Burnout é ruim, mas tédio no trabalho também é. Veja os sintomas
O que acontece quando os trabalhadores sentem um tédio constante e falta de propósito na carreira
Não basta se preocupar apenas com o risco de burnout. Também é importante pensar: será que você corre o risco de estar se sentindo entediado com seu trabalho?
O estresse e o esgotamento dos funcionários estão atingindo níveis recordes. De acordo com a Gallup, um em cada quatro funcionários dos EUA sofre de esgotamento no trabalho “muito frequentemente” ou “sempre”. Mas e se o tédio for uma ameaça ainda maior à produtividade e ao bem-estar dos funcionários?
Há uma expressão em inglês para o sentimento crônico de estar meio “blé” no trabalho: "boreout". Isso ocorre quando alguém sente tédio constante e falta de propósito no trabalho.
O nome boreout foi dado pela primeira vez em 2007, no livro "Diagnose Boreout", dos coautores Peter Werder e Philippe Rothlin. De acordo com a pesquisa de Rothlin e Werder, o boreout tem três componentes: tédio, falta de desafios e falta de interesse profissional.
O tédio pode causar estresse, depressão, insônia e maior rotatividade. É um mal-estar psicológico que se tornou comum demais em uma era de reuniões intermináveis, e-mails sem sentido, burocracia e aquilo que o falecido antropólogo David Graeber chamou de “trabalhos de m*“.
Pior ainda, o tédio expõe as empresas à cultura de "isso não é problema meu", que reflete uma atitude de desculpas, acusações e complacência. O boreout, se ignorado, pode sabotar o desempenho e o bem-estar de uma equipe.
COMO LIDAR COM O BOREOUT
A epidemia de boreout é um alerta que exige que os líderes se preocupem com o propósito do trabalho de seus funcionários. Não é possível aproveitar novas oportunidades, resolver proativamente os pontos problemáticos dos clientes ou identificar oportunidades de melhoria com uma cultura de tédio.
Para lidar com o burnout, o paradigma atual dos líderes que preservam o status quo deve evoluir para um paradigma de desafiadores do status quo. Com muita frequência, criamos culturas que recompensam o trabalho burocrático e os KPIs orientados pela conformidade, mais do que o trabalho inteligente e os KBIs (indicadores-chave de comportamento) orientados pela coragem.
Essa estratégia de liderança é contraproducente, em especial quando as disrupções tecnológicas e da força de trabalho estão se multiplicando. Isso porque a melhor maneira de superar as forças da disrupção é criar ambientes no qual as pessoas possam abraçar a mudança (como os avanços da IA) como um vento a favor de um novo aprendizado, crescimento e trabalho significativo.
Precisamos de um novo modelo de liderança, mais adequado para a era da inteligência artificial, no qual as pessoas possam prosperar em culturas orientadas por valores e baseadas na confiança, oferecendo trabalho que combine crescimento, significado e habilidades ao longo da vida.
É hora de os líderes enfrentarem o boreout em suas organizações. O primeiro passo para isso é tratar do motivo número um do boreout: a burocracia.
REUNIÕES CHATAS
Um dos paradoxos mais irônicos da liderança é que a tecnologia muda rapidamente, mas os seres humanos, não. Como resultado, muitos líderes sofrem de uma falta de senso comum, com a burocracia superando a capacidade do cérebro humano de dar sentido a tudo, exacerbando o tédio.
O boreout, se ignorado, pode sabotar o desempenho e o bem-estar de uma equipe.
O tédio aumenta toda vez que nos esquecemos de desaprender os velhos costumes, seja participando de outra reunião zumbi na qual ideias mortas continuam vivas ou seguindo as práticas recomendadas que se tornaram inadequadas e as normas que se tornaram o substituto de como trabalhamos.
Um exemplo importante de burocracia é o enorme número de reuniões das quais esperamos que nossas equipes participem. Em 2016, os pesquisadores Rob Cross, Reb Rebele e Adam Grant descobriram que o tempo que as pessoas passam em reuniões aumentou 50% desde a década de 1990. Mais recentemente, a Microsoft descobriu que, desde 2020, os funcionários triplicaram o tempo que passam em reuniões.
O lado positivo é que reduzir o número de reuniões é uma maneira simples de diminuir o boreout e tornar as equipes mais produtivas.
DIGA NÃO AO BOREOUT
O boreout veio para ficar e os líderes que o ignorarem vão estar correndo risco. Com profissões inteiras ameaçadas pela automação e pelo deslocamento devido ao rápido avanço da IA, colocar nossa curiosidade para trabalhar é o único caminho a seguir.
Todos precisamos definir e demonstrar novas formas de trabalho que inspirem as pessoas a escolher a curiosidade (abraçar ideias que desafiam o status quo) em vez da conformidade (rejeitar ideias que desafiam o status quo).
Os líderes precisam criar ambientes de confiança, o que é essencial para evitar essa ameaça tão traiçoeira ao nosso bem-estar e sanidade: o tédio.