Desigualdade de gênero: apenas 6% dos CEOs em todo o mundo são mulheres

Segundo relatório publicado pela Deloitte, a igualdade de gênero entre líderes de empresas provavelmente só será conquistada em 2111

Créditos: Pressfotos/ Lira Vega/ Rawpixel.com

Stacy Janiak e Anna Marks 5 minutos de leitura

Em uma era marcada por grandes inovações e transformações, a realidade é que o progresso da igualdade de gênero continua sendo lento e irregular nas diferentes partes do mundo.

A igualdade de gênero ocorre quando há na sociedade a participação proporcional de todas as identidades de gênero, inclusive na diretoria das empresas. Mas há ainda muito a ser feito se quisermos acabar com a desigualdade de gênero, passo fundamental para tornar o mundo dos negócios e a sociedade mais justos e sustentáveis.

Não é apenas o certo a se fazer, é também o melhor para os negócios. Pesquisas revelam que instituições mais diversas em termos de gênero tendem a ter um desempenho superior em comparação com aquelas menos diversas.

O relatório Women in the Boardroom (Mulheres na Diretoria), recentemente publicado pela Deloitte, revela a situação das mulheres em cargos de comando no mundo. Apenas 6% dos CEOs são mulheres. Cerca de 23,3% das cadeiras em conselhos corporativos são ocupadas por mulheres e apenas 8,4% dos conselhos são presididos por mulheres.

Fonte: Women in the Boardroom/ 8ª edição/ Deloitte

Neste ritmo, como mostra a nossa pesquisa, essas disparidades provavelmente não serão superadas antes de 2038. Além disso, se continuar neste ritmo lento de progresso, a igualdade de gênero entre presidentes de conselhos e CEOs só será alcançada em 2073 e 2111, respectivamente.

Apesar das reformas em favor da igualdade de gênero implementadas por diversos países e das iniciativas inovadoras do setor público e do setor privado, ainda é urgentemente necessário quebrar antigas barreiras sociais e culturais, lutar contra os preconceitos e abrir novos caminhos para um futuro mais inclusivo e igualitário.

Acelerar o ritmo do progresso da igualdade de gênero no mundo envolve identificar de que formas as mulheres podem ser bem-sucedidas em cargos de liderança, oferecer a elas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento – para que consigam tanto promover quanto acelerar seu crescimento – e estimular uma maior colaboração, em escala mundial, entre diferentes setores, mirando a superação dessa desigualdade.

Aqui estão três medidas que profissionais em cargos de comando podem adotar para buscar a igualdade de gênero na liderança corporativa.

1. Tomar a responsabilidade para si

Ampliar a igualdade de gênero dentro de uma organização começa com uma avaliação honesta sobre a composição da diretoria em atividade e sobre o plano de sucessão. Por exemplo, profissionais em cargos de comando devem sempre se fazer perguntas como:

- De que formas nossa diretoria chega a um equilíbrio entre experiência, habilidade e recorte social ao lidar com as complexas questões do mundo dos negócios de hoje e do futuro?

- De que formas valorizamos o conjunto certo de habilidades, a capacidade de liderança e o tino para os negócios no processo de contratação e nos planos de sucessão?

- De que formas garantimos que nossos planos de sucessão estão promovendo mulheres na mesma proporção que homens, e como identificamos se estamos perdendo chefes mulheres em momentos-chave do processo de promoção?

Crédito: master1305/ iStock

Se as respostas a essas perguntas não apontarem para a igualdade, os líderes devem analisar mais de perto as mudanças nos processos e programas em curso para propiciar mudanças profundas e duradouras.

Isso pode incluir um plano de sucessão calculado, que ofereça mais oportunidades para as mulheres e dar apoio e oferecer recursos para beneficiar as melhores candidatas a cargos de chefia.

Pode incluir também estratégias de recrutamento mais voltadas para habilidades essenciais à nova função do que a cargos ocupados anteriormente, para trazer de volta ao páreo mulheres qualificadas que haviam ficado de fora. E ainda, iniciativas que promovam o aprendizado e o desenvolvimento de mulheres e que tenham o potencial de ampliar o espectro de cargos de liderança disponíveis para elas.

2. Acelerar a velocidade do progresso

Aqueles que ocupam cargos de liderança devem saber identificar oportunidades de crescimento e desenvolvimento em áreas em expansão, como a da IA generativa. Com a inovação sem limites do setor de tecnologia, as oportunidades de aprendizado e desenvolvimento tornam-se fundamentais para manter a atividade no mercado.

Ao buscar a igualdade de gênero em escala mundial, estamos moldando um futuro no qual todas as vozes importam.

Isso se mostra ainda mais importante no crescente campo da IA generativa, já que as mulheres têm pouca participação no setor de tecnologia — e pelo fato de que mulheres são mais propensas a ocupar cargos que podem ser substituídos por essa tecnologia. generativa.

Segundo relatório recentemente publicado pela Deloitte, State of GenAI in the Enterprise [Situação da IA Generativa nas Empresas], quase três quartos dos executivos planejam adequar suas estratégias de gestão de talentos nos próximos dois anos, devido ao avanço da IA generativa, investindo em mudanças nos sistemas de trabalho e na capacitação. Essa mudança vem como uma ótima oportunidade de ampliar a igualdade de gênero e a inclusão no campo da IA generativa.

3. Fazer alianças

Os executivos devem se unir para encarar a questão da igualdade de gênero. Para que ela seja conquistada, é necessária uma colaboração que ultrapasse fronteiras. Todo o setor privado, governos e órgãos reguladores, investidores, organizações locais e a sociedade como um todo podem implementar projetos e políticas voltadas para o empoderamento de mulheres em cargos de comando.

Ao buscar a igualdade de gênero em escala mundial, não estamos simplesmente corrigindo os parâmetros de representação. Estamos moldando um futuro no qual todas as vozes importam, no qual qualquer pessoa pode se tornar um líder e no qual nossa força e sabedoria coletivas de fato refletem o mundo diverso em que vivemos.


SOBRE A AUTORA

Stacy Janiak é CEO assistente da Deloitte Global e Anna Marks é líder do conselho de diretores da Deloitte Global. saiba mais