Creators e saúde mental: uma questão que não pode ser tabu
Um em cada cinco criadores de conteúdo admite sofrer de ansiedade, segundo pesquisa da plataforma Criadores ID
A questão da saúde mental, que merece nosso foco e atenção constantes, ganhou muita relevância durante a pandemia. Esse destaque, em um período no qual a vida social basicamente acontecia de forma estritamente on-line, contribuiu muito para colocar o tema no radar coletivo e na agenda pública.
Talvez esse tenha sido o grande legado do período, pois a questão da saúde mental é ainda um tema sensível e intangível para grande parte da população.
No pós-pandemia, a conversa parte de outro lugar, ainda que não tenha mudado totalmente. Em se tratando da realidade profissional dos creators, essa pauta ganha ainda mais relevância, dada a natureza de sua atividade, totalmente vinculada a realidade e dinâmica das redes sociais.
Em um levantamento feito com 450 influenciadores (com 950 mil inscritos em seus canais, em média), 22,2% declararam sofrer de transtorno de ansiedade e 6,4%, de depressão. A pesquisa foi realizada pela Criadores ID, plataforma que reúne informações sobre os criadores de conteúdo do Brasil.
PRESSÃO CONSTANTE
São muitos os fatores de pressão externa e interna que contribuem para essa maior sensibilidade. Entre eles:
- Dinâmica de comparação com a concorrência: aquela vida retratada pelo creator X é real? Por que o creator Y está com determinada marca e eu não? Como queria ter sido convidado para o evento Z etc.
- Haters: perfis abertos são muito vulneráveis a receber diferentes tipos de comentários/ mensagens, inclusive os mais negativos e odiosos possíveis.
- Pressão para sempre produzir muito e melhor: cobrança e/ ou autocobrança para ser inovador, disruptivo, gerar resultados/ engajamento, tanto junto à sua audiência quanto aos seus parceiros de negócio.
O que podemos fazer para tornar a discussão sobre saúde mental perene, sem diluir sua força no dia a dia?
Acredito que uma das respostas está em oferecer conteúdos relevantes e transformadores, além de potencializar creators e comunicadores que abordem temas humanos e sociais.
Como enfrentar a pressão constante gerada por uma dinâmica de incessante inovação por parte das plataformas, com novidades que impactam de forma direta o trabalho dos criadores? O que mais engaja? Qual o formato do momento? Quais as mudanças no algoritmo?
O algoritmo, responsável pela entrega dos conteúdos, é basal para o trabalho de um criador. Ao mesmo tempo, é um elemento algo misterioso, que muda a cada dia. Como acompanhar essa dinâmica e não ser engolido por ela?
ROTINA MAIS SAUDÁVEL
Considero fundamental para o creator o foco no seu propósito comunicador, no seu valor e na autenticidade da mensagem que quer transmitir. Ele não pode se balizar apenas em resultados metrificáveis, ou tentar perseguir incansavelmente a novidade pela novidade.
Ele precisa entender em profundidade sua comunidade, seu nicho, o que lhe é relevante. E investir, com uma conduta coerente e consistente e de visão a longo prazo, na qualidade desse relacionamento.
A seguir, listo algumas dicas que podem ajudar criadores na busca por uma rotina profissional mais saudável:
- Tenha clareza no propósito da sua marca pessoal e no objetivo por trás do seu trabalho como criador e produtor de conteúdo.
- Desenvolva uma estratégia de consolidação da sua marca pessoal dentro dos territórios de conteúdo nos quais deseja se tornar referência. Seja consistente e coerente com essa estratégia e entenda que se trata de uma construção que demanda tempo, a fim de evitar operar somente de forma reativa a resultados (engajamento, associação às marcas, comentários etc.).
- Encare a atividade de creator como profissão, não como estilo de vida, estabelecendo uma clara divisão entre a rotina profissional e a pessoal.
- Conte com ajuda profissional multidisciplinar para entender que trabalhar com exposição nas redes sociais é, muitas vezes, mostrar sua inteireza, sua verdade. E que isso pode colocá-lo em uma posição de vulnerabilidade emocional.