isso pode revelar se o grupo tem dissidentes que não estavam se manifestando e fazer avançar a conversa.
  • Marque reuniões de forma consciente: Um dos impulsionadores do pensamento de grupo é a pressa, que pode ser evitada por meio do planejamento. Por exemplo, se precisar tomar uma decisão importante com um grupo, talvez seja melhor não marcar a reunião para uma tarde de sexta-feira ou a poucos dias ou horas do prazo. A pressa ou o cansaço podem fazer o grupo concordar com uma ideia medíocre apenas para poder voltar logo para casa.

Prevenir o pensamento de grupo não é um trabalho exclusivo dos gerentes ou dos líderes. Na verdade, é a cultura geral de uma organização que funciona como indicador de se o pensamento de grupo surgirá nos momentos mais delicados, quando decisões importantes devem ser tomadas.

Criar uma cultura de pensamento crítico e conversas abertas requer segurança psicológica, que deve florescer de forma holística em uma organização. Ainda assim, estando ciente dos indicativos de que está ocorrendo o pensamento de grupo, qualquer líder pode ajudar sua equipe a rever suas decisões para produzir resultados impactantes e resultados inovadores.


SOBRE A AUTORA

Shipra Kayan é a principal promotora de produtos da Miro. saiba mais