5 hábitos para turbinar o cérebro, segundo a neurociência

Reter informações por mais tempo e aprender mais rápido. Em alguns minutos

5 hábitos para turbinar o cérebro, segundo a neurociência
Créditos: Orla via Getty images

Jeff Haden 5 minutos de leitura

Ninguém conquista grandes resultados sozinho – por isso, as conexões que você constrói ao longo da vida são importantes. Mas o que você sabe – e o que faz com esse conhecimento – é ainda mais determinante. Ter uma boa memória, aprender rápido e desenvolver habilidades cognitivas pode te dar uma grande vantagem competitiva.

Separamos cinco estratégias comprovadas pela neurociência que ajudam a aprender com mais agilidade – e, mais importante, a reter por mais tempo o que foi aprendido. E o melhor: cada uma leva só alguns minutos. Uma delas, inclusive, nem exige esforço.

FALAR EM VOZ ALTA

Levei meus netos para uma aula de surfe e eles gostaram tanto que quiseram voltar. Como o instrutor foi ótimo, perguntei seu nome. O problema? Eu sou péssimo para lembrar nomes.

Então repeti o nome dele em voz alta umas três ou quatro vezes. Um estudo publicado no “Journal of Experimental Psychology” mostra que repetir algo em voz alta – ou mesmo só mover os lábios – ajuda a fixar a informação com mais facilidade.

Embora os motivos ainda não estejam totalmente claros, os cientistas acreditam que o ato de verbalizar transforma o pensamento em algo mais concreto: você não apenas pensou, mas também ouviu o que disse. Isso torna a ideia, informação ou plano mais marcante e fácil de guardar na memória.

Ou seja: quando quiser memorizar alguma coisa, diga em voz alta ou simule que está falando. Seu cérebro vai agradecer.

REVISAR MENTALMENTE POR 40 SEGUNDOS

Lembrar um nome é relativamente simples. Mas gravar informações mais complexas exige consolidar a memória – o processo que transforma lembranças temporárias em memórias mais duradouras. Esse processo pode ser acelerado, mas ainda leva algum tempo.

Revisar mentalmente um evento, uma conversa, por exemplo, aumenta as chances de lembrar daquilo depois

Uma forma eficaz de ajudar nisso é rever mentalmente o conteúdo por cerca de 40 segundos. Um estudo de 2015, publicado no “Journal of Neuroscience”, mostra que revisar mentalmente um evento, uma conversa, uma sequência de etapas, por exemplo, aumenta bastante as chances de lembrar daquilo depois. Segundo os autores:

“Um breve período de revisão tem grande impacto na nossa capacidade de lembrar de eventos complexos por até duas semanas. Esse efeito está relacionado à atividade do córtex cingulado posterior.”

Parece pouco, mas uma ou duas semanas já é tempo suficiente para aplicar o que você aprendeu na prática.

FAZER PREVISÕES

Pode soar estranho, mas um estudo publicado no “Canadian Journal of Experimental Psychology” mostra que só de se perguntar se vai se lembrar de algo, suas chances de lembrar aumentam consideravelmente – em alguns casos, até 50%.

Essa técnica é especialmente útil quando se trata de memórias do tipo “lembrar de fazer algo depois”: ligar para um cliente, verificar um pedido, acompanhar um projeto, por exemplo.

Não se sabe exatamente por que isso funciona. Talvez porque prever ative um mecanismo de autoavaliação – e, segundo diversas pesquisas, se testar é uma das maneiras mais eficientes de aprender.

O que se sabe é que esse tipo de previsão ajuda o hipocampo a organizar melhor essas memórias, facilitando o resgate depois.

Quer garantir que vai lembrar de algo? Faça uma pausa e se pergunte: “será que vou lembrar disso?”. Só esse gesto já faz diferença.

DESCANSAR POR DOIS MINUTOS

De acordo com um estudo publicado na “Nature Reviews Psychology”, “até mesmo poucos minutos de descanso com os olhos fechados podem melhorar a memória – talvez tanto quanto uma noite de sono”.

Pode parecer perda de tempo, mas pausas curtas são fundamentais para consolidar a memória.

Os especialistas chamam isso de “descanso acordado off-line”. Na prática, significa fechar os olhos e relaxar por alguns minutos. Você pode apenas deixar a mente vagar, meditar ou não pensar em nada.

Pode parecer perda de tempo – e talvez você se questione se não deveria estar estudando –, mas essas pausas curtas são fundamentais para consolidar a memória. Quando você pula de uma tarefa para outra sem parar, o cérebro não consegue acompanhar o ritmo. Segundo os pesquisadores:

“Períodos de menor atenção ao ambiente ao redor são comuns na experiência humana. Isso sugere que passar um tempo desconectados do mundo externo ajudam a reativar memórias recém-formadas – fortalecendo e estabilizando essas lembranças nos primeiros minutos após o aprendizado.”

O segredo está na ordem. Primeiro, revise mentalmente por 40 segundos. Depois, pergunte a si mesmo se vai se lembrar. Em seguida, feche os olhos e descanse por dois minutos.

Como destacam os autores do estudo: “momentos de descanso devem ser vistos como parte essencial das funções cognitivas humanas”.

TER UMA BOA NOITE DE SONO

Essa é a dica mais fácil de todas. De acordo com um estudo publicado na revista “Psychological Science”, pessoas que estudam antes de dormir, dormem bem e revisam o conteúdo na manhã seguinte tendem a reter muito mais – e ainda precisam de menos tempo de estudo. O ganho de retenção pode chegar a 50%.

“Evidências que vão do nível molecular ao comportamental mostram que o reprocessamento de memórias durante o sono é essencial para consolidar e fortalecer o aprendizado.”

Esse processo é chamado de “consolidação da memória dependente do sono”. Em outras palavras: enquanto você dorme, seu cérebro organiza e armazena o que aprendeu – facilitando o acesso às informações depois.

Isso também vale para memórias de longo prazo. Estudar, dormir bem e depois revisar o conteúdo é uma das formas mais eficientes de evoluir em qualquer habilidade. Os  autores do estudo explicam:

“Alternar sessões de estudo com boas noites de sono reduz pela metade o tempo necessário de prática – e ainda garante retenção prolongada.

Dormir depois de estudar já ajuda bastante. Mas estudar, dormir e revisar no dia seguinte é ainda melhor.

Digamos que você esteja treinando uma nova apresentação de vendas. Depois de praticar, fale em voz alta os principais pontos. Em seguida, repasse mentalmente os trechos mais importantes. Depois, pergunte a si mesmo se vai se lembrar deles. E então, feche os olhos e relaxe por um ou dois minutos.

Durma bem, revise no dia seguinte e siga para o próximo conteúdo. Repita esse processo – e a neurociência garante: você vai aprender mais em menos tempo. E isso significa que vai produzir mais. Afinal, o que você sabe só tem valor quando é bem aplicado.

Este artigo foi publicado originalmente na “Inc.”, publicação parceira da Fast Company.


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