Dia da Marmota: 3 lições sobre finanças do filme “Feitiço do Tempo”
O que uma comédia sobre um sujeito mal-humorado que revive sempre o mesmo dia tem a ver com dinheiro? Mais do que você pode imaginar
Lançado em 1993, o filme ”Groundhog Day” (Dia da Marmota, em tradução literal, mas que recebeu o nome de "Feitiço do Tempo" no Brasil) é famoso por apresentar ao resto do mundo a cidade de Punxsutawney, no estado norte-americano da Pensilvânia (ela existe de verdade) e dar nova vida ao feriado menos emocionante do calendário.
Não é brincadeira: comemorado em 2 de fevereiro, o Dia da Marmota é uma tradição. As pessoas acreditam que o comportamento de uma marmota, especialmente se ela vê ou não a sua sombra, pode prever a chegada da primavera. E a festa mais famosa do país acontece em Punxsutawney.
Lá, quem faz a previsão é uma marmota chamada Punxsutawney Phil. Reza a lenda que, se nesse dia ela vê sua sombra ao sair da toca, haverá mais seis semanas de inverno. Se não ver, é sinal de que a primavera logo vai chegar.
No filme, o personagem Phil Connors (interpretado por Bill Murray), por motivos nunca revelados, revive repetidamente o dia 2 de fevereiro. Se olharmos com atenção, podemos tirar pelo menos três boas lições sobre finanças – e sobre a vida em geral – nas entrelinhas de "Feitiço do Tempo".
1. Viva o momento, mas lute por um futuro melhor
Phil Connors é um meteorologista que trabalha em um canal de TV. Ele mora em uma cidade e se irrita por ter que cobrir o Dia da Marmota em Punxsutawney pela quarta vez. Para seu desespero, a certa altura ele descobre estar preso em um loop temporal, revivendo o Dia da Marmota todos os dias.
Quando Phil percebe pela primeira vez que suas ações não têm consequências (pois no dia seguinte tudo terá voltado à estaca zero), ele abraça o hedonismo de viver o momento. Brinca de fugir da polícia, devora uma mesa cheia de guloseimas, seduz mulheres e rouba dinheiro de um carro forte.
Mas esses pequenos prazeres vão perdendo a graça conforme Phil contempla um futuro que nunca muda. Ele tenta se matar para dar um fim à situação, mas sempre acorda em sua cama no dia seguinte – ou melhor, no mesmo dia 2 de fevereiro.
As coisas só começam a mudar quando Phil percebe que pode viver o momento e criar um futuro melhor. Por exemplo, ele começa a aprender piano – com uma professora que acha que é o primeiro dia de aula dele cada vez que o vê.
As aulas proporcionam algo interessante para fazer a cada dia, permitindo-lhe melhorar ao longo do tempo, apesar do loop temporal reiniciar todas as manhãs.
Que lição podemos tirar?
Quando se trata de dinheiro, muitas vezes temos o mesmo tipo de pensamento binário que Phil demonstra. Assim como ele em sua fase de agir sem pensar, muita gente gasta sem pensar em economizar para a aposentadoria porque "nunca vai acontecer".
Mas, assim como Phil em sua fase de desespero, muitos de nós se privam de algumas coisas e evitam gastar dinheiro por medo de um futuro incerto.
Phil nos mostra que viver o momento e trabalhar para um futuro melhor é não apenas a melhor maneira de escapar de um loop temporal, mas também a melhor maneira de fazer as pazes com suas finanças.
Você pode cuidar do seu “eu atual” e do seu “eu futuro” gastando com coisas que trazem alegria e significado à sua vida no momento, mas sem deixar fazer uma reserva para os anos à frente.
Ninguém garante que estaremos vivos amanhã, mas se preparar para o futuro pode ajudar a dar significado ao presente.
2. Tire o melhor proveito daquilo que você tem
Punxsutawney em fevereiro dificilmente seria a hora ou o lugar que Phil escolheria para ficar preso. Quando se dá conta do que está acontecendo, ele deseja poder repetir um dia maravilhoso que passou nas Ilhas Virgens.
Embora Phil passe boa parte do filme lamentando a situação, ele eventualmente aprende a aproveitar as oportunidades que existem. Além de estudar piano, ele aprende a fazer esculturas de gelo, passa a conhecer todos os moradores da cidade, ajuda várias pessoas e compra todo tipo de seguro que o corretor lhe oferece.
Punxsutawney pode não ser as maravilhosas Ilhas Virgens, mas Phil descobre como torná-la um lugar onde ele se sente feliz.
O que isso nos ensina
Não é provável que alguém tenha que lidar com um loop estilo "Feitiço do Tempo", mas é bem comum as pessoas terem a sensação de estar presas em algum lugar, seja em um emprego sem perspectivas, uma vizinhança desagradável ou uma situação familiar difícil.
Ver o lado positivo em situações difíceis não só ajuda o seu humor, mas também pode fazer bem a suas finanças. Por exemplo, se você tem a sorte de trabalhar com colegas maravilhosos, mesmo que não goste do emprego, é menos provável que saia por aí comprando coisas e gastando dinheiro para se sentir melhor.
Existe um lado bom mesmo nas piores situações. Procura pelas coisas boas ao mesmo tempo em que trabalha para mudar a situação pode poupar desgostos, tempo e dinheiro.
3. Você só pode controlar a si mesmo
Phil passa grande parte do filme querendo controlar tudo ao seu redor. Mesmo antes de se tornar vítima do loop temporal, ele se recusa a reconhecer o perigo da tempestade de neve que se aproxima da cidade porque isso não é conveniente para ele.
Uma vez preso em um 2 de fevereiro interminável, ele tenta seduzir sua produtora, Rita (Andy McDowell), apenas para ser rejeitado todas as vezes. Tenta evitar interações sociais com seu antigo colega de escola, o corretor de seguros Ned Ryerson (Stephen Tobolowsky), que não se deixa intimidar por insinuações ou cara feia.
Mas quando Phil percebe que não pode controlar o clima ou as pessoas, começa a focar no que pode controlar: ele mesmo. Em vez de tentar fazer o clima ou os outros sigam o que ele quer, Phil aceita que nada vai mudar e decide mudar a si mesmo.
Ele não tenta mais enfrentar a tempestade; deixa Rita em paz; trata Ned com bondade e ouve sua conversa de vendedor. Isso leva a um dia perfeito onde o clima não importa, Rita percebe que ele é um homem interessante e Phil faz de Ned um corretor de seguros muito feliz.
Como aplicar esta lição
Quando se trata de dinheiro, muitas vezes desejamos que as coisas fossem diferentes. Lamentamos o resultado da bolsa de valores e fazemos investimentos arriscados na esperança de compensar as perdas. Reclamamos do salário enquanto gastamos muito além do que devíamos. Desabafamos com qualquer um que queira ouvir sobre a herança que a tia Estelle desperdiçou.
Assim como Phil se recusando a aceitar a realidade da tempestade de neve ou tentando manipular Rita, essas reclamações baseiam-se na ideia de que é possível mudar as coisas apenas pelo poder da vontade. Mas não podemos controlar os mercados, nossos empregadores ou nossos parentes ricos. Só podemos controlar a nós mesmos.
Aceitar que você só pode controlar a si mesmo é aceitar a realidade: a realidade de que o mercado vai oscilar, de que é preciso reduzir os gastos ou conseguir um emprego que pague melhor e que os parentes ricos podem (e vão) fazer o que bem entenderem com o dinheiro deles.
Quando você chegar a esse nível de aceitação, conseguirá focar nas coisas que pode controlar. E, como Phil, vai descobrir que se sente melhor consigo mesmo e está mais perto daquilo que realmente deseja.