A Ásia é quem vai ditar o futuro dos escritórios (e não o Vale do Silício)

Diga adeus aos artifícios e dê preferência a um bom projeto

Crédito: Buro-OS

Nate Berg 4 minutos de leitura

Nos últimos 25 anos, os escritórios de empresas de tecnologia viraram um subgênero próprio dentro da arquitetura. É o tipo de edifício que, seja por arrogância, seja simplesmente pela sua riqueza, foge dos padrões dos escritórios convencionais. São espaços com cores vibrantes, ambientes "divertidos" e uma abundância de atividades de lazer que vão desde salas de jogos a cinema e bar. 

Desde a bolha das empresas “ponto com”, no final da década de 1990, até o surgimento do Google e do Facebook, os escritórios de tecnologia se transformaram em manifestações de um novo tipo de filosofia capitalista – fracasse rápido, continue crescendo –, mas sempre fazendo com que tudo pareça divertido.

Foi no Vale do Silício que surgiu esse modelo de escritório de tecnologia. Mas, de acordo com o arquiteto Ole Scheeren, a partir de agora o futuro do espaço de trabalho tecnológico está sendo redefinido do outro lado do mundo.

De acordo com Scheeren, as empresas asiáticas estão dando uma cara mais séria e mais humana aos espaços de trabalho dos gigantes emergentes da tecnologia. Ele passou as duas últimas décadas elaborando projetos de grande escala (e de cair o queixo) em toda a Ásia, principalmente a torre contorcida da CCTV em Pequim, em 2012, que ele co-projetou quando era sócio da empresa de arquitetura OMA

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Depois, Scheeren lançou sua própria empresa, a  Büro Ole Scheeren. Desde então, vem produzindo uma série de projetos urbanos de grande escala em toda a região.

Cada vez mais, esses projetos, que servirão como sedes de grandes empresas de tecnologia, são empreendimentos de uso misto. Só em Shenzhen, na China, três deles estão em andamento. "Todos estão claramente levantando a questão de como deve ser o novo modelo de sede", diz ele.

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Provavelmente, esse novo modelo não será parecido com o conceito de campus descontraído e voltado para a recreação dos tempos de expansão do Vale do Silício, no início dos anos 2000.

Na Ásia, Scheeren vê o pêndulo balançando de volta para o lado das sedes corporativas mais sérias, que equilibram as necessidades sociais e físicas dos seres humanos, ao mesmo tempo em que permitem que as empresas de tecnologia alcancem crescimento vertiginoso.

UM NOVO TIPO DE SEDE

Um desses projetos é a futura sede em Shenzhen da JD.com, a maior varejista digital da China. Composto por um megabloco de duas torres que cobre mais de 18 hectares, o projeto é uma mistura de escritórios, área de comércio, museu e salão de exposições, além de pátios e praças acessíveis ao público em todo o seu conjunto. 

Ao longo e ao redor das laterais das torres há grandes seções cortadas criando espaços de terraços e varandas que dão a cada andar vários pontos de acesso ao ar livre. O objetivo do concurso de design do projeto era criar uma estrutura que se integrasse à cidade A sua volta e, ao mesmo tempo, fomentasse um relacionamento com a natureza. 

Essas partes recortadas da fachada são uma versão mais útil das comodidades ousadas incorporadas às sedes de tecnologia do passado. Scheeren as chama de “espinha dorsal social” das torres, que estão em construção e devem ser inauguradas em 2026.

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O OPOSTO DA TECNOLOGIA

Outro projeto futuro é a sede da Tencent, o conglomerado de tecnologia por trás do WeChat e de franquias famosas de games. Cerca de duas vezes maior do que o campus da Apple em Cupertino, na Califórnia, a nova sede da Tencent será um anel de torres que convergem em uma base central no topo de um parque.

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A construção inclui espaços de colaboração, um centro de conferências, praças públicas, um clube de bem-estar e uma variedade de espaços recreativos para funcionários e para o público. Cobrindo cerca de 465 mil metros quadrados, é um megaempreendimento que visa se tornar um novo centro urbano na cidade. A construção começará no final deste ano.

Dentro do anel de quatro torres, ao qual Scheeren se refere como "o vórtice", surgirá um novo tipo de área de trabalho, com uma mistura de áreas de colaboração informal, terraços e parques ao ar livre, além de espaços para lojas e de hospitalidade semelhantes aos da cidade para reuniões na hora do almoço ou apenas para dar um tempo do ambiente formal dos escritórios nas torres acima. 

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"A eficiência das torres e do espaço de trabalho converge com um senso de conectividade com o solo. Todos os espaços sociais e a área central criam um espaço muito concentrado para colaboração e comunicação", diz Scheeren. "Isso funde as torres – formal e literalmente – mas também cria um senso de união."

Nos projetos de empresas de tecnologia que seu escritório está projetando na China e em toda a Ásia, Scheeren diz que a combinação de espaços – escritórios formais, áreas de reuniões informais, distritos de comércio urbano, praças públicas, natureza – está definindo um novo padrão para imóveis comerciais que pode ser relevante até fora da Ásia. 

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"Os fundamentos dessas ideias são totalmente aplicáveis e pertinentes em nível global", diz ele. Assim como as sedes "divertidas" dos tempos de expansão do Vale do Silício, essa classe emergente de sedes de empresas de tecnologia tem tudo para estabelecer um novo padrão para as formas de trabalho do setor.


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais