Como desafiar o preconceito etário e provar que maturidade é uma vantagem

O viés etário – às vezes sutil, muitas vezes explícito – segue sendo um obstáculo para quem está na meia-idade

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Svetlana Goryushkina 3 minutos de leitura

A experiência aguça o julgamento, aumenta a produtividade e ensina lições que só vêm com anos de carreira. Ainda assim, apesar de seu valor, empresas continuam a subestimar aqueles que têm mais a oferecer.

Nas últimas décadas, empregadores passaram a defender a inclusão. Mas, segundo uma pesquisa recente da plataforma DateMyAge com mil norte-americanos acima de 50 anos, 73% sentem que são tratados como se seus melhores anos já tivessem ficado para trás e 62% acreditam que foram descartados no âmbito profissional.

O viés etário – às vezes sutil, muitas vezes explícito – segue sendo um obstáculo para quem está na meia-idade. Em vez de perguntar sobre objetivos de carreira, companhias questionam planos de aposentadoria, negligenciam treinamentos e oportunidades de desenvolvimento.

O resultado não surpreende: solidão, depressão e baixa autoestima se espalham entre trabalhadores mais velhos.

TALENTO NÃO TEM PRAZO DE VALIDADE

A discriminação desanima, mas não deve ser motivo para encerrar uma trajetória de forma abrupta. Talento não tem prazo de validade, e provar isso exige manter o ritmo: crescer, contribuir e entregar valor. É preciso mostrar que idade é apenas um número.

À medida que se envelhece, aumenta a suposição de que o profissional “ficou para trás”. A melhor forma de acabar com essa ideia é ser a pessoa mais bem informada da sala: antecipar movimentos da concorrência, tendências do setor e mudanças regulatórias antes que cheguem às manchetes.

Também é essencial não se prender ao título do cargo. Descrições de funções mudam – e o profissional também deve mudar. Se inteligência artificial, sustentabilidade ou geopolítica estão transformando sua área, identifique as competências mais valiosas para sua empresa. Isso mantém sua relevância e o reposiciona como alguém que se adapta, inova e cresce, independentemente da idade.

Quando se demonstra que o conhecimento está mais afiado do que nunca e que há compromisso em evoluir, sobra pouco espaço para o preconceito de que a pessoa ficou para trás. A percepção dos colegas muda rapidamente.

ENTREGUE VALOR À EMPRESA

É verdade que muitos trabalhadores mais velhos têm seu desenvolvimento profissional prejudicado pelo etarismo. Mas, em vez de aceitar esse destino, o ideal é transformar o preconceito em motivação.

Busque treinamentos, desenhe novos processos, teste tecnologias e incentive a colaboração entre áreas. Estar à frente do progresso torna difícil descreditar sua atuação, especialmente quando isso gera valor para o negócio.

Seja ao aumentar a receita, reduzir custos ou ampliar participação de mercado, o foco deve ser impacto mensurável. Até mesmo uma melhoria modesta de processo pode gerar milhões em economia. No fim, números falam mais alto que estereótipos.

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Envolver-se em projetos que vão direcionar a companhia na próxima década não é apenas uma forma de se manter ocupado, é uma maneira de continuar relevante. Expansões de mercado, iniciativas de transformação e programas de sustentabilidade são áreas de alto impacto onde a experiência faz diferença concreta.

O papel de mentor também oferece um valor único: compartilhar vivências, ao mesmo tempo em que se aprende com novas gerações sobre tendências, ferramentas e novas perspectivas. A troca beneficia todos.

Com essa visão sobre os talentos emergentes, é possível planejar a própria saída de cena com autonomia. A aposentadoria é inevitável, mas deve acontecer nos seus próprios termos.

SUPERAR O ETARISMO É TRABALHO DURO

Num mundo ideal, o preconceito por idade não existiria nos escritórios. Mas essa não é a realidade. E não se pode deixar que o viés dite o rumo da carreira. Reduzir o ritmo, afastar-se ou desistir é, infelizmente, confirmar os estereótipos.

A melhor estratégia é arregaçar as mangas, mostrar resiliência e continuar em ação. Cada vez que se assume um projeto de alto valor, se ensina algo a um colega mais jovem ou se contribui para o balanço da empresa, envia-se uma mensagem clara: idade não mede competência.


SOBRE A AUTORA

Svetlana Goryushkina é diretora de recursos humanos da DateMyAge, plataforma global de conexões online, e do Social Discovery Group, u... saiba mais