Descubra por que aqueles colegas egoístas são tão amigos uns dos outros

De acordo com um estudo da Universidade de Illinois, eles conseguem se entender em um nível que o resto das pessoas não alcança

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Clint Rainey 3 minutos de leitura

Se dizem que o trabalho em equipe torna os sonhos realidade, por que será que sempre parece haver um grupo de colegas egoístas que colaboram apenas uns com os outros?

Uma nova pesquisa sugere que a resposta para essa pergunta poderia estar no fato de que esses colegas cooperam entre si mesmo quando saem prejudicados. O motivo? Nosso próprio comportamento é o principal fator que molda nossas expectativas em relação aos outros. 

Essa teoria é defendida em um artigo de ciência cognitiva publicado recentemente por psicólogos do Instituto Beckman de Ciência e Tecnologia Avançada da Universidade de Illinois. O estudo descobriu que pessoas que têm uma natureza egoísta tendem a punir a generosidade e recompensar o egoísmo, mesmo quando isso as prejudica.

Para julgar se ações são generosas ou egoístas, os seres humanos usam um conjunto de normas sociais.

Cientistas frequentemente argumentam que as normas sociais são o que orienta as decisões de uma pessoa em situações de competição. “A visão predominante antes deste estudo era que os indivíduos criam expectativas com base no que consideram a norma”, diz Paul Bogdan, autor principal do artigo.

“Se todos ao meu redor são egoístas, então vou aprender a aceitar o egoísmo e agir da mesma forma. Mas mostramos que o julgamento sobre o comportamento alheio depende do nosso próprio comportamento.”

Para julgar se ações são generosas ou egoístas, os seres humanos usam um conjunto de expectativas subjetivas – padrões frequentemente considerados como baseados em normas sociais.

Comportamentos que se desviam da norma podem provocar uma reação negativa (o que eles chamam de “punição”). Mas os pesquisadores sugerem outra hipótese: e se as expectativas forem moldadas pelas tendências individuais de comportamento?

QUEM GANHA E QUEM PERDE

A equipe explorou como as pessoas criam expectativas e decidem responder conduzindo uma série de testes envolvendo o famoso “jogo do ultimato” – um experimento clássico no qual dois jogadores são informados de que receberão uma grande quantia em dinheiro e deverão dividi-la entre si.

Esse jogo ajuda a avaliar as questões econômicas, sociais e psicológicas envolvidas na distribuição de recursos entre pessoas, sendo uma das aplicações comuns entender como a justiça e a desigualdade afetam o trabalho em equipe.

No experimento, o primeiro jogador (proponente) decide como o dinheiro será dividido: igualmente ou de forma injusta, beneficiando apenas um deles. O detalhe é que, se o segundo jogador (respondente) rejeitar a oferta, ambos saem de mãos vazias.

O estudo descobriu que pessoas que têm uma natureza egoísta tendem a punir a generosidade e recompensar o egoísmo, mesmo quando isso as prejudica.

Normalmente, os respondentes embolsam mais dinheiro quando os proponentes são generosos. Porém, os pesquisadores descobriram que pessoas egoístas não necessariamente se importam com o resultado; elas parecem gostar mais da interação com outros indivíduos egoístas, mesmo que isso signifique ter que abrir mão do dinheiro. “As pessoas gostam de quem é parecido com elas mesmas – e isso é surpreendente”, explica Bogdan.

Eles repetiram os experimentos e descobriram que alguns indivíduos, em determinado momento, passaram a punir a generosidade e recompensar o egoísmo – mas somente depois que seu próprio comportamento havia mudado, reforçando que eram suas próprias tendências que moldavam as expectativas, não as normas sociais. 

“Grupos de pessoas egoístas são mais tolerantes com outros indivíduos que agem como eles”, observa Florin Dolcos, um dos autores. “Para fazer parte desse grupo, os recém-chegados podem exibir o mesmo comportamento.”

A equipe conclui que a natureza intrínseca de uma pessoa provavelmente também influencia o comportamento em outras áreas da vida. “Isso tem relevância prática para diversos tipos de interações e avaliações sociais”, diz Dolcos.


SOBRE O AUTOR

Clint Rainey é jornalista investigativo, mora em NYC e é colaborador da Fast Company. saiba mais