A geração Z não é como as gerações anteriores. E isso é muito bom para eles

Eles não são como você era aos 22 anos. E talvez seja justamente disso que o mundo do trabalho precisa

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Jeff Leblanc 4 minutos de leitura

Com frequência, surge alguém com uma opinião enfática: “a geração Z não é tão diferente assim. É só dar um tempo que eles se adaptam, como todas as outras gerações”.

Esse tipo de argumento costuma tranquilizar – especialmente quem ajudou a construir o sistema no qual espera que a geração Z se encaixe. Mas, depois de anos ensinando jovens dessa geração, estudando seus valores e ouvindo o que esperam do trabalho e da liderança, posso afirmar com certeza: a situação é bem mais complexa. E ignorar isso talvez seja o maior erro de liderança atual.

A geração Z não cresceu no mesmo mundo que seus gestores. Cada geração encara desafios únicos – e são esses desafios que moldam diferentes expectativas, reações e maneiras de enxergar o mundo. No caso da geração Z, a lista inclui ansiedade climática, polarização política, isolamento da pandemia e instabilidade econômica.

Eles viram instituições ruírem diante de seus olhos. Foram criados em uma realidade de regras que mudam constantemente, com ambientes de trabalho que nem sempre valorizam a lealdade e onde o sucesso parece depender da capacidade de suportar o estresse.

O QUE A GERAÇÃO Z REALMENTE BUSCA

Quando esses jovens entram no mercado de trabalho, eles não tentam se encaixar. Eles buscam clareza. Buscam justiça. E querem líderes coerentes. Em uma pesquisa com 175 universitários da geração Z, entre 18 e 21 anos, perguntei: que qualidades você mais valoriza em um líder? O que te faz sentir engajado no trabalho?

As respostas não foram extremas. Foram realistas, humanas e surpreendentemente sensatas. Aqui estão as 10 mais citadas:

  1. Organização: expectativas claras e liderança bem estruturada
  2. Respeito: tratamento justo e valorização das opiniões individuais
  3. Comunicação: feedback sincero e transparência
  4. Atitude positiva: apoio e incentivo no dia a dia
  5. Acessibilidade: líderes com quem se possa conversar de forma aberta
  6. Flexibilidade: autonomia para decidir como e quando trabalhar
  7. Salário justo: remuneração transparente e proporcional
  8. Responsabilidade: líderes que assumem seus erros
  9. Confiança: segurança nas decisões da liderança
  10. Reconhecimento: valorização do esforço e das contribuições

O mais interessante não foi o conteúdo das respostas, mas a simplicidade delas. A geração Z não espera perfeição. Eles pedem o que muitos já pediram antes – a diferença é que não aceitam tão facilmente quando isso não é entregue.

Eles não estão desinteressados. Estão mais criteriosos. E isso faz toda a diferença.

A IMPORTÂNCIA DA EMPATIA

Em conversas com executivos, escuto com frequência frases como “eles não querem pagar o preço”, “questionam tudo”, “desistem fácil”. Mas, ao conversar com jovens da geração Z, ouço algo bem diferente: “quero entender o porquê”, “preciso de um chefe com quem eu possa dialogar”, “se me sinto invisível, prefiro sair”.

A geração Z não é frágil. É focada. Eles não têm medo de trabalhar duro, apenas não aceitam fazer isso em ambientes que os tratem como engrenagens com diploma. Querem ambientes que estejam alinhados aos seus valores: justiça, flexibilidade e a simples – porém ousada – ideia de que pessoas devem ser tratadas como pessoas.

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Quando não encontram isso, seguem em frente. Não por arrogância, mas por autopreservação. Porque aprenderam, muitas vezes da pior maneira, que nenhum emprego vale sua dignidade. E não enxergam o burnout como algo a se orgulhar.

É aí que entra a empatia. Mas não aquela empatia performática, na qual a empresa promove uma palestra sobre mindfulness no almoço e manda e-mails ríspidos no fim do dia. Falo de uma empatia real, que se revela na forma como líderes se comunicam, assumem responsabilidades e cumprem o que prometem.

Os jovens da geração z foram criados em uma realidade de regras que mudam constantemente.

Não se trata de “ser legal”. É sobre ser firme. E essa é a diferença entre um chefe que só cobra tarefas e um líder que conquista confiança.

Gosto de chamar isso de “empatia engajada” – um tipo de liderança que escuta, se adapta, sabe ser firme quando necessário, mas que nunca esquece que está lidando com pessoas. Não é sobre mimar ninguém. É sobre remover incertezas do ambiente de trabalho e construir confiança, dia após dia, conversa após conversa.

Em algum momento, liderança passou a ser confundida com autoritarismo. Mas a geração Z não responde a isso. Eles respondem à consistência, transparência e, sim, gentileza. Os melhores líderes que já conheci não precisam fingir força – eles transmitem segurança.

UMA GERAÇÃO QUE TRAÇA O PRÓPRIO CAMINHO

Tenho pensado bastante sobre isso: a geração Z não está esperando que alguém diga como devem ser. Eles estão escolhendo por si mesmos o que vale a pena incorporar. E isso não é sinal de fraqueza – é sinal de autonomia.

É fácil compará-los a quem éramos aos 22 anos e dizer “uma hora eles aprendem”. Mas a verdade é que eles cresceram em um mundo diferente. Natural que enxerguem as coisas de outra forma. Isso não é uma ameaça ao que já existe – é um convite à transformação.

Quando o ambiente de trabalho evolui junto com esse olhar, todos ganham. O burnout diminui. A retenção aumenta. As culturas corporativas se tornam mais conscientes, mais humanas. E a liderança deixa de ser algo que se tolera e passa a ser algo que se quer seguir. Quem não gostaria disso?

Então, não – eles não são como você era aos 22. E tudo bem. Na verdade, talvez seja justamente disso que o mundo do trabalho precisa.


SOBRE O AUTOR

Jeff LeBlanc é professor na Universidade Bentley e criador do Modelo de Liderança com Empatia Engajada (EELM), que foca em estratégias... saiba mais