Como criativos podem superar o potencial da IA e manter seus empregos
Veja como agências e marcas podem garantir que seus profissionais de criação se sobressaiam em relação ao conteúdo robótico produzido pela IA
A inovação e a mudança vêm ocorrendo em um ritmo alucinante. Recentemente, a apresentação do Sora, da OpenAI, deixou Hollywood atônita com sua capacidade de criar cenários de filmes virtuais. Aparentemente, isso provocou mudanças em investimentos estratégicos, como o abandono de alguns projetos de expansão de estúdios.
Para a maioria de nós que trabalha na economia dos criadores, a mesma pergunta paira no fundo de nossas mentes a cada novo avanço da inteligência artificial: "será que a IA conseguirá algum dia produzir em um nível que supere o dos criadores humanos mais talentosos?". Acho que não.
A seguir, trago três estratégias que as agências e as marcas podem adotar para garantir que sua criatividade se mantenha acima do nível do conteúdo produzido por robôs sem sentimentos.
CRIE HISTÓRIAS, NÃO CONTEÚDO
Por muito tempo, resisti a usar a palavra conteúdo. O conteúdo, basicamente, preenche o espaço e o tempo. Na melhor das hipóteses, o conteúdo se metamorfoseia em uma história, que tem o potencial de mover corações e mentes.
As melhores histórias vêm de um lugar de emoção, algo que os humanos têm de sobra, mas que os robôs só conseguem entender de forma abstrata. Elas têm conflito e algum elemento de surpresa.
Seu recurso de vídeo com IA tem isso? Eu duvido. Por quê? Ele não tem a genética de contar histórias, que foi desenvolvida nos seres humanos ao longo de milhões de anos. Isso está codificado em nosso DNA.
Portanto, na próxima peça de conteúdo que você criar, pergunte-se: "esse conteúdo é apenas para encher linguiça ou está no nível de uma grande narrativa? Qual é o conflito? Qual é a surpresa?" Verifique essas alternativas e você estará vencendo os bots e, provavelmente, a concorrência.
CONTRATE UM DIRETOR FOCADO EM UM PROPÓSITO
Os robôs podem fazer muitas coisas incríveis, mas não são orientados por um propósito. Eles podem analisar grandes quantidades de dados. Podem fazer vídeos. Podem limpar o chão. Mas não sabem por que estão fazendo qualquer uma dessas tarefas. Eles não têm outro objetivo, a não ser seguir as diretrizes dos humanos.
A única coisa que eles não entendem é a própria noção de "propósito" ou "missão", que são conceitos carregados de emoção.
Para ser um grande criador, é preciso pensar como um revolucionário.
Não acredita em mim? Peça ao novo modelo de IA Sora para criar um anúncio de marca em que cada tomada, seleção de áudio e arco narrativo sirvam à missão da marca. Você receberá de volta algo que é, bem, "blé".
Em seguida, contrate um diretor humano que esteja alinhado com o propósito ou a missão de sua marca e faça a mesma solicitação. Você ficará surpreso com os resultados criativos.
QUEBRE AS REGRAS
Para ser um grande criador, é preciso pensar como um revolucionário. Não existe um algoritmo para criar arte ou criatividade excelentes. A maneira de fazer arte de verdade é entendendo suficientemente as convenções para saber como transgredi-las.
A IA é programada para entender padrões e segui-los. Ela é boa em entender as convenções, mas não sabe como quebrá-las. Portanto, da próxima vez que você criar uma história, pergunte a si mesmo: "que regras foram quebradas aqui?".
O segredo é encontrar o equilíbrio certo. Se você não quebrou nenhuma regra, então não está ultrapassando os limites e o trabalho acaba parecendo "medíocre".
Mas, se você quebrar regras demais, a peça pode parecer desarticulada e não se encaixar. Uma regra geral é quebrar pelo menos uma regra em cada texto que você criar. Isso mostrará aos bots quem é o dono da história por aqui.
Vou encerrar com uma reflexão. Digamos que os robôs provem que estou errado e que tenhamos uma versão do Steven Spielberg em IA. Nesse caso, nos depararemos com uma questão ainda mais importante, de ordem ética. Se a IA conseguir dirigir filmes melhores do que Spielberg, será que deveríamos terceirizar a criatividade e a narração de histórias para os robôs?
Para mim, a resposta é bem clara: claro que não.
Terceirizar as funções criativas para os robôs seria como remover a missão da humanidade, o próprio propósito de ser humano. Não existimos para caminhar pelas cidades, escrever e-mails ou analisar dados. Todas essas coisas podem ser terceirizadas.
Existimos para contar histórias ao redor da fogueira, na mesa de jantar e no Instagram. Existimos para criar. Um mundo sem criação humana nos deixaria sem propósito.
Se isso acontecer, podem me dar uma passagem só de ida para Marte.