Culpada por ser feia e por ser bonita: a aparência das mulheres está sempre errada

Pesquisa encontra inúmeros casos de críticas à aparência de mulheres no trabalho, que parece nunca estar totalmente certa

Crédito: Freepik

Amy Diehl e Leanne M. Dzubinski 7 minutos de leitura

As mulheres têm suportado críticas sobre sua aparência desde que entraram em espaços públicos. Combater esse viés é mais importante do que nunca, pois a desaprovação da aparência e do corpo das mulheres ainda acontece no ambiente de trabalho todos os dias, seja de maneira sutil ou explícita.

Por exemplo, a uma profissional trabalhava em uma agência de relações públicas, o diretor executivo pediu que ela "ajudasse a recepcionista a perder peso." Ele considerava a "aparência desleixada" da recepcionista uma má primeira impressão para as pessoas que entravam no escritório.

Outra profissional trabalhava em uma organização onde havia muitas mulheres em cargos de diretoria, mas quase todas eram "magras, loiras, brancas e geralmente altas também."

No entanto, ser atraente pode não ser uma vantagem. Colegas disseram a uma cientista que ela era "bonita demais para ser levada a sério" e que ela deveria "se esforçar para transmitir [sua] inteligência." Em outro caso, as supervisoras de uma assistente social estavam preocupadas que ela fosse uma distração para os clientes homens. O que ela fez? Ganhou peso para "se tornar menos atraente."

De acordo com o senso comum, pessoas fisicamente atraentes teriam vantagens no ambiente de trabalho. Embora existam pesquisas sobre essa "vantagem da beleza", elas não abordam em profundidade as diferenças entre mulheres e homens.

Como acontece muitas vezes no ambiente profissional (e fora dele também), o que vale para os homens não é necessariamente válido para as mulheres. Não só aquelas tidas como pouco atraentes enfrentam desvantagens no trabalho, mas as atraentes também. De fato, as mulheres são criticadas por sua aparência, não importa o quão belas e elegantes (ou não) elas sejam.

Em nossa pesquisa com 913 mulheres líderes, além de postagens em mídias sociais, artigos e nossas próprias experiências, encontramos inúmeras maneiras de mostrar que a aparência das mulheres no trabalho "nunca está totalmente certa."

BEM, MAS NÃO TÃO BEM

As mulheres se equilibram em uma linha tênue quando se trata de vestir-se para ir trabalhar. Uma pesquisadora de serviços de saúde observou que algumas mulheres foram criticadas por se vestirem de forma "muito sexy", enquanto outras foram consideradas "muito desleixadas." Ela chamou isso de "a corda bamba impossível de parecer bem, mas não tão bem."

Muitas mulheres foram instruídas a cobrir seus ombros, braços, pernas ou costas, basicamente escondendo seus corpos. Um diretor de recursos humanos mediu o comprimento da saia de uma profissional e chegou à conclusão que "as pernas eram longas demais.”

No meio do verão, um colega disse a uma professora que sua blusa de linho sem mangas “não era profissional” e “expunha demais.” Outra professora foi informada de que era muito “voluptuosa” e deveria usar calças e saias largas, o que a deixou consciente de si mesma ao virar as costas para seus alunos.

Em outros casos, as mulheres foram criticadas por roupas que "se destacavam" demais ou de menos. Quando uma líder de tecnologia foi preterida para um emprego, o único feedback que recebeu foi que "seus saltos vermelhos transmitiam a mensagem errada e [ela] deveria tentar se misturar mais.” O resto de sua roupa era cinza e branco.

críticas sobre aparência resultaram em comportamentos discriminatórios na contratação, remuneração e promoção.

Mulheres em cargos de liderança disseram à funcionária de um banco que ela deveria usar roupas de marcas famosas e cores mais vibrantes porque estava "perdida na multidão". Quando ela apareceu com roupas mais coloridas, disseram para ela “pegar leve” porque era “ousado demais.”

O cabelo é outro aspecto da aparência das mulheres que nunca está totalmente certo. Mulheres com cabelo loiro sofreram com falta de credibilidade e muitas vezes não foram levadas a sério. Tanto o cabelo cacheado quanto o grisalho eram inaceitáveis, assim como o cabelo de cores vibrantes.

O cabelo das mulheres negras é especialmente problemático. Quando uma profissional negra fez tranças, não foi reconhecida no escritório com a desculpa de que ela "mudava o penteado com tanta frequência que as pessoas nunca conseguiam lembrar quem ela era."

Crédito: PxHere

Maquiagem e unhas são outras maneiras pelas quais as mulheres não podem chamar atenção para si mesmas. As mulheres foram criticadas quando sua maquiagem não estava "certa." Basicamente, espera-se que elas usem maquiagem sem parecer que estão maquiadas.

Em nosso estudo, as mulheres também enfrentaram preconceito de tamanho, independentemente de sua constituição física. Uma líder de saúde foi informada de que, por causa de sua altura (1,80 m), ela poderia "ser percebida como dominadora." No entanto, uma líder de ensino superior de 1,52 m descobriu que sua baixa estatura era a maior barreira.

Muitas participantes expressaram como as pessoas se sentiam no direito de comentar sobre seu peso. Uma bibliotecária foi informada de que ela era tanto “gorda demais” quanto “magra demais.” Colegas de classe questionaram se uma estudante de medicina, que tinha uma doença crônica, deveria ter permissão para se tornar médica porque ela era “obesa.”

As mulheres se equilibram em uma linha tênue quando se trata de vestir-se para ir trabalhar.

Por fim, havia a questão de estar ou não em conformidade com o estereótipo feminino. Uma bancária contou que colegas disseram a ela para “usar mais vestidos porque o presidente achava que era isso que as mulheres deveriam usar.” Já uma professora comentou que sua forma de se vestir era “criticada por pais e administradores por ser muito feminina”.

Pessoas que não se limitam ao seu gênero de nascimento podem ser especialmente sujeitas a críticas sobre a aparência. Uma executiva de ensino superior observou: "minha identidade de gênero é feminina, mas me apresento de forma andrógina. As pessoas comentam sobre minha aparência dizendo o que ficaria bem em mim (roupas femininas tradicionais) ou que meu cabelo é muito curto, 'como o de um homem', ou que eu ficaria bem de batom".

Nossos dados mostram que muitas críticas sobre a aparência das mulheres resultaram em comportamentos discriminatórios na contratação, remuneração e promoção. Mas, mesmo quando os comentários parecem inofensivos, eles fazem com que as mulheres não sejam levadas a sério e gastem energia lidando com críticas irrelevantes, em vez de fazer o trabalho.

Crédito: Joel Muniz/ Unsplash

A mensagem por trás dessas críticas é que corpos femininos não pertencem ao local de trabalho. A boa notícia é que há formas de enfrentar esse tipo de situação.

Autoconsciência

Como nossos dados mostram, tanto homens quanto mulheres podem se engajar nesse tipo de comportamento tendencioso. Como líder, considere no que você acredita e como chegou a essas crenças. Adote o hábito de se perguntar sobre o viés de aparência ao tomar decisões sobre contratação, promoção, remuneração e outras oportunidades.

Use a técnica do "inverter para testar" para verificar se a crítica sobre uma mulher é válida. Por exemplo, você diria a um profissional do sexo masculino que ele está muito gordo ou muito magro ou muito sexy? Ou que ele deveria "sorrir" mais?

Trabalho remoto

O trabalho remoto pode reduzir algumas formas de viés de aparência, enquanto aumenta outras. Na maioria dos casos, as câmeras estão focadas na cabeça e nos ombros das pessoas. Isso ajuda a reduzir preconceitos baseados no corpo e nas roupas.

No entanto, como o foco em reuniões virtuais está no rosto, preconceitos baseados no cabelo, maquiagem e expressões faciais podem ser ampliados. Deixe que os funcionários desliguem suas câmeras durante reuniões virtuais, em especial quando não estiverem participando ativamente.

Chame a atenção

Aliados podem reduzir o viés de aparência chamando a atenção para ele quando acontece. Se você ouvir alguém sendo criticado por sua aparência, diga algo. Se estiver em uma reunião onde alguém está sendo considerado para um cargo e sua aparência é criticada, aponte que isso não impacta a capacidade da pessoa de fazer o trabalho.

Ao aumentar a conscientização e chamar a atenção para o viés de aparência quando ele acontece, as mulheres e todos os funcionários serão capacitados para fazer o seu melhor trabalho sem distrações que não têm nada a ver com sua competência.

Como outras formas de preconceito, podemos erradicar o viés de aparência e tornar os ambientes profissionais mais equitativos e inclusivos para todas as mulheres.


SOBRE A AUTORA

Amy Diehl é chief information officer no Wilson College, palestrante e pesquisadora sobre equidade de gênero. Leanne M. Dzubinski é de... saiba mais