Como funciona a memória e por que esquecemos o que devíamos lembrar

Conheça a ciência por trás de como as memórias são formadas e por que há momentos mais propícios ao esquecimento do que outros

Créditos: Marina Demeshko/ master1305/ iStock

Janya Sundar 4 minutos de leitura

Nas últimas duas décadas, a capacidade de concentração das pessoas diminuiu muito. Presos aos nossos smartphones, carregamos nossos aparelhos para todo lado, a poucos cliques de distância de todas as informações de que precisamos para sobreviver. 

O surgimento da era digital afetou nossa capacidade de foco e memória. Estamos vivendo em uma época na qual não é necessário memorizar as coisas para enfrentar o dia a dia.

Preocupado com a possibilidade de esquecer o aniversário de alguém? Basta definir um lembrete automático. Não sabe o caminho que precisa seguir até aquele restaurante ao qual você só foi uma vez? Digite o destino no GPS de sua preferência.

A memória é o processo pelo qual nosso cérebro filtra e retém informações importantes, ajudando-nos a entender o mundo e a lidar com suas incertezas. Ela nos permite raciocinar, planejar e imaginar, além de ser crucial para a comunicação, conexão, formação de identidade e para nos situarmos no tempo e no espaço.

As coisas que normalmente chamamos de memórias fazem parte do sistema de memória episódica, que armazena lembranças de episódios de sua vida, como conversar com um colega ou ir ao supermercado.

Quando nos lembramos de algo, não reproduzimos o passado como ele aconteceu. Nós reimaginamos como o passado poderia ter sido, adaptando nossas memórias para que se encaixem no contexto atual.

TRÊS SITUAÇÕES EM QUE VOCÊ TEM MAIOR PROBABILIDADE DE ESQUECER

1. Quando está realizando várias tarefas ao mesmo tempo 

É óbvio – você não consegue se lembrar de algo se não estiver prestando atenção.

A multitarefa é uma das principais culpadas quando se trata de problemas de memória. Toda vez que alternamos entre tarefas, como respondendo mensagens durante uma reunião, pagamos um “custo de alternância”. Essa mudança constante leva a memórias fragmentadas e embaçadas, dificultando a retenção de detalhes importantes. 

Nessas situações é mais provável que você cometa erros, levará mais tempo para concluir as tarefas e você não vai reter muito do que fez. A memória depende muito da cognição direcionada a objetivos. Para melhorá-la, é preciso se concentrar em uma tarefa de cada vez e minimizar as distrações. 

Basicamente, precisamos estar prontos para lembrar, ter a atenção ativa e um objetivo de memória em mente para recuperar nossas lembranças.

2. Quando você pretende fazer algo, mas acaba esquecendo

Em casa, se um dos parceiros sempre tem a intenção de fazer as tarefas domésticas, mas se esquece, isso aumenta a carga mental da pessoa que está assumindo a responsabilidade. No trabalho, esquecer de enviar aquele e-mail ou participar daquela reunião pode afetar sua carreira. O esquecimento pode gerar muito ressentimento se não for tratado. 

Para superar essa lacuna, Katy Milkman, professora de operações, informações e decisões da Wharton School, sugere pensar em todos os detalhes logísticos necessários para implementar a tarefa em questão, a fim de prever as armadilhas com antecedência e se comprometer com o planejado. 

Ela também recomenda a criação de “dicas” – qualquer sinal que acione sua memória, como um evento ou um local – para que você tome uma atitude. Por exemplo, receber um aumento pode ser uma dica para aumentar sua contribuição mensal para a aposentadoria. 

3. Quando você trabalha com outras pessoas 

Depois de uma discussão com uma pessoa, ela geralmente parece ter uma lembrança totalmente diferente do que aconteceu – uma lembrança em que não fez nada de errado. No trabalho, se você perguntar aos colegas como um projeto foi realizado, eles podem ter lembranças totalmente diferentes sobre quem teve quais ideias.

Por quê? Um dos motivos é o ego. Todos nós tendemos a nos pintar como o herói da história de nossa própria vida. 

Nosso cérebro tende a reescrever a história enquanto ela está acontecendo. Temos a tendência de interpretar nossas próprias ações da maneira mais benevolente possível e dar menos crédito aos outros. Como grande parte dessa interpretação acontece no momento em que o evento é vivenciado inicialmente, ela se torna parte da memória do evento. 

Embora não seja ruim que nossas memórias se concentrem em nosso lado da história, para obter uma visão completa do que aconteceu, precisamos usar os outros para preencher nossas lacunas.

Se todo o resto der errado, sempre podemos recorrer a um método testado e comprovado: fazer anotações à mão. A ciência comprova que  anotar as coisas à mão aumenta a probabilidade de você reter informações.


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