CEOS ganham 399 vezes mais que o trabalhador comum
Os salários dos altos executivos nos EUA continuam a subir. Em2021, a média dos ganhos foi da ordem de US$ 27,8 milhões anuais
Estabelecendo um novo recorde histórico, os presidentes de empresas nos Estados Unidos receberam 399 vezes mais do que o salário de um trabalhador comum no ano passado. A remuneração dos CEOs cresceu em média 11,1% em comparação com 2020, de acordo com um relatório do Economic Policy Institute (Instituto de Política Econômica, ou EPI, na sigla em inglês).
O EPI – um centro de estudos com orientação mais à esquerda no espectro político – apontou que o salário dos CEOs é “exorbitante”, graças a uma tendência de alta que já dura mais de uma década e que ampliou ainda mais a diferença entre a renda do 1% mais rico da população norte-americana e a dos 90% da base da pirâmide.
Os autores pesquisaram as 350 maiores empresas de capital aberto dos EUA. Entre suas recomendações está a adoção de políticas que desincentivem os altos executivos a buscar remuneração tão elevada, o que ajudaria a distribuir melhor os recursos entre os demais funcionários.
em 1978, os CEOs ganhavam “só’ 30 vezes mais que os empregados.
Em 2021, a média de ganhos de um CEO foi de US$ 27,8 milhões no ano, valor que cresceu 1.460% desde 1978. Vale destacar que os cálculos do EPI tomam por base salários, bônus e participações acionárias (mas apenas quando as ações são vendidas e transformadas em dinheiro).
Já a remuneração dos empregados não seguiu o mesmo ritmo: os CEOs, ganham 399 vezes mais que a média dos trabalhadores – em 1978, eles ganhavam “só’ 30 vezes mais.
Esse movimento está levando a uma concentração dos ganhos e aumentando a desigualdade, segundo os autores. O dinheiro que os trabalhadores poderiam ter recebido coletivamente está fluindo para aqueles que estão no topo.
E o que é pior, o “inchaço” dos salários dos altos executivos nem sequer é justificável. “[Os CEOs] não estão ganhando mais por terem se tornado mais produtivos ou competentes que os demais trabalhadores”, diz o relatório.
BENEFÍCIOS EM FORMA DE PARTICIPAÇÃO ACIONÁRIA
A disparada na remuneração é resultado, principalmente, da estrutura de recompensas que atrela o pagamento dos altos executivos ao crescimento do mercado de ações. Cerca de 80% do pagamento de um CEO é baseado no preço das ações, contra 73% em 2016.
Esses benefícios são oferecidos ou em forma de opção de compra de ações ou em ações, mesmo. No primeiro caso, o executivo só ganha mais porque seu pagamento aumenta quando o preço das ações da companhia sobre, mas não diminui se ele cai.
O mais gritante exemplo de como o pagamento em ações resulta em ganhos extraordinários é Elon Musk. O CEO mais rico dos Estados Unidos movimentou US$ 23,5 bilhões em opções de compra e venda de ações em 2021.
Como o caso é um ponto muito fora da curva, o EPI achou por bem excluí-lo do estudo, assim como já havia feito com Mark Zuckerberg, em 2013, depois da oferta pública inicial de ações (IPO) do Facebook.
Cerca de 80% do pagamento de um CEO é baseado no preço das ações.
Os autores admitem que, em alguns casos, a opção de ações pode fazer sentido porque incentiva os altos executivos a tomar decisões de negócios que gerem retorno aos acionistas. Mas eles questionam se é mesmo necessário dar a um CEO 16 milhões de ações para atingir esse objetivo.
A recomendação dos pesquisadores é adotar políticas capazes de reverter essa tendência “sem causar nenhum prejuízo à economia em geral”, como escreveu Josh Bivens, diretor de pesquisa do EPI e um dos autores do estudo.
Mais importante ainda seria aumentar impostos sobre ganhos mais altos para desestimular os CEOs a pressionar por mais dinheiro. Ou estabelecer um teto de pagamento e taxar as empresas que o ultrapassassem.
Outra solução seria aumentar o poder de voto dos acionistas sobre as decisões relativas às recompensas oferecidas a altos executivos. Adicionalmente, o governo poderia apoiar iniciativas antitruste para restringir o tamanho excessivo de algumas empresas em certos segmentos de mercado.
O que é crucial, de acordo com os especialistas, é que a economia não seja atingida se as autoridades tomarem medidas nesse sentido. “A remuneração dos presidentes de empresas pode ser reduzida pelo conselho administrativo, assim a economia não sofreria qualquer efeito negativo”, indica o estudo.