5 formas de evitar que funcionários partam para a “demissão por vingança”

A "demissão por vingança" é reflexo de um desrespeito profundo e sistêmico pela dignidade dos trabalhadores

Crédito: pressfoto/ Freepik

Andrea Carter 3 minutos de leitura

Questões de longa data no ambiente de trabalho, como grosserias, comportamentos tóxicos e a falta de responsabilidade pela cultura organizacional têm alimentado uma tendência crescente conhecida como "demissão por vingança".

Esse fenômeno, em ascensão desde os anos 2000, acontece quando um funcionário deixa o emprego não apenas em busca de melhores oportunidades, mas como uma forma de protesto e autodefesa contra o tratamento injusto.

As empresas dispostas a lidar com esse problema têm muito a ganhar, mas precisam ir além das estratégias de diversidade, equidade e inclusão (DEI) ou de recursos humanos. Criar um verdadeiro senso de pertencimento pode transformar a cultura no ambiente de trabalho, aumentar o engajamento e o sucesso geral dos negócios.

Minha pesquisa revelou que, quando os funcionários têm um senso de pertencimento genuíno, eles se tornam mais engajados e leais, encontram soluções mais inovadoras e criativas e são mais confiáveis e produtivos.

Além disso, o pertencimento ajuda a combater os fatores de estresse que levam a comportamentos tóxicos, reduzindo a sensação de isolamento, atenuando a exaustão e estimulando a escuta ativa antes de tomar decisões. Isso, por sua vez, diminui as chances de os funcionários partirem para a retaliação e decidirem pedir demissão por vingança.

O pertencimento exige um compromisso ativo com cinco principais indicadores: conforto, conexão, contribuição, segurança psicológica e bem-estar. Cada um desses indicadores é essencial para reduzir a vontade de se afastar ou de pedir demissão por vingança ou por frustração com o trabalho.

1. Conforto

O conforto no trabalho é essencial para a concentração, a função cognitiva e a produtividade. Ele se cria a partir de expectativas claras, fluxos de trabalho definidos e reconhecimento dos talentos individuais dentro de uma equipe.

Quando a economia se torna volátil, pode forçar as empresas a deixar de lado os planos estratégicos originais para se manterem no mercado. Quando isso acontece, o conforto é a primeira coisa a ser destruída no ambiente de trabalho, o que permite que a toxicidade se espalhe sem controle.

2. Conexões

Relacionamentos sociais fortes no ambiente de trabalho podem ajudar a aliviar o estresse e aumentar a resiliência. A conexão pode ser cultivada por meio de programas de mentoria, colaboração e pelo networking informal.

Em ambientes de trabalho remotos e híbridos, garantir que os funcionários se sintam conectados às suas equipes por meio de check-ins estruturados e espaços sociais virtuais é essencial. As conexões aumentam o engajamento e criam um vínculo emocional, o que diminui o risco de os funcionários saírem da empresa insatisfeitos.

3. Contribuições

Os funcionários precisam sentir que o trabalho que eles fazem é significativo e valorizado. O reconhecimento ativa o sistema de recompensas do cérebro, o que reforça a motivação e aumenta o engajamento.

Quando os funcionários se sentem desvalorizados, o ressentimento vai se acumulando. Se isso acontecer de forma repetitiva, pode fazer com que eles percam a concentração no trabalho e, eventualmente, queiram sair do emprego, mesmo que não seja um caso de demissão por vingança. 

As empresas devem implementar programas de reconhecimento que celebrem as conquistas individuais e da equipe, garantindo que os funcionários saibam que seu trabalho é valorizado.

4. Segurança psicológica

Garantir que as ideias e preocupações dos funcionários sejam ouvidas com curiosidade e compreensão é crucial para a retenção. Em ambientes de trabalho onde o medo impera, o estresse prejudica a função cognitiva e a criatividade.

Os líderes precisam criar ambientes onde as críticas são bem-vindas, os erros são vistos como oportunidades de aprendizado e os funcionários se sentem encorajados a expressar seus pontos de vista.

Estratégias como canais claros de comunicação, mecanismos de feedback anônimos e treinamentos de liderança inclusiva ajudam a criar segurança psicológica.

5. Bem-estar

O bem-estar dos funcionários está relacionado à função cognitiva, à regulação emocional e à satisfação no trabalho. Trabalhadores que enfrentam estresse crônico, esgotamento ou desequilíbrios entre vida pessoal e profissional têm mais chances de se desconectar e, eventualmente, desistir.

Programas de bem-estar no ambiente de trabalho que apoiam a saúde mental e física são essenciais. Oferecer condições de trabalho flexíveis, recursos de saúde mental e gerenciamento de estresse, normalizar as pausas e estabelecer limites são medidas que ajudam a manter a motivação e o comprometimento dos funcionários.

Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o  artigo original.


SOBRE A AUTORA

Andrea Carter é professora adjunta em psicologia industrial e organizacional na Universidade Adler. saiba mais