Como recuperar a autoconfiança e a autoestima após uma demissão

A perda de um emprego pode trazer à tona sentimentos de tristeza e vergonha

Crédito: Tereza Flachová/ Pixabay

Art Markman 4 minutos de leitura

Quando você conhece alguém novo em uma festa, é provável que inicie a conversa com “no que você trabalha?”. E há uma razão para isso. Essa pergunta reflete a profundidade com que o trabalho e a carreira de uma pessoa estão ligados à sua vida cotidiana e, muitas vezes, ao seu senso de identidade.

Essa é uma das razões pelas quais perder um emprego (ou se aposentar) pode ter um impacto psicológico profundo. Quando essa perda de emprego acontece de forma inesperada, pode ser ainda mais difícil.

Para se recuperar psicologicamente, é importante entender como a perda está afetando você. Somente depois disso será possível começar a seguir em frente.

Ao perder o emprego pela primeira vez, você é atingido por uma enxurrada de emoções. Algumas delas são causadas pelo processo de luto. Qualquer evento que cause um rompimento no tecido da história da sua vida provoca um processo de luto. A perda de um emprego se encaixa nessa definição.

Você provavelmente já ouviu falar dos cinco estágios do luto que foram originalmente descritos por Elisabeth Kubler-Ross. Inicialmente, ela descreveu esses estágios – negação, raiva, negociação, depressão e aceitação – a partir de pessoas que estavam enfrentando o diagnóstico de uma doença terminal.

Esses estágios são meramente descritivos. Uma pessoa em luto não precisa passar por todos eles, pode passar por eles em qualquer ordem e pode ir e vir entre eles.

Um elemento fundamental do luto é o desenvolvimento de uma narrativa que ajude a entender a situação e o caminho a seguir dali para frente. Basicamente, você está reintegrando esse evento perturbador na tapeçaria de sua vida. Portanto, entender a situação de perda do emprego e traçar o caminho a seguir o ajuda a regular suas emoções.

Para se recuperar psicologicamente, é importante entender como a perda está afetando você.

Um fator que complica a perda de um emprego é que talvez você coloque a vergonha acima das emoções típicas associadas ao luto. A vergonha é uma emoção que se experimenta quando a pessoa tem um resultado ruim e acredita que isso reflete um aspecto dela mesma que é difícil de mudar. 

Quando você perde um emprego, é natural achar que há algo em você, como pessoa, que causou isso. Às vezes, você não vai querer admitir que perdeu o emprego para outras pessoas, por medo de que elas também notem suas limitações.

É importante reconhecer que as demissões acontecem o tempo todo. É comum que as pessoas tenham mais de 10 empregos ao longo da vida, e elas não deixam todos esses empregos porque quiseram.

Quando você contar aos outros que perdeu o emprego, vai encontrar muitos ouvidos compreensivos e descobrirá muita gente que já passou pela mesma coisa no passado.

RECONEXÃO COM SEUS VALORES

Ao traçar o caminho a seguir, é importante dar um passo atrás e considerar seus valores. O que é importante para você? Seus valores podem mudar ao longo da vida e, portanto, o caminho em que você está pode não se encaixar mais neles. A perda de um emprego lhe dá a chance de reconsiderar para onde você está indo.

Créditos: francescoch/ iStock/ Patrick Tomasso/ Unsplash

Analisar cuidadosamente seus valores fornece informações que podem ser úteis para pensar sobre seu relacionamento com o trabalho. No início da carreira, a gente geralmente valoriza a realização, o que reflete o desejo de ser reconhecido como bem-sucedido pelos outros. 

À medida que avançamos, podemos descobrir que há outras coisas com as quais nos importamos mais. Nesse caso, concentrar-se no impacto que você deseja causar com seu trabalho e com o resto de sua vida pode desempenhar um papel importante na determinação da próxima etapa de sua carreira.

EQUILÍBRIO ENTRE VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL

Um dos motivos pelos quais perder um emprego pode ser tão devastador é que você passa grande parte do seu tempo acordado no trabalho. Mesmo com uma semana de 40 horas, mais duas horas diárias para o deslocamento e o tempo que leva para "desligar" após um dia cheio, significa que 40% do seu tempo acordado a cada semana é gasto no trabalho e em atividades relacionadas a ele.

Para muitas pessoas, essa porcentagem é ainda maior se você trabalhar mais horas por dia, morar mais longe do emprego e/ ou ficar à noite e nos fins de semana verificando e-mails ou pensando em problemas relacionados ao trabalho.

Quando, de repente, você não tem mais essas tarefas para ocupá-lo, sobra espaço para repensar como está gastando seu tempo. Talvez fazer mais trabalho voluntário e menos trabalho remunerado seja uma boa opção.

Analisar seus valores fornece informações que podem ser úteis para pensar sobre seu relacionamento com o trabalho.

Talvez você queira começar um hobby, ou voltar a fazer algo de que gostava, ou passar mais tempo com a família, os amigos, a comunidade.

Geralmente, quando você perde um emprego, sua primeira meta é criar alguma estabilidade, encontrando outra coisa o mais rápido possível. Em vez disso, pense no que você espera realizar com sua vida profissional. Talvez decida usar seu tempo de forma diferente quando tiver a chance de redesenhar sua vida.

Por último, não é preciso tomar todas essas decisões sozinho. Não apenas inclua a família e os amigos em suas discussões, mas considere a possibilidade de trabalhar com um terapeuta ou coach de carreira para ajudá-lo a entender a si mesmo e suas metas. 

Às vezes, o simples fato de dizer algo em voz alta é suficiente para que você pense de forma diferente. Ter alguém com capacitação para ajudá-lo a atingir suas metas também pode contribuir para o resgate da sua identidade.


SOBRE O AUTOR

Art Markman é PhD e professor de psicologia e marketing na Universidade do Texas e diretor-fundador do Programa nas Dimensões Humanas ... saiba mais