Como RV pode tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo

Os campi de trabalho situados no mundo virtual têm o potencial de ajudar o trabalho no pós-pandemia. Mas é preciso tomar alguns cuidados

Crédito: Luis Alvarez/ GettyImages/ Thor Alvis/ Unsplash

Grace Lordan e Paris Will 4 minutos de leitura

Desde o início da pandemia, muitos profissionais passaram a trabalhar exclusivamente de casa ou optaram por práticas híbridas. Ainda estamos atravessando uma fase de transição, com a tecnologia prometendo impactar bastante a experiência de trabalho remoto por meio da realidade virtual (RV). Quer você a ame ou a deteste, é difícil negar que com essa tecnologia o ambiente de trabalho remoto se amplia muito em termos do que é possível fazer de casa.

Mas quem está conduzindo a criação desses ambientes de trabalho em RV? A Meta criou o Horizon Workrooms, um espaço para reuniões de equipe lançado em 2021. Apenas alguns meses depois, a Cisco lançou o Webex Hologram, uma ferramenta de realidade aumentada para reuniões entre colegas. A Microsoft apresentou o Mesh for Microsoft Teams em 2022, que permite que os colegas colaborem em espaços imersivos de RV.

Temos refletido sobre o que o ambiente de trabalho em realidade virtual representa para a inclusão e sobre como pode impactá-la. Essa é uma questão bastante importante, visto que a forma como trabalhamos e o local onde o trabalho é feito têm grandes consequências para a inclusão.

Pesquisa conduzida por uma equipe de quatro psicólogos descobriu que o modo e a localidade do trabalho afetam a forma como interagimos, nos comunicamos e colaboramos com os colegas. Todos esses fatores são fundamentais para fomentar sentimentos de inclusão.

FLEXIBILIDADE

O modelo atual de trabalho híbrido trouxe benefícios aos trabalhadores graças à maior flexibilidade. No entanto, também está associado ao aumento da solidão e desconexão com o resto da equipe. Ambientes de trabalho virtuais podem ajudar ao oferecer uma sensação de trabalho comunitário, com salas virtuais onde os funcionários podem ingressar de onde quer que estejam. Isso pode facilitar interações sociais entre colegas e proporcionar uma experiência mais consistente, seja em casa ou no escritório.

ADAPTAÇÕES

Em um ambiente de trabalho virtual, os funcionários participam por meio de um headset colocado sobre os olhos e ouvidos. Para locais de trabalho virtuais inclusivos, essa tecnologia deve ser capaz de acomodar as necessidades de todos. Há uma oportunidade de fazer adaptações que permitam que todas as pessoas participem do metaverso.

Webex Hologram, da Cisco

Por exemplo, há uma iniciativa que busca desenvolver tecnologia que terá um avatar com inteligência artificial para pessoas com diferentes níveis de habilidades motoras. Isso significa que elas poderão navegar no mundo da RV usando seus movimentos oculares, em vez dos sensores de movimento típicos.

Adaptações para tipos adicionais de deficiência também devem ser abordadas, incluindo deficiências intelectuais, sensoriais ou de aprendizado.

CUSTO

Os headsets mais caros oferecem funcionalidades visuais e de áudio de maior qualidade, o que pode resultar em uma experiência mais imersiva. Mas algumas das principais empresas de RV estão criando fones de ouvido de baixo custo para permitir uma entrada mais acessível na tecnologia.

É importante garantir que as diferenças de status socioeconômico não separem quem pode ou não participar do metaverso. Colegas que usam fones de ouvido mais baratos tendem a ter uma experiência de usuário inferior quando ingressam na RV. Por isso, é importante que as empresas estabeleçam uma padronização, fornecendo a mesma tecnologia a todos.

REPRESENTATIVIDADE

Em um campus de trabalho virtual, todo mundo é representado por um avatar. A maioria dos avatares é baseada em representações humanas personalizáveis, semelhantes a personagens de desenho animado. No entanto, para uma verdadeira inclusão, deve haver opções para todos os tipos de autoexpressão.

é importante que as empresas estabeleçam uma padronização, fornecendo a mesma tecnologia a todos.

Há também opções para os usuários adotarem avatares não humanos. Isso pode permitir que um peso maior seja colocado naquilo que as pessoas dizem e pensam, e não em como elas aparecem fisicamente. Também pode incentivar as avaliações com base no mérito, em vez da atual “meritocracia de espelho”, circunstância em que os colegas são inconscientemente favorecidos por serem semelhantes.

REGULAMENTAÇÃO

É importante não cair na armadilha de considerar a RV como algo separado do “mundo real” e acabar desconsiderando as más condutas no local de trabalho que ocorrem por lá. Ao considerar novas regulamentações, é crucial estar ciente de como os maus comportamentos serão tratados neste novo terreno.

Por exemplo, recentemente surgiram notícias de que mulheres foram assediadas sexualmente no Horizon Worlds. Diante disso, a plataforma habilitou uma ferramenta de segurança opcional chamada “zona segura”, onde os avatares não podem ser tocados dentro de um determinado perímetro ao seu redor.

GOVERNANÇA

A governança em RV é importante para garantir que os usuários sejam tratados de forma inclusiva. Já foi sugerido que a tecnologia blockchain pode vir a ser usada na moderação do conteúdo em RV. Este seria um processo democrático, no qual os usuários teriam direitos e votariam nas regras que regem os comportamentos permitidos no metaverso.

A alternativa é que a governança ocorra por meio de uma autoridade central, o que pode ser problemático caso essa autoridade estiver agindo de maneira tendenciosa, que não priorize um trabalho inclusivo.


SOBRE A AUTORA

Grace Lordan é fundadora e diretora da Inclusion Initiative e professora associada da London School of Economics. Paris Will é pesquis... saiba mais