Como lidar com o choque de diferentes gerações no ambiente de trabalho
O conflito entre diferentes perspectivas geracionais pode transformar o ambiente em um campo de batalha, em vez de promover a colaboração e a criatividade
Manter uma cultura feliz, saudável e de alta performance depende da capacidade de integrar pontos de vista diversos. A força de trabalho multigeracional de hoje tem o poder de gerar ideias, experiências e insights revolucionários. Mas preconceitos e pensamentos arraigados têm provocado um choque de gerações no trabalho.
Isso por conta do aumento da discriminação etária e a da diminuição do senso de pertencimento no ambiente profissional. Nos últimos anos, trabalhadores jovens (da geração Z) foram rotulados como preguiçosos e mimados, enquanto os mais experientes (os baby boomers) foram considerados “ultrapassados”. A geração X ficou presa ali no meio, tentando escapar dessa disputa.
Se esse assunto não for discutido seriamente, o choque de gerações no trabalho corre o risco de transformar o ambiente em um campo de batalha – um verdadeiro “nós contra eles” que não ajuda a fomentar uma cultura de colaboração e criatividade.
Pesquisas indicam que a resistência a novas perspectivas é um problema sistêmico que mina a vantagem competitiva e impede a transformação das organizações. Para construir uma cultura de respeito e pertencimento, precisamos inserir a abertura no DNA das empresas. O primeiro passo é identificar o que torna cada geração única e onde seus valores se cruzam.
MILLENNIALS E GERAÇÃO Z
Os membros mais velhos da geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) e os millennials (nascidos entre 1981 e 1996) enfrentaram barreiras inesperadas no início da carreira. Da crise de 2008 à pandemia, o estresse financeiro pesa muito sobre eles. Obstáculos econômicos levaram esses trabalhadores a adiar marcos importantes da vida, como comprar uma casa, casar ou ter filhos.
Os dados mostram que o contrato de trabalho tradicional que tínhamos com gerações anteriores não funciona mais com as gerações mais jovens — elas precisam de mais apoio.
Isso vai além do salário. Um estudo da Hewlett Packard revelou que 93% dos trabalhadores da geração Z e 89% dos millennials estariam dispostos a aceitar um corte salarial se isso resultasse em um melhor relacionamento com o trabalho.
A geração Z e os millennials estão redefinindo o ambiente de trabalho com suas perspectivas e valores únicos, forçando os empregadores a se adaptar para se manterem competitivos. Em vez de se fecharem, é essencial que todas as gerações ouçam com empatia, mantendo a mente aberta – sem julgamentos.
GERAÇÃO X
A geração X tende a ser mais flexível e aberta a mudanças, mas essa característica pode estar atrapalhando seu progresso na carreira. Um estudo da consultoria DDI apontou que “79% dos trabalhadores da geração X dizem que ficam esquecidos no local de trabalho, ofuscados por trabalhadores mais jovens e pelos mais velhos, já que os empregadores têm dado muita atenção aos millennials nos últimos anos”.
A geração X liderou a chamada Grande Renúncia, com a maior taxa de demissões entre todas as cinco gerações. Rotulados pelo Pew Research Center como o “filho do meio negligenciado”, eles simplesmente estão entregando seus pedidos de demissão e indo embora.
Mas o que a geração X quer no trabalho?
Primeiro, parar de serem chamados de “filhos do meio negligenciados”. Depois, que reconheçam que eles querem as mesmas coisas que as outras gerações. Cerca de 70% dos membros da geração X acreditam que fazer um trabalho com algum significado é mais recompensador do que ganhar muito dinheiro e 86% dizem que o senso de propósito é sua maior prioridade profissional.
BABY BOOMERS
Criados por pais que enfrentaram a Segunda Guerra Mundial e os efeitos da Grande Depressão, os boomers cresceram com o lema “basta trabalhar duro e você chegará lá.”
A personalidade dos boomers no ambiente profissional é frequentemente descrita como trabalhadora, orientada para resultados, competitiva e leal. Eles também tendem a permanecer mais tempo na mesma empresa do que as outras gerações.
Compreender e oferecer benefícios para diferentes estágios da vida ajuda a tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo.
Os boomers afirmam que sentem que as normas e valores profissionais com os quais estavam acostumados mudaram de forma dramática e rápida, dificultando sua adaptação.
A abertura às necessidades de mudança demandadas por uma força de trabalho madura é essencial. Empresas dispostas a adotar benefícios, políticas e estratégias de retenção que se alinhem às diferentes fases da vida terão mais sucesso em manter seus trabalhadores mais velhos.
Uma das formas de reter essa valiosa expertise é oferecer opções de aposentadoria gradativa, permitindo que os profissionais diminuam o ritmo aos poucos, em vez de enfrentarem a experiência radical de uma aposentadoria tradicional.
COMO SUPERAR O CHOQUE DE GERAÇÕES NO TRABALHO
Todo mundo passa por diferentes fases da vida que exigem benefícios e políticas adaptadas a elas. Por outro lado, profissionais de diferente gerações podem ter muitas necessidades e desejos em comum.
Cada geração busca um trabalho significativo, que ofereça não só estabilidade financeira, mas também um senso de propósito. A demanda universal por flexibilidade e autonomia no trabalho ressalta a necessidade de líderes adotarem estilos de gestão mais inclusivos e adaptáveis.
Focar na “adaptação às fases da vida” ou em “benefícios ao longo do ciclo de vida” são ótimas estratégias de retenção para todas as gerações.
Compreender e oferecer benefícios específicos para diferentes estágios da vida – como horários flexíveis para jovens pais, assistência médica ampliada para funcionários mais velhos ou oportunidades de desenvolvimento profissional para trabalhadores em início de carreira – ajuda a tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo e adequado para todas as idades.
Incentivar uma cultura de abertura, onde cada um se sinta pertencente, é fundamental. Isso não apenas ajuda a superar o choque de gerações no trabalho como também aproveita os pontos fortes e as perspectivas únicas que cada grupo etário traz para o debate.
Ao fazer isso, as empresas podem se manter competitivas e, ao mesmo tempo, humanas. Encontrar esse equilíbrio cria um ambiente de trabalho que todos desejam e no qual todos saem ganhando.
Trecho extraído de “Why Are We Here?: Creating a Work Culture Everyone Wants” (Por que estamos aqui? Criando uma cultura de trabalho que todos querem, em tradução livre), de Jennifer Moss, e reproduzido com permissão da Harvard Business Review Press.