Aprenda a enfrentar os silêncios constrangedores no trabalho

Muitos acham o silêncio uma coisa embaraçosa. Mas adotá-lo no ambiente de trabalho pode trazer vantagens reais

Crédito: Fast Company Brasil

Stephanie Vozza 4 minutos de leitura

O silêncio pode ser de ouro, mas também pode incomodar. Neste mundo tão barulhento, longas pausas silenciosas levam muita gente a surtar, tentando preencher o vazio. Mas e se, em vez de temer o silêncio, nós o abraçássemos? Essa é a sugestão de Justin Zorn e Leigh Marz, autores de "Golden: The Power of Silence in a World of Noise" (Ouro: o Poder do Silêncio em um Mundo Barulhento).

“Quer estejamos falando do ruído auditivo, mensurável nos decibéis que chegam aos ouvidos, quer estejamos nos referindo à proliferação em massa de informações disponíveis, o ruído gera mais ruído”, diz Marz. “Como se não bastasse, lidamos com nosso monólogo interno, com a preocupação, a ruminação e o planejamento para o futuro. Confundimos esse estresse e barulho com vivacidade.”

Em um estudo de 2014 na Universidade da Virgínia, alunos de graduação foram deixados sozinhos em uma sala sem celulares ou entretenimento. Durante 15 minutos, eles tiveram a opção de se sentar em silêncio ou apertar um botão que administraria um choque elétrico doloroso. Dois terços dos homens e 25% das mulheres optaram por se dar um choque como forma de estimulação, em vez de ficar sentado em silêncio, sem nada para fazer.

“O silêncio desconfortável é um problema real”, diz Zorn. “Quando está cara a cara com outra pessoa ou com um grupo de pessoas, você enfrenta aquilo que Nietzsche chamou de ‘horror do vácuo’ nesse intervalo sem nada a dizer.”

Nossa sociedade e nossa vida comunitária estão programadas para o máximo de barulho possível.

Zorn e Marz destacam que todo o nosso sistema econômico está ligado ao ruído máximo.

“É a maneira como medimos o PIB”, diz Zorn. “Uma floresta intocada não em nada para o PIB, a menos que seja cortada e a madeira, vendida. O mesmo acontece com a atenção. Momentos de consciência tranquila e intocada, como uma caminhada na floresta ou o tempo com seus filhos não contam como positivas para o PIB. Nossa sociedade e nossa vida comunitária estão programadas para o máximo de barulho possível.”

No entanto, o silêncio não precisa ser uma atividade solene e solitária, de acordo com Marz, que observa: “nós, como sociedade, usamos o silêncio e o honramos em cerimônias, marcos e eventos culturais. Queremos trazer isso de volta ao primeiro plano de nossa experiência de estarmos juntos.”

REESTABELEÇA AS NORMAS

Ironicamente, encontrar conforto com o silêncio no local de trabalho começa com mais conversas.

“É dar uma olhada em nossas normas”, explica Zorn. “Como tratamos distrações barulhentas como um grupo, enquanto trabalhamos? Muitas vezes, há uma expectativa de interrupção constante, seja por e-mails ou notificações. As baias abertas ou escritórios sem divisões físicas geralmente agravam esses problemas.”

Os autores sugerem tentar um antigo princípio estético japonês chamado Ma. “Ma significa espaço vazio e negativo”, explica Zorn. “Ma também significa pura potencialidade. No trabalho, isso significaria reverenciar os espaços abertos, honrá-los e construí-los.”

Precisamos de Ma no trabalho, para que tenhamos capacidade de ouvir.

Ma pode ser físico, como ter espaços vazios em edifícios que proporcionam uma sensação de calma e clareza. Também pode significar adicionar espaço ao seu dia, como deixar tempo livre entre as reuniões, em vez de agendar compromissos consecutivos. Ou pode ser reservar algum tempo para um trabalho profundo e pensativo.

“Precisamos de Ma no trabalho, para que tenhamos capacidade de ouvir”, diz Zorn.

USE O SILÊNCIO NAS REUNIÕES

Embora as sessões de brainstorming sejam geralmente muito barulhentas, também oferecem uma oportunidade perfeita para exercitar o silêncio. Zorn sugere adicionar um minuto ou dois de silêncio durante a reunião, permitindo que as pessoas pensem melhor antes de compartilhar ideias.

Ou então você pode criar uma sessão silenciosa de brainstorming com uma galeria de post-its onde as pessoas anotam suas ideias e as grudam em uma parede. Em seguida, os participantes podem examinar lentamente as ideias e votar na melhor.

Sessões silenciosas de brainstorming oferecem novas oportunidades para a inteligência ser percebida ou descoberta, o que pode ser especialmente benéfico para os funcionários mais introvertidos.

A experiência e o poder do silêncio crescem muito quando compartilhados.

“Normalmente, o brainstorming favorece a tirania dos mais rápidos e barulhentos”, diz Zorn. “Diminuir um pouco o volume ajuda a refletir e permite que as vozes mais baixas das equipes e grupos apareçam.”

USE SILÊNCIO DURANTE OS CONFLITOS

O silêncio também é uma força que pode equilibrar a raiva ou a tensão no trabalho. Se as pessoas estão ficando nervosas durante uma reunião, os autores sugerem pedir um período de silêncio coletivo. A pausa silenciosa pode ajudar os participantes a se concentrarem e se acalmarem antes de prosseguir.

“O silêncio não é para forçar uma resolução se o grupo não estiver pronto”, explica Zorn. “É simplesmente para garantir que as pessoas estejam presentes e ouvindo. O silêncio do grupo força todos a abandonar por um momento suas posições e argumentos verbalizados e se conectar à energia subjacente do espaço compartilhado.”

Seja durante uma reunião, um desentendimento ou uma sessão de trabalho profunda, sentar em silêncio pode exigir coragem, porque é mesmo desconfortável. “Precisamos aprender a ficar quietos juntos”, diz Zorn. “A experiência e o poder do silêncio crescem muito quando compartilhados.”


SOBRE A AUTORA

Stephanie Vozza escreve sobre produtividade e carreira na Fast Company. saiba mais