A geração Z não é como as gerações anteriores. E isso é muito bom para eles
Eles não são como você era aos 22 anos. E talvez seja justamente disso que o mundo do trabalho precisa

Com frequência, surge alguém com uma opinião enfática: “a geração Z não é tão diferente assim. É só dar um tempo que eles se adaptam, como todas as outras gerações”.
Esse tipo de argumento costuma tranquilizar – especialmente quem ajudou a construir o sistema no qual espera que a geração Z se encaixe. Mas, depois de anos ensinando jovens dessa geração, estudando seus valores e ouvindo o que esperam do trabalho e da liderança, posso afirmar com certeza: a situação é bem mais complexa. E ignorar isso talvez seja o maior erro de liderança atual.
A geração Z não cresceu no mesmo mundo que seus gestores. Cada geração encara desafios únicos – e são esses desafios que moldam diferentes expectativas, reações e maneiras de enxergar o mundo. No caso da geração Z, a lista inclui ansiedade climática, polarização política, isolamento da pandemia e instabilidade econômica.
Eles viram instituições ruírem diante de seus olhos. Foram criados em uma realidade de regras que mudam constantemente, com ambientes de trabalho que nem sempre valorizam a lealdade e onde o sucesso parece depender da capacidade de suportar o estresse.
O QUE A GERAÇÃO Z REALMENTE BUSCA
Quando esses jovens entram no mercado de trabalho, eles não tentam se encaixar. Eles buscam clareza. Buscam justiça. E querem líderes coerentes. Em uma pesquisa com 175 universitários da geração Z, entre 18 e 21 anos, perguntei: que qualidades você mais valoriza em um líder? O que te faz sentir engajado no trabalho?
As respostas não foram extremas. Foram realistas, humanas e surpreendentemente sensatas. Aqui estão as 10 mais citadas:
- Organização: expectativas claras e liderança bem estruturada
- Respeito: tratamento justo e valorização das opiniões individuais
- Comunicação: feedback sincero e transparência
- Atitude positiva: apoio e incentivo no dia a dia
- Acessibilidade: líderes com quem se possa conversar de forma aberta
- Flexibilidade: autonomia para decidir como e quando trabalhar
- Salário justo: remuneração transparente e proporcional
- Responsabilidade: líderes que assumem seus erros
- Confiança: segurança nas decisões da liderança
- Reconhecimento: valorização do esforço e das contribuições
O mais interessante não foi o conteúdo das respostas, mas a simplicidade delas. A geração Z não espera perfeição. Eles pedem o que muitos já pediram antes – a diferença é que não aceitam tão facilmente quando isso não é entregue.
Eles não estão desinteressados. Estão mais criteriosos. E isso faz toda a diferença.
A IMPORTÂNCIA DA EMPATIA
Em conversas com executivos, escuto com frequência frases como “eles não querem pagar o preço”, “questionam tudo”, “desistem fácil”. Mas, ao conversar com jovens da geração Z, ouço algo bem diferente: “quero entender o porquê”, “preciso de um chefe com quem eu possa dialogar”, “se me sinto invisível, prefiro sair”.
A geração Z não é frágil. É focada. Eles não têm medo de trabalhar duro, apenas não aceitam fazer isso em ambientes que os tratem como engrenagens com diploma. Querem ambientes que estejam alinhados aos seus valores: justiça, flexibilidade e a simples – porém ousada – ideia de que pessoas devem ser tratadas como pessoas.

Quando não encontram isso, seguem em frente. Não por arrogância, mas por autopreservação. Porque aprenderam, muitas vezes da pior maneira, que nenhum emprego vale sua dignidade. E não enxergam o burnout como algo a se orgulhar.
É aí que entra a empatia. Mas não aquela empatia performática, na qual a empresa promove uma palestra sobre mindfulness no almoço e manda e-mails ríspidos no fim do dia. Falo de uma empatia real, que se revela na forma como líderes se comunicam, assumem responsabilidades e cumprem o que prometem.
Os jovens da geração z foram criados em uma realidade de regras que mudam constantemente.
Não se trata de “ser legal”. É sobre ser firme. E essa é a diferença entre um chefe que só cobra tarefas e um líder que conquista confiança.
Gosto de chamar isso de “empatia engajada” – um tipo de liderança que escuta, se adapta, sabe ser firme quando necessário, mas que nunca esquece que está lidando com pessoas. Não é sobre mimar ninguém. É sobre remover incertezas do ambiente de trabalho e construir confiança, dia após dia, conversa após conversa.
Em algum momento, liderança passou a ser confundida com autoritarismo. Mas a geração Z não responde a isso. Eles respondem à consistência, transparência e, sim, gentileza. Os melhores líderes que já conheci não precisam fingir força – eles transmitem segurança.
UMA GERAÇÃO QUE TRAÇA O PRÓPRIO CAMINHO
Tenho pensado bastante sobre isso: a geração Z não está esperando que alguém diga como devem ser. Eles estão escolhendo por si mesmos o que vale a pena incorporar. E isso não é sinal de fraqueza – é sinal de autonomia.
É fácil compará-los a quem éramos aos 22 anos e dizer “uma hora eles aprendem”. Mas a verdade é que eles cresceram em um mundo diferente. Natural que enxerguem as coisas de outra forma. Isso não é uma ameaça ao que já existe – é um convite à transformação.
Quando o ambiente de trabalho evolui junto com esse olhar, todos ganham. O burnout diminui. A retenção aumenta. As culturas corporativas se tornam mais conscientes, mais humanas. E a liderança deixa de ser algo que se tolera e passa a ser algo que se quer seguir. Quem não gostaria disso?
Então, não – eles não são como você era aos 22. E tudo bem. Na verdade, talvez seja justamente disso que o mundo do trabalho precisa.