A preguiça sem culpa pode ajudar você a ser mais criativo – e feliz
Em um mundo marcado pela hiperestimulação, a preguiça deve ser celebrada e praticada
Desde os seus primórdios, a humanidade tenta guardar energia para aquilo que realmente importa – como caçar, afastar predadores ou encontrar abrigo. Milhares de anos atrás, um dia comum incluía longos períodos de descanso e de inatividade, seguidos de ações imediatas e urgentes para garantir que as necessidades vitais fossem atendidas.
Hoje, nossas vidas (e famílias, e chefes, e telefones) exigem ação imediata e urgente a cada minuto. Temos acesso a tudo o tempo todo – e tudo tem acesso a nós o tempo todo. Não preciso nem dizer o quanto isso é cansativo, especialmente porque estamos condicionamos a achar que é normal.
Nossos ancestrais, com certeza, não ficavam buscando doses de dopamina no Instagram.
Mas não é. O esgotamento que muitos de nós sentimos hoje é resultado da hiperestimulação e do estresse crônicos, um gasto de energia constante e insustentável.
Como humanos, fomos projetados para ter períodos de descanso, para que tenhamos energia para responder e reagir quando realmente importa. Embora os tempos tenham mudado, nossos princípios de economia de energia permanecem os mesmos.
Só que nos deparamos com a realidade de que vivemos em um mundo tecnológico. Ninguém vai jogar fora seu smartphone (ainda). Afinal, ignorar um e-mail do chefe pode, de fato, ter consequências graves. E a possibilidade de fazer uma videochamada com os avós que moram longe é uma bela conquista deste novo mundo em que vivemos.
UMA ODE À PREGUIÇA
Ao mesmo tempo em que sabemos que precisamos descansar, somos obrigados a viver em um mundo moderno e digital. O movimento de autocuidado dos últimos anos nos levou a acreditar que um banho quente ou uma sessão de meditação seria o suficiente para reestabelecer nosso equilíbrio. Mas o autocuidado acabou virando mais um ítem na lista de tarefas a cumprir.
Como podemos garantir que temos o descanso de que precisamos? Como evitar o excesso de estímulos e o esgotamento que rapidamente estão se tornando a característica definidora da sociedade ocidental? A resposta é apostar em uma mudança de mentalidade alegremente contrária à nossa ética atual.
É hora de abraçar a preguiça.
Não se trata de encarar o autocuidado como apenas mais um item da lista de tarefas. Não basta termos outras distrações que nos entorpecem rápida e seletivamente do estresse constante da vida diária.
Precisamos urgentemente abraçar a preguiça e recuperar os intervalos que nossos ancestrais tinham entre a caça e a coleta – porque eles, com certeza, não ficavam buscando doses de dopamina no Instagram. Eu diria que, neste estágio da vida contemporânea, precisamos ser diretos e honestos com a gente mesmo e uns com os outros, e perguntar: como podemos exercitar a preguiça?
COMO SER PREGUIÇOSO
Qualquer pessoa criativa dirá que as melhores ideias surgem no chuveiro, exatamente quando não está pensando no trabalho. Qualquer pai reconhecerá que os momentos mais bonitos de conexão com seus filhos são aqueles espontâneos e sem pressa.
fomos projetados para ter períodos de descanso, para que tenhamos energia para responder e reagir quando realmente importa.
Criatividade, conexão interpessoal e diversão dependem de uma coisa para nascer: espaço. Hoje, a única maneira de criar esse espaço é sendo intencionalmente preguiçoso.
É hora de nos apropriarmos das ferramentas do nosso mundo digital e usá-las em prol desse objetivo. Automatize as tarefas que desperdiçam tempo. Desligue o telefone sempre que puder. Faça uma caminhada lenta e sem destino certo. Sente-se no sofá. Rejeite as tarefas que te sobrecarregam. Não “faça uma pausa”, apenas. Tente conscientemente ser preguiçoso.
A criatividade, o espaço e as oportunidades que surgem como resultado dessa desaceleração vão te surpreender. E quando você precisar retornar à sua vida para caçar, coletar e produzir, fará tudo melhor. Mais focado. Mais motivado. Mais presente.
É hora de inverter a lógica de um mundo que nos diz que a produtividade é e deve ser nosso maior valor e que qualquer coisa diferente disso é ruim. Para esse sistema, eu digo não.
A preguiça é boa.