Cursos de qualificação fazem mesmo diferença na hora de procurar emprego?

CEOs e profissionais compartilham o que de fato ajuda a conquistar a vaga dos sonhos

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Jessica Klein 3 minutos de leitura

No verão de 2019, Bob McDonough decidiu se inscrever em um curso intensivo de desenvolvimento web full stack na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. O objetivo era claro: investir no chamado “upskilling” – aprender novas habilidades ou aprimorar as que já têm para se destacar no mercado de trabalho.

Durante o curso, McDonough chegou a duvidar se todo o tempo e dinheiro investidos valeriam a pena. Mas, ao final, já tinha em mãos um portfólio bem estruturado, um GitHub atualizado e novas habilidades adicionadas ao LinkedIn.

Menos de três meses depois, conseguiu um emprego fixo em um estúdio de design. “Alguém viu meu perfil e me ligou quase imediatamente”, conta.

Hoje, porém, ele acredita que outros não teriam a mesma sorte. As habilidades mais demandadas estão mudando em um ritmo mais rápido e quem busca emprego relata cada vez mais frustrações ao tentar se recolocar no mercado.

Nos anos 2010, fazer upskilling muitas vezes se resumia a entrar em um curso de programação e esperar que desse certo. Mas transformações rápidas – como os avanços em inteligência artificial – tornaram o caminho para a estabilidade profissional muito mais incerto.

Isso não quer dizer que os cursos de qualificação tenham perdido valor. Quando combinados ao aprendizado contínuo no dia a dia, eles mostram aos empregadores qualidades essenciais em um mercado em constante mudança: adaptabilidade, disposição para aprender e resiliência.

MENSAGENS CONTRADITÓRIAS

Hoje, as empresas tendem a valorizar mais a experiência prática do que habilidades específicas. Mas dominar novas tecnologias ainda faz toda a diferença.

Diana Rocha, 37 anos, gerente de produto na Applied (empresa de recrutamento preditivo), concluiu recentemente um curso de inteligência artificial pela DeepLearning. Em seguida, testou seus conhecimentos na plataforma Workera e ficou no 75º percentil.

Ela incluiu esse resultado no LinkedIn e logo percebeu o impacto: passou a receber de duas a três mensagens por semana de recrutadores, contra uma ou duas por mês anteriormente. Rocha já havia conquistado sua vaga atual graças a um mestrado e cursos da Coursera em economia comportamental.

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Mesmo assim, não acredita que o aumento no interesse tenha vindo apenas da nova certificação em IA. Seu perfil também destaca anos de experiência em gestão de produto – e, para ela, os recrutadores buscam justamente essa combinação de bagagem prática com habilidades atualizadas.

Esse equilíbrio, segundo Nora Gardner, sócia-sênior da McKinsey, é o que realmente chama atenção. “Certificações demonstram comprometimento com aprendizado”, explica. “Mas o diferencial está em como colocar isso em prática. Usar ferramentas de IA para melhorar processos, por exemplo, demonstra adaptabilidade de um jeito que nenhum diploma consegue.”

MAIS FÁCIL DO QUE PARECE?

Aprender dentro do próprio trabalho é a chave para que o upskilling realmente faça diferença. Para Molly Johnson-Jones, CEO e cofundadora da plataforma de busca de empregos Flexa, muitas empresas que oferecem cursos acabam apenas “vendendo um sonho”.

Segundo ela, quem quer mudar de carreira pode começar a transição dentro da empresa onde já trabalha. O segredo é identificar “quais partes do seu trabalho atual podem se aproximar da nova função desejada”.

Por exemplo, se a ideia é migrar do marketing para a tecnologia, a dica é se envolver mais com a equipe de TI e se aproximar dos gestores da área.

transformações rápidas, como os avanços em IA, tornaram o caminho para a estabilidade profissional muito mais incerto

A geração Z parece estar preparada para esse desafio. Um estudo da Flexa, que analisou mais de 40 mil vagas e quase 30 mil candidatos, mostra que os GenZs têm 68% mais chances de priorizar o desenvolvimento pessoal em sua busca por emprego em comparação com gerações anteriores.

Apesar de serem millennials, McDonough e Rocha já adotaram essa estratégia. Pelas experiências que tiveram, parece que funciona. Se os mais jovens estão priorizando a requalificação, tudo indica que esse será o futuro.

“O hype da IA vai passar em algum momento”, afirma Rocha. “Mas não quero ficar para trás por não ter me atualizado nessa área.”

McDonough concorda. Para ele, a inteligência artificial pode ser a tendência do momento, mas os executivos estão sempre de olho nas próximas novidades, definindo quais habilidades serão mais valiosas.

“É preciso acompanhar as mudanças”, conclui. “Se não, você acaba ficando para trás.”


SOBRE A AUTORA

Jessica Klein é jornalista. saiba mais