Barulhos que incomodam: por que muitos trabalhadores preferem a paz do home office

Crédito: Daria Durand/ @chairulfajar/ Franco Antonio Giovanella/ Unsplash

Tessa West 4 minutos de leitura

No início da pandemia, as pessoas pareciam ansiosas para voltar ao trabalho presencial e interagir com os colegas. Mas, agora, um número crescente daria qualquer coisa para voltar a trabalhar em casa para sempre.

As razões são muitas, mas uma delas é a diferença de decibéis. Para muitos, o lar é silencioso, mas os escritórios, embora ótimos para vida social, podem ser irritantemente barulhentos. 

Estou me referindo especificamente àquelas pessoas cujos pequenos hábitos diários são tão barulhentos que estar perto delas provoca a mesma irritação de quando se ouve a sirene de uma ambulância engarrafada ou um alarme de incêndio que dispara sem motivo.  

Existem personalidades que tendem a dominar os espaços auditivos e a esgotar nossa paciência com tentativas inoportunas de conexão social. Por exemplo, há gente que mastiga alto e suspira excessivamente. Ou que externaliza monólogos internos e lê em voz alta seus e-mails e mensagens, como se estivessem sozinhos em casa. Sempre com o volume do celular no máximo, também tem aqueles que deixam os avisos sonoros ligados, apitando a cada nova mensagem. Isso sem falar naquele colega que te segue até o banheiro com seus papos furados e prolixos.

Você sente culpa por reclamar dessas pessoas? Pois não deveria. As interrupções auditivas podem reduzir drasticamente a capacidade de fazer as coisas. Cabe a nós resolver o problema do colega que contribui para a poluição sonora. A seguir, trago algumas dicas que você pode usar para se antecipar aos aborrecimentos causados ​​pelo excesso de ruído no local de trabalho.

1. COMBINE REGRAS E COMPARTILHE-AS COM TODOS

Durante a pandemia, construímos nossos próprios pequenos ecossistemas auditivos. A maioria se acostumou com os sons de casa que inicialmente odiávamos: cães vizinhos latindo ou interfone tocando. E, admitindo isso ou não, você também deve ter desenvolvido alguns hábitos barulhentos (como escutar rock enquanto trabalha no Excel).

As interrupções auditivas podem reduzir drasticamente a capacidade de fazer as coisas.

Infelizmente, as preferências por sons e ruídos são idiossincráticas: o que parece som ambiente ou uma mera música de fundo para uma pessoa, soa como unhas arranhando um quadro-negro para outra. Esses ecossistemas geralmente não são levados em consideração no local de trabalho.

Não à toa, nossa tolerância aos ruídos de outras pessoas no trabalho é muito pequena. Da mesma forma, nem sempre temos a capacidade de policiar os ruídos que fazemos. Antes da pandemia, normas implícitas orientavam o comportamento no trabalho. Ninguém precisava dizer: “pare de falar no telefone com sua mãe enquanto você está no banheiro”. Isso estava subentendido.

Agora que estamos sem prática, precisamos reconstruir nossas normas tijolo por tijolo, começando por declarar explicitamente o que costumava ser implícito. Comece publicando algumas regras acordadas pela maioria e que abordem a poluição sonora de baixo nível, com a qual todos contribuímos. 

Ser curto e grosso funciona melhor nesses casos:

“Precisa fazer uma ligação pessoal? Saia do escritório, por favor.”

“Por favor, mantenha seus alertas de mensagens no modo silencioso enquanto estiver no escritório.”

“Ama ouvir música no trabalho? Excelente! Traga e use sempre fones de ouvido.”

Sim, essas regras parecem bobas. Mas a história da criação de regras nos ensinou que tudo o que precisamos é da ajuda de algumas pessoas queridas por todos para promover e reforçar bons comportamentos no trabalho. Por exemplo, imagine que um colega admirado por todos mande um e-mail curto, dizendo: “Estou feliz por estar de volta, mas acho que falo em nome de todos quando peço que as conversas com amigos ou familiares sejam feitas em particular”. Esse é o tipo de exemplo que pode mudar os hábitos coletivos. 

2. DÊ UM TOQUE NO COLEGA QUE NÃO PARA DE FALAR

Formar conexões sociais no trabalho é fundamental para nossa felicidade, mas não quando ela interrompe várias vezes o fluxo de pensamento. Além disso, pessoas empáticas costumam ficar constrangidas na hora de reclamar desse tipo de perturbação. Elas acabam fugindo ou cedendo, em vez de abordar o problema de frente.

escolha um colega de trabalho e, pelo menos uma vez por dia, pergunte : “estou falando muito alto?”

A única estratégia que funciona é aquela bem pensada. Não é uma questão de se você gosta ou não de conversar com aquele colega, mas sim de quando é o melhor momento. Programe o bate-papo para um horário que não atrapalhe sua produtividade. Dizer: “mal posso esperar para ouvir essa história no happy hour” é muito mais suave do que dizer “dá pra parar de falar um pouco?”.

3. PROGRAME-SE EM FUNÇÃO DE SEU HORÁRIO MAIS PRODUTIVO

A maioria planeja produzir mais nas “horas inteligentes” – momentos do dia em que estamos mais focados e menos desgastados. Pessoas eficientes constroem seus horários em torno dessas horas. Mas com que frequência incluímos a poluição sonora na equação? Provavelmente, nunca.

O ruído indesejado afeta a atenção seletiva e prejudica o desempenho cognitivo. Em outras palavras, afeta a capacidade de pensar. Identifique os horários do dia em que o escritório fica mais silencioso (ou mais barulhento, se essa for a sua vibe). Localize os espaços que você pode ocupar confortavelmente durante esses horários e programe-os em sua rotina semanal.

Não podemos evitar totalmente a poluição sonora no trabalho, mas temos como contorná-la e encontrar maneiras de reduzir seus efeitos sobre nós e sobre aqueles à nossa volta. Se você nunca fez isso, escolha um colega de trabalho e, pelo menos uma vez por dia, pergunte: “estou falando muito alto?”


SOBRE A AUTORA

Tessa West é professora associada de psicologia na Universidade de Nova York e autora de "Jerks at Work: Toxic Coworkers and What to d... saiba mais