CEOs defendem a volta ao presencial para retomar a conexão entre as pessoas
Não é razoável esperar que as pessoas forçadas a voltar ao escritório façam uma transição fácil. Mas há motivos para apostar em um novo equilíbrio
Em pleno verão no hemisfério norte, o CEO da Farmers Insurance, Raul Vargas, chocou os 22 mil funcionários da empresa. Inesperadamente, ele reverteu a decisão de seu antecessor de permitir que a maioria trabalhasse permanentemente de casa.
As pessoas que já tinham vendido suas casas e se mudado para longe da sede da empresa ficaram indignadas com essa quebra de confiança – e com a expectativa de terem que voltar a frequentar o escritório três dias por semana a partir de setembro.
Resta saber o que os funcionários da Farmers farão antes que a nova política entre em vigor, no próximo mês. Será que vão procurar outro emprego? Ou vão obedecer, quer queiram, quer não? Até agora, muitos dos impactados não estão acreditando nas explicações dadas para justificar essa reviravolta.
De acordo com um porta-voz da Farmers, mobilizar as pessoas para voltar ao escritório tem como objetivo “promover maior colaboração, criatividade e inovação, ao mesmo tempo em que oferece melhores oportunidades de aprendizado, treinamento, orientação, desenvolvimento de carreira e interação orgânica”.
Mas pergunte a qualquer trabalhador que acredita que o experimento de três anos de home office casa foi um sucesso retumbante e ele dirá que o verdadeiro motivo pelo qual CEOs como Vargas querem pessoas de volta às suas baias é porque a liderança se recusa a se adaptar.
Para eles, os gerentes da velha guarda falharam em aprender como gerenciar resultados e acreditam, sem muito embasamento, que o retorno dos funcionários ao escritório trará melhor desempenho.
Em contrapartida, muitas empresas importantes parecem cada vez menos preocupadas com as opiniões, os protestos ou mesmo com as ameaças de pedido de demissão dos funcionários.
Várias delas estão se movimentando para acabar com o trabalho remoto em tempo integral. Amazon, Google e Meta exigiram que os funcionários comparecessem ao escritório três dias por semana. A BlackRock reduziu o trabalho remoto semanal para apenas um dia.
PESSOAS MAIS CONECTADAS SÃO MAIS FELIZES
Não é razoável esperar que as pessoas que se sentem forçadas a voltar ao escritório façam uma transição fácil – ou que não se sintam ressentidas e desmotivadas quando voltarem a experimentar uma rotina que pensavam ter ficado para trás.
Mas, se há um fio de esperança para qualquer um de nós que se irrita com a ideia de que estão acabando ou limitando o trabalho remoto, é que a conexão humana presencial melhora o bem-estar pessoal.
Uma das grandes conclusões do estudo de Harvard é que a “aptidão social” é a chave para a saúde mental, física e para a longevidade.
Em 1938, a Universidade de Harvard iniciou o que se tornou o mais longo estudo aprofundado da vida humana já feito. Durante quase 85 anos, o Harvard Study of Adult Development acompanhou as mesmas pessoas e seus descendentes, fazendo milhares de perguntas e realizando centenas de medições, para descobrir o que mantém as pessoas saudáveis e felizes.
Em sua essência, o estudo de Harvard ressalta a importância das conexões humanas. Descobriu-se que as pessoas mais conectadas à família, aos amigos e à comunidade são mais felizes e fisicamente mais saudáveis do que as menos conectadas. Pessoas solitárias têm vidas mais curtas.
Em seu livro "The Good Life: Lessons From the World’s Longest Scientific Study of Happiness" (A boa vida: lições do mais longo estudo científico do mundo sobre a felicidade”, em tradução livre), os professores e diretores do estudo da Harvard Medical School, Robert Waldinger e Marc Schulz, reforçam que os humanos nasceram para se conectar com outras pessoas.
“A simples medida de tempo gasto com outras pessoas no dia a dia está claramente ligada à felicidade e ao florescimento pessoal”, escrevem eles. De acordo com Waldinger e Schulz, há um vasto novo corpo de pesquisa que mostra que a relação entre saúde e conexão social remonta à origem de nossa espécie. Sempre precisaremos de amor, conexão e de um sentimento de pertencimento para prosperar.
CONSTRUINDO RELACIONAMENTOS
No livro, os autores reconhecem que a oportunidade de trabalhar remotamente tem muitos efeitos positivos. Ela proporciona maior flexibilidade e mais contato das pessoas com suas famílias. Beneficia os pais que trabalham e praticamente elimina deslocamentos estressantes e demorados. Mas eles também veem uma desvantagem significativa.
Para os trabalhadores, os gerentes da velha guarda acreditam que o retorno dos funcionários ao escritório trará melhor desempenho.
“Trabalhar em casa nos distancia de contatos sociais importantes no local de trabalho. As perdas que experimentamos com os novos avanços técnicos geralmente são ocultadas pelos ganhos, mas essas perdas são potencialmente profundas”, escrevem eles. “Mais pesquisas são necessárias, mas a perda do contato pessoal ao vivo pode ter um impacto significativo na saúde mental e no bem-estar dos trabalhadores”.
Uma das grandes conclusões do estudo de Harvard é que a “aptidão social” é a chave para a saúde mental, para a saúde física e para a longevidade. E isso implica que o maior e melhor uso de qualquer tempo gasto no escritório será sempre para construir e fortalecer relacionamentos.
Como enfatizam os autores, “cultivar e manter conexões positivas com outras pessoas é pelo menos tão importante quanto cuidar de uma nutrição adequada, fazer exercícios físicos, manter o sono em dia e evitar hábitos nocivos, como fumar”.
Minha recomendação é usar intencionalmente o tempo de trabalho presencial para se conectar. Não atenda uma chamada do Zoom em sua mesa quando seus colegas de trabalho estiverem com você no escritório.
Como diz o ditado: “Nenhum homem é uma ilha”. Precisamos de outras pessoas para interagir conosco e nos ajudar. E, como Waldinger e Schulz colocam, “nós também prosperamos quando fornecemos conexão e apoio aos outros”.