A “cultura brother” ressurge com força – e as mulheres partem para a luta

Mulheres de diferentes setores estão se posicionando contra o pedido de Mark Zuckerberg por mais “energia masculina” nas empresas

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Lisa Rabasca Roepe 4 minutos de leitura

Em uma entrevista com o comediante de stand-up norte-americano Joe Rogan, no mês passado, Mark Zuckerberg declarou que gostaria que as empresas abraçassem mais a “energia masculina”. O fundador da Meta  ainda afirmou: “uma cultura que celebra mais a agressividade tem seus méritos”. Um tipo de "cultura brother".

Parece que ele se esqueceu do fato de que a Meta se tornou uma das empresas mais lucrativas do mundo quando a COO Sheryl Sandberg comandava as operações diárias. Ou do fato de que Sandberg incentivava as mulheres a "se jogar" ao buscar papéis de liderança e aproveitar as oportunidades, criando uma comunidade global dedicada a promover liderança, avanço e inclusão das mulheres no mercado de trabalho.

“Quando um CEO tão poderoso, e que tem plataformas que quase metade da população mundial usa, diz algo assim, independentemente das intenções e dos conceitos dele, há todo um olhar sobre o viés individual e sobre como isso será percebido”, diz Samantha Katz, fundadora da consultoria de negócios Actual Markets LLC.

Antes mesmo dos comentários de Zuckerberg sobre a energia masculina, as mulheres já estavam percebendo um ressurgimento da "cultura brother" no ambiente de trabalho. Líderes homens já nem disfarçam que estão incomodados com o fato de não poderem mais discutir certos temas ou fazer certas piadinhas, diz Alma Derricks, fundadora e sócia-gerente da consultoria de negócios REV.

“O comentário de Zuckerberg foi uma tentativa de calar qualquer reclamação sobre a qualidade do ambiente de trabalho”, opina Derricks. “Falar sobre saúde mental, bem-estar e equilíbrio é visto como fraqueza mental e não tem lugar no ambiente profissional.”

Veja a seguir algumas maneiras como as mulheres podem se posicionar contra a energia masculina tóxica de chefes e colegas.

Não afaste aliados

Cuidado para não afastar possíveis aliados homens confundindo a "cultura brother” com comportamentos verdadeiramente tóxicos e masoquistas, alerta Eliza VanVanCort, autora de "A Women’s Guide to Claiming Space" (O Guia da Mulher para Conquistar Seu Espaço).

Líderes homens já nem disfarçam que estão incomodados com o fato de não poderem mais fazer certas piadinhas.

“Quando dizemos ‘os homens estão fazendo isso’, estamos excluindo uma parte da população que poderia ser aliada. Só que, neste momento, já que nossas vozes não estão sendo ouvidas, precisamos de todo aliado possível”, ela explica. Alguém pode ser homem e ainda assim acreditar em equidade, justiça e inclusão.

“Acho que o problema de chamar isso de ‘cultura brother’ é que passa a mensagem para os  homens mais novos de que ser um brother significa ser um agressor”, diz VanCort. Em vez de chamar de “cultura brother”, ela recomenda destacar comportamentos agressivos e dominadores masculinos quando você os identifica.

Pergunte "O que você quis dizer com isso?"

A forma mais fácil de combater uma microagressão é perguntando “o que você quer dizer com isso?” Por exemplo, quando uma das clientes de VanCort foi reconhecida pelos lucros que trouxe para a empresa, o chefe dela disse, na frente de todos os colegas homens: “estamos tão orgulhosos de você. Você fez tanto dinheiro no último trimestre, espero que não tenha gastado tudo em bolsas novas.”

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Em vez de cair na provocação e ficar irritada, a cliente simplesmente disse: “o que você quer dizer com isso?” O chefe gaguejou e respondeu: “Ah, você sabe, é só uma piada. Mulher gosta dessas bolsas caras.” E ela respondeu: “Então, você acharia engraçado se eu gastasse todo meu dinheiro em uma bolsa nova?”, um colega homem interveio e disse ao chefe que o comentário dele não era engraçado.

“Quando você aponta uma microagressão fazendo uma pergunta, é mais difícil ser acusada de sensibilidade excessiva ou de exagero”, diz VanCort.

Não seja cúmplice da "cultura brother"

As mulheres frequentemente são orientadas a se defender mutuamente nas reuniões. Mas isso pode ser difícil, especialmente se você e sua colega não tiverem discutido um plano de apoio mútuo. Sua resposta ao comportamento tóxico durante uma reunião não precisa ser algo profundo. Basta responder com um simples “hã?”.

Alguém pode ser homem e ainda assim acreditar em equidade, justiça e inclusão.

Os agressores dependem de que todos ao redor sejam cúmplices quando ouvem comentários passivo-agressivos ou presenciam microagressões. “Ao dizer ‘hã?’, você está muito sutilmente dizendo: ‘não vou te acompanhar nesse comportamento, querido’”, diz VanCort.

Use seu poder de compra

Uma das formas mais fáceis de contrabalançar a energia masculina é usando seu poder de compra. As mulheres controlam 85% dos gastos domésticos, segundo o TechCrunch.. “Nós decidimos onde compramos nossos carros, compramos as roupas dos nossos filhos, decidimos aonde vamos nas férias”, diz Allison Venditti, CEO e fundadora da  Moms at Work.

Ela está incentiva as mulheres a cancelar suas contas da Amazon depois que a empresa diminuiu seus programas de diversidade, equidade e inclusão, e a parar de comprar de empresas que estão reduzindo seus programas de DEI. O recado é simples: “se não está defendendo as mulheres, por que eu compraria algo de você?”.


SOBRE A AUTORA

Lisa Rabasca Roepe escreve sobre tecnologia e mulheres no trabalho. saiba mais