Avanço da IA ameaça mais os empregos de mulheres do que os de homens

Estudo da ONU alerta que as mulheres estão mais vulneráveis ao impacto da IA no mercado de trabalho, em especial nos países mais ricos

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Sarah Bregel 2 minutos de leitura

As mulheres correm maior risco de serem substituídas ou terem suas funções alteradas por inteligência artificial, segundo um novo estudo divulgado esta semana.

A pesquisa, conduzida em parceria pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), vinculada à ONU, e pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Polônia (NASK), mostra que ocupações predominantemente femininas – especialmente em países de renda mais alta – estão entre as mais suscetíveis à automação por IA generativa.

O estudo avaliou como a IA generativa está reformulando o mundo do trabalho e transformando o papel dos seres humanos nas atividades profissionais.

“Fomos além da teoria e desenvolvemos uma ferramenta baseada em empregos reais. Combinamos conhecimento humano, revisão de especialistas e modelos de IA para criar um método replicável que ajuda os países a avaliar riscos e agir com precisão”, afirmou Pawel Gmyrek, pesquisador da OIT e principal autor do relatório.

AVANÇO DA IA TRANSFORMAÇÃO DOS EMPREGOS

A análise aponta que cerca de uma em cada quatro pessoas no mundo ocupa hoje um cargo com exposição à IA generativa – ou seja, com potencial de ter tarefas desempenhadas por essas tecnologias. A disparidade de gênero, porém, é notável: empregos femininos com alto risco de substituição somam 9,6% do total, enquanto entre os homens esse percentual cai para 3,5%.

as mulheres estão mais presentes nas funções que estão sendo substituídas pela IA.

Funções administrativas, frequentemente ocupadas por mulheres em cargos de escritório, estão no topo da lista de risco. No entanto, setores como mídia, tecnologia e finanças também apresentam vulnerabilidade significativa à automação.

Ainda assim, os autores alertam que a substituição total de profissionais por IA não deve ser a regra. O mais comum será a reconfiguração das atividades desempenhadas por humanos.

“Destacamos que a exposição não significa a automação imediata de uma ocupação inteira, mas sim a possibilidade de que grande parte das tarefas atuais possa ser realizada com o uso dessa tecnologia”, explicam os pesquisadores.

O PAPEL DOS GOVERNOS E DA SOCIEDADE

A pesquisa reforça que governos, sindicatos e organizações de trabalhadores terão papel central na construção de um futuro do trabalho mais equilibrado diante do avanço da IA.

“Esse índice ajuda a identificar onde a IA generativa deve ter maior impacto, permitindo que os países se preparem melhor e protejam os trabalhadores”, afirma Marek Troszyński, especialista do NASK e coautor do estudo.

uma em cada quatro pessoas no mundo ocupa hoje um cargo com exposição à IA generativa.

O alerta, no entanto, não é inédito. Outro relatório, publicado em 2025 pelo Fórum Econômico Mundial em parceria com o LinkedIn, já havia indicado que a IA tende a aprofundar a desigualdade de gênero no mercado.

De acordo com o estudo, as mulheres estão menos presentes em funções sendo aprimoradas por IA e mais concentradas nas que estão sendo substituídas pela tecnologia. Atualmente, 33,7% das mulheres atuam em ocupações em processo de disrupção tecnológica, contra 25,5% dos homens.

A nova onda de transformação digital promete eficiência, mas impõe desafios urgentes – especialmente para mulheres que já enfrentam desigualdades estruturais no mercado de trabalho.


SOBRE A AUTORA

Sarah Bregel é uma escritora, editora e mãe solteira que mora em Baltimore, Maryland. Ela contribuiu para a nymag, The Washington Post... saiba mais