Como o estresse prejudica nossa performance no trabalho?

Quando o estresse se torna crônico, muito frequente ou exagerado, pode causar danos significativos à saúde e ao bem-estar

Crédito: Fast Company Brasil

Thais Gameiro 3 minutos de leitura

Em um ambiente corporativo cada vez mais acelerado, lidar com prazos apertados, excesso de demandas e pressão por resultados faz parte do cotidiano. No entanto, a linha entre o estresse que impulsiona a produtividade e aquele que sabota a performance é tênue.

O estresse pode ser entendido como uma resposta natural e saudável do organismo frente a situações ou estímulos considerados perigosos, ameaçadores e desafiadores. Tal resposta permite que sejamos capazes de lidar adequadamente com as diversas circunstâncias apresentadas em nossa rotina e, graças a ela, sobrevivemos.

Engana-se quem entende a resposta ao estresse apenas como algo negativo. Do ponto de vista fisiológico, ela é essencial para atender de maneira satisfatória as demandas internas e externas do organismo. No entanto, quando a resposta ao estresse se torna crônica, muito frequente e/ ou exagerada, ela pode causar danos significativos para a saúde e o bem-estar.   

Evidências científicas apoiam a visão de que o estresse traz mais malefícios à performance do que benefícios. Isso porque os mecanismos fisiológicos da resposta ao estresse acabam por impactar negativamente o funcionamento de estruturas cerebrais muito importantes para o desempenho no trabalho.

Quando estamos estressados, acabamos produzindo em maior quantidade o hormônio cortisol. O cortisol tem diversas funções e está longe de ser um vilão. Ele é importante para o funcionamento adequado do metabolismo, ciclo de sono e vigília, funcionamento hepático, cardiovascular e respiratório, sendo essencial para nossa saúde e sobrevivência.

No entanto, quando produzido em excesso, acaba por afetar negativamente algumas funções cerebrais importantes, que resultam em uma queda na capacidade produtiva.   

A seguir, listo cinco principais impactos negativos do estresse na performance no trabalho, de acordo com a neurociência:

1. Prejudica a capacidade de concentração e atenção

As preocupações e estímulos estressores acabam sendo processados de maneira privilegiada no cérebro, utilizando recursos que poderiam ser empregados para a solução de tarefas e entregas do trabalho. Em outras palavras, um cérebro estressado acaba ficando mais suscetível a distrações, erros, falta de foco e dificuldade de processar informações de maneira eficiente.

2. Causa prejuízos na memória e no aprendizado

Estudos indicam que altos níveis de estresse prejudicam a formação de novas memórias (o que é essencial para o aprendizado) e a recuperação de informações armazenadas.

É comum que um dos sintomas de estresse seja a dificuldade de lembrar de eventos recentes, fatos importantes ou detalhes específicos. Isso ocorre porque o cortisol em excesso acaba por prejudicar os neurônios do hipocampo, uma área importante do cérebro envolvida no processo de memorização.

3. Dificulta a tomada de decisão

Sob os efeitos do estresse, nossas decisões acabam se tornando mais impulsivas e emocionais, visto que o córtex pré-frontal – área responsável por processos relacionados ao autocontrole e pensamento racional – também sofre com as influências do cortisol.

Nesse contexto, sentimos mais dificuldade de pesar prós e contras, de ver as situações de forma objetiva, o que pode levar a decisões precipitadas e menos assertivas.

4. Reduz a flexibilidade cognitiva

A flexibilidade cognitiva refere-se à capacidade de adaptar o pensamento e mudar de estratégia quando necessário. O estresse pode levar a um pensamento rígido e inflexível, tornando difícil para a pessoa ajustar-se a novas circunstâncias, lidar com mudanças ou encontrar soluções criativas para problemas.

5. Prejudica a capacidade de comunicação e empatia, afetando os relacionamentos interpessoais 

Um indivíduo estressado tende a focar nas suas próprias necessidades, como parte de uma resposta defensiva natural. Sendo assim, torna-se mais difícil ter empatia, entender o ponto de vista dos outros e colaborar. A redução na empatia, por sua vez, prejudica a comunicação trazendo ainda mais estresse para o ambiente de trabalho.

O ideal é tratar os malefícios do estresse de forma preventiva. Ao detectar esses sinais na equipe ou em nós mesmos, é preciso buscar soluções efetivas, compreender a origem do estresse mal administrado e criar ações específicas que contribuam para reduzir seus efeitos.

Monitoramento do estado emocional, preparação das lideranças e conversas abertas a respeito dos impactos do estresse são fundamentais para uma postura proativa das empresas rumo à prevenção de complicações associadas à saúde mental dos colaboradores.


SOBRE A AUTORA

Thaís Gameiro é neurocientista e sócia da Nêmesis, empresa que oferece assessoria e educação corporativa na área de neurociência organ... saiba mais