Como o bullying no trabalho destrói a autoconfiança

Embora as empresas devam abordar o bullying no local de trabalho, existem algumas maneiras de resolver o problema com nossas próprias mãos

Crédito: Istock

Zenica Chatman 5 minutos de leitura

Minha gerente subiu na minha mesa, apontou o dedo para mim e gritou: “Por que você não consegue fazer como o resto da equipe?”.

Depois, saiu da minha baia sem olhar para trás. 

Quando olhei em volta, com o rosto vermelho de vergonha, percebi que a equipe estava me encarando constrangida e incrédula. 

"Você está bem?" um colega de trabalho finalmente perguntou. “Isso foi uma loucura.”

Aquela não tinha sido a primeira vez que minha gerente se comportou desse jeito comigo, mas foi a primeira vez que percebi que ela não tratava o resto da equipe assim.

Uma pesquisa feita pela Gallup no ano passado descobriu que a discriminação no local de trabalho afeta desproporcionalmente trabalhadores negros e hispânicos. Esse tipo de discriminação pode minar os sentimentos de segurança psicológica e de pertencimento no trabalho, bem como a capacidade profissional de se fazer o melhor.

Nada que eu fizesse era capaz de mudar a opinião que meus chefes tinham sobre mim.

O bullying no local de trabalho afeta mais de 30% dos trabalhadores norte-americanos, o destrói a segurança psicológica dos funcionários. No meu caso, fui sistematicamente alienada do resto dos meus colegas de equipe, porque meus projetos de destaque foram lentamente substituídos por tarefas mais administrativas.

Meu trabalho foi minuciosamente analisado e, muitas vezes, sabotado devido à falta de direcionamento claro, a atribuições incompletas ou muito vagas. Parecia que não havia saída para essa situação. Nada que eu fizesse era capaz de mudar a opinião que meus chefes tinham sobre mim. Experimentei chegar mais cedo, ficar até tarde, me ofereci para assumir mais tarefas, mas nada funcionou.

GOTA D'ÁGUA

Depois de muitos meses desse intenso escrutínio e exclusão, estava completamente acabada. Minhas mãos tremiam. Sentia dor de estômago toda vez que enviava um projeto para aprovação.

Não demorou muito para que eu entrasse uma depressão intensa. Era difícil sair da cama, depois de ter dormido mal quase todas as noites. Eu chorava todos os dias durante o trajeto para o trabalho. Engordei 10 quilos e precisei usar um protetor noturno, porque comecei a ranger os dentes à noite.

A gota d'água foi durante uma conversa particularmente desagradável em que fui repreendida. Disseram que eu era incompetente e praticamente me interrogaram, como se estivesse em um julgamento. Depois de jogar seus papéis em cima da mesa para mim, minha gerente me perguntou se eu tinha algo a dizer.

Sim, naquele momento, eu tinha muito o que dizer, porque percebi que precisava me defender.

Embora provavelmente essa conversa não tenha sido a mais profissional ou produtiva que já tive no local de trabalho, ela ainda é o momento de maior orgulho da minha carreira.

consegui outro emprego, com um chefe incrível e ótimos colegas. Mas o novo trabalho não foi o suficiente para me curar.

Disse a ela exatamente como estava me sentindo e quais eram minhas expectativas em relação a ela como chefe. Mas o mais importante foi que eu disse a ela que não aceitaria mais aquele nível de abuso psicológico. Saí e consegui outro emprego, com um chefe incrível e ótimos novos colegas.

Mas o novo trabalho não foi o suficiente para me curar. Eu ainda estava destruída, e agora vivia sob a paranoia de que, talvez, tudo o que a minha gerente anterior havia dito sobre mim fosse realmente verdade.

Ainda relia meus e-mails pelo menos quatro vezes antes de enviá-los. Não manifestava minha opinião nas reuniões. E mesmo eles sendo pessoas adoráveis, não confiava em meus novos companheiros de equipe.

Se quisesse voltar a ser a profissional promissora que já tinha sido um dia, eu teria que me reestabelecer emocionalmente. 

Embora os líderes tenham a obrigação de abordar o bullying institucional no local de trabalho, existem algumas maneiras de resolver esse problema com nossas próprias mãos.

Reconheça seus sentimentos

Quando sofri bullying, queria muito que minhas queixas fossem validadas pela empresa. Fui ao RH, mas nada aconteceu. Queria que meus companheiros de equipe interviessem a meu favor, mas nenhum deles fez isso. Aprendi, então, que eu precisava reconhecer meus sentimentos e a mágoa que sentia, mesmo que meu local de trabalho nunca o fizesse. Enterrar as emoções não iria me ajudar a me curar dessa experiência traumática.

Não acredite em mentiras

Pessoas que praticam bullying e culturas de trabalho tóxicas têm a capacidade única (por meio de assédio consistente) de fazer você pensar que não é bom o suficiente para estar na mesma sala ou grupo que eles. Decidi sentar e escrever todas as “mentiras” que os chefes abusadores disseram sobre mim, e depois rasguei o papel em pedaços.

Substitua a mentira pela verdade

Peguei outro pedaço de papel e escrevi tudo aquilo que sabia ser verdade sobre mim, como profissional e como pessoa. Lia essa lista de verdades para mim mesma todas as manhãs. Fazer isso e acrescentar novas evidências e exemplos me ajudaram a começar a reconstruir minha confiança.

Encontre aliados

Ter uma comunidade para apoiá-lo é de vital importância, pois você está passando por (ou saindo de) uma situação de trabalho extremamente tóxica. Criei um grupo de conselheiros de confiança, colegas de trabalho e amigos que me ajudavam dando apoio mental e emocional enquanto eu passava pela situação de bullying, e mesmo depois – porque, repito, um novo emprego por si só não vai te curar. Você precisará desse sistema de suporte.

Desde que fiz esse trabalho interno, encontrei alegria e confiança na carreira e no trabalho (e nunca tive outra avaliação de desempenho ruim). Além disso, essa experiência me levou a estudar coaching, o que me deu a oportunidade de ajudar outras mulheres e mulheres negras a reconstruir sua confiança depois de passar por abusos no local de trabalho.


SOBRE A AUTORA

Zenica Chatman é a fundadora da Zenica Chatman Professional Coaching. saiba mais