Até que ponto o esquema de trabalho com dois CEOs realmente funciona?
A divisão do poder do “executivo-chefe de tudo” por dois não é habitual, mas também tem seu valor
Na Exceptional Women Alliance (Aliança de Mulheres Excepcionais), incentivamos que mulheres de destaque profissional orientem umas às outras para alcançar a felicidade pessoal e na carreira, por meio da sororidade.
Como fundadora, presidente e CEO dessa organização sem fins lucrativos, tenho a honra de entrevistar e compartilhar as percepções de líderes com ideias inovadoras que fazem parte do nosso programa de orientação entre pares.
Desta vez, apresento Sally Drexler, consultora de contratação de executivos e conselheira de talentos muito respeitada. Ela faz parcerias com CEOs e diretorias das maiores empresas do mundo para enfrentar desafios comerciais complexos, recrutando e treinando os melhores talentos.
A força única de Sally reside em sua capacidade de entender rapidamente o que motiva as pessoas e combinar isso com ambientes onde possam prosperar e causar um impacto significativo.
EWA – O que está impulsionando a tendência dos co-CEOs?
Sally Drexler – Na arena dinâmica da liderança corporativa, o modelo de co-CEO pode oferecer uma alternativa atraente para as empresas que estão enfrentando as consequências da “grande onda de demissão de CEOs de 2023”.
Na esteira dessa reviravolta, o modelo tradicional de CEO foi revisado e adaptado para enfrentar os desafios contemporâneos, como o aumento do burnout e do desgaste, as tecnologias emergentes de IA e uma economia global imprevisível.
Ao mesmo tempo, os líderes estão sendo solicitados a cobrir funções adicionais, navegar pela disrupção e atuar como figuras públicas e sociais. A função de CEO tornou-se muito mais complexa e isolada do que era há 20 anos.
Nesse contexto, a co-liderança oferece uma oportunidade para que cada co-CEO utilize seus pontos fortes e atenda de forma colaborativa às necessidades comerciais do futuro.
EWA – Quais fatores contribuem para o sucesso ou fracasso do modelo de co-liderança?
Sally Drexler – A adequação de um modelo de co-CEO varia de empresa para empresa e pode ser bastante sutil. O modelo de co-CEO está alinhado com seus objetivos estratégicos, valores corporativos e expectativas das partes interessadas?
Dependendo do ciclo de vida de uma empresa, algumas migrarão para um modelo de co-CEO, enquanto, em outros momentos, procurarão se desfazer dele. Por exemplo, quando o UBS adquiriu o Credit Suisse, a integração levou a uma mudança para um único CEO, visando uma liderança unificada.
O sucesso do modelo de co-CEO vai depender da seleção de profissionais com pontos fortes complementares e de uma química harmoniosa. Muitas vezes, um deles pode atuar como líder comercial e visionário e ser o rosto da empresa, enquanto o outro atua como líder operacional, gerenciando as operações do dia a dia e mantendo as partes interessadas satisfeitas.
EWA – Onde você já viu uma estrutura de co-CEO ser bem-sucedida e onde ela fracassou?
Sally Drexler – Empresas como Netflix, KKR, Salesforce, SAP, Whole Foods, Fabletics, Chipotle e UBS tiveram sucesso e enfrentaram desafios com a co-liderança. A Netflix causou alvoroço em 2023, quando Greg Peters foi promovido a co-CEO ao lado de Ted Sarandos, sucedendo o cofundador da empresa, Reed Hastings, como co-CEOs.
Eles foram escolhidos a dedo por Hastings por suas habilidades e pontos fortes complementares em um períoco crítico de transição. Sua clara definição de escopo ajudou a simplificar as operações e alinhar a estratégia de crescimento, resultando em uma recuperação saudável da Netflix.
A entrada da geração Alfa no mercado de trabalho vai testar os modelos tradicionais de liderança.
Já a SAP e a Salesforce fizeram experiências com o modelo de co-CEO, mas acabaram por abandoná-lo. A SAP atribuiu a mudança à perturbação causada pela pandemia, alegando a necessidade de um único CEO para enfrentar desafios sem precedentes.
A Salesforce abandonou o modelo depois que dois co-CEOs se demitiram em um período de três anos, em meio a uma grande mudança de liderança e reestruturação da empresa. Da mesma forma, a Whole Foods e a Fabletics voltaram a adotar um modelo de CEO único durante períodos de rápido crescimento, que exigiam tomadas de decisão rápidas.
EWA – Como a geração Alfa vai influenciar a demanda ou a necessidade de liderança de co-CEOs?
Sally Drexler – A entrada da geração Alfa no mercado de trabalho, sem dúvida, vai testar os modelos tradicionais de liderança. Essa geração empreendedora e autoconfiante muitas vezes confunde as linhas entre a vida profissional e pessoal, exigindo transparência, acessibilidade, colaboração, propósito e autenticidade de seus líderes, independentemente da estrutura de liderança existente.
É provável que eles apreciem uma liderança compartilhada, que incorpore diferentes perspectivas e processos decisórios colaborativos, promovendo um ambiente de trabalho mais dinâmico e inclusivo, que se alinhe aos seus valores.