Como a tecnologia vai tornar os seres humanos mais inteligentes
A roda nos deu mais mobilidade. As máquinas nos tornaram mais fortes. A inteligência evolutiva nos tornará mais inteligentes
Russ Neuman, que estudou o impacto social da tecnologia no Laboratório de Mídia do MIT, lecionou em Harvard e Yale e trabalhou no Escritório de Política de Ciência e Tecnologia da Casa Branca, compartilha quatro ideias essenciais de seu novo livro, “Evolutionary Intelligence: How Technology Will Make Us Smarter” (Inteligência Evolutiva: Como a Tecnologia nos Tornará Mais Inteligentes).
1. O Teste de Turing inverte o raciocínio
Turing propôs que, se uma pessoa conversando com uma máquina não percebesse que ela não é humana, o computador teria atingido a verdadeira inteligência. Mas este é um erro clássico.
A inteligência consiste na seleção ideal de meios alternativos para atingir um determinado objetivo. Nós humanos somos muito ruins nisso. Muitas vezes somos atrapalhados por emoções, fantasias e preguiça cognitiva.
Então, por que modelar a inteligência das máquinas com base em nossa própria imperfeição? Podemos utilizar novos modelos de inteligência para compensar as limitações bem conhecidas do sistema cognitivo humano. É isso o que chamo de inteligência evolutiva.
As habilidades humanas de realizar tarefas evoluíram junto com as tecnologias que inventamos. A roda nos deu mais mobilidade. As máquinas nos tornaram mais fortes. As telecomunicações nos proporcionaram a capacidade de comunicação a grandes distâncias. E a inteligência evolutiva nos tornará mais inteligentes.
2. Quando surgiram os automóveis, nós os chamanos de “carruagens sem cavalos”
Quem poderia imaginar uma carruagem sem cavalos? Hoje, muitos ainda pensam em computadores de maneira similar, dentro de uma visão historicamente restrita. Um computador é uma caixa cheia de microchips com uma tela que você conecta à tomada.
Eles costumavam ser enormes, mas estão diminuindo, ficando mais poderosos e se conectando a uma vasta rede digital. No início, ficavam sobre a mesa, depois no colo e, mais tarde, na mão, em smartphones. E depois? Eles desaparecem! Literalmente.
Os computadores se tornam parte de um ambiente digital invisível, contínuo e sem fio, que nos ajuda a chegar ao destino certo, fazer pagamentos, corrigir a ortografia e lembrar um número de telefone.
A grande questão é: deveríamos modelar a inteligência das máquinas com base na inteligência humana, com todas as nossas impulsividades, egoísmo e competitividade? Ou deveríamos refiná-la para nos salvar de nós mesmos? Seremos capazes de desenvolver a inteligência evolutiva antes que seja tarde demais?
3. A IA quer matar humanos?
Recentemente, um grupo de cientistas e empresários pediu uma pausa de seis meses no desenvolvimento de tecnologias de IA devido aos efeitos perigosos que isso poderia ter sobre a humanidade. A pausa não aconteceu. E aposto que eles sabiam que não aconteceria.
Entre os críticos mais ferrenhos da IA está o pesquisador Eliezer Yudkowsky, que afirmou que “o resultado mais provável da construção de uma IA superinteligente é que todos na Terra vão morrer”. Palavras fortes. Mas é um exemplo de projeção das qualidades humanas, como agressão e competição, em cos.
Possuímos essas características e emoções porque foram benéficas para a nossa sobrevivência. Vemos essa mesma tendência entre nossos antepassados na linha evolutiva.
Mas os computadores não surgiram devido a um esforço desesperado para caçar pequenos animais e colher frutas. Na verdade, as diretrizes primárias da inteligência computacional são derivadas da nossa programação e design. Então, não, a Siri não quer nos matar.
4. Como funcionaria a inteligência evolutiva assistida por computador?
Um exemplo é a privacidade inteligente. Normalmente, consideramos que o ambiente digital é uma ameaça à privacidade pessoal. Mas, com a inteligência computacional, podemos reverter isso.
Informações pessoais são uma mercadoria valiosa para gigantes das redes sociais e empresas de marketing online. Poderíamos instruir nossa interface digital a garantir total privacidade e não compartilhar nenhuma informação pessoal, mesmo que isso signifique abrir mão de qualquer tipo de pagamento em troca.
Se você não se importa que o Google e a Amazon saibam que gosta de chocolate e coleciona selos, bastaria permitir que sua interface digital negociasse um acordo sempre que suas informações pessoais fossem solicitadas. Não temos tempo para lidar com todos esses detalhes, mas nossos smartphones, sim.
Este artigo foi publicado originalmente na revista Next Big Idea Club e reproduzido com permissão. Leia o artigo original.