Efeito Zoom: videoconferências aumentam insatisfação com a aparência

Pesquisadores estão estudando uma possível ligação entre o bate-papo por vídeo e distorções da autoimagem

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Emily Hemendinger 4 minutos de leitura

A pandemia de Covid-19 inaugurou uma nova era nas conexões digitais: diante da impossibilidade de fazer reuniões presenciais, muitas pessoas se viram frente a frente com seus colegas de trabalho e entes queridos através de uma tela. No entanto, não é de se estranhar que o hábito de se ver constantemente nas telas traga algumas desvantagens.

Antes da pandemia, estudos mostraram que os cirurgiões estavam observando um número cada vez maior de pacientes que solicitavam alterações em suas imagens para corresponder a fotos filtradas ou adulteradas em aplicativos de redes sociais. Agora, estão percebendo uma nova onda de pedidos de cirurgias plásticas relacionadas a videochamadas. 

Em um estudo sobre procedimentos cosméticos durante a pandemia, 86% dos cirurgiões plásticos relataram que as chamadas de vídeo foram o motivo mais comum de preocupações estéticas entre seus pacientes.

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Nos últimos 10 anos, trabalhei com transtornos obsessivo-compulsivos, transtornos alimentares e de ansiedade. Desde a pandemia, também tenho visto um número crescente de clientes relatando que enfrentam problemas de aparência relacionados às reuniões por vídeo e às redes sociais.

Há vários fatores que podem levar à insatisfação com a aparência. A preocupação com pensamentos, sentimentos ou impressões sobre a própria aparência está ligada à ação de "olhar para o espelho", ou seja, olhar para o próprio reflexo.

Pesquisas mostram que diminuir o uso de redes sociais em 50% pode melhorar a satisfação com a própria aparência.

Os pesquisadores sugerem que esse tipo de atenção seletiva focada em si mesmo e o olhar fixo no espelho podem levar a uma fixação negativa em características específicas ou pequenas falhas, o que, por sua vez, intensifica a preocupação com essas características.

Outros fatores incluem baixa autoestima, percepções da sociedade sobre a beleza, influências de colegas e dos pais, temperamento e predisposições genéticas a problemas de saúde mental.

O "EFEITO ZOOM"

Com a onipresença das videochamadas, das selfies e da publicação da vida pessoal nas redes sociais, o contato diário com a própria imagem parece inevitável. Para algumas pessoas, isso aumenta a sensação de insatisfação com a aparência, que talvez fosse mais passageira antes da era do Zoom.

O tempo de tela tem aumentado, tanto para adultos quanto para crianças. E o que é pior, pesquisas recentes sugerem que os reflexos de vídeos e fotos que vemos de nós mesmos são distorcidos.

Fazer videochamadas, tirar selfies e postar nas redes sociais são atividades baseadas no aspecto visual, no qual a aparência costuma ser o foco principal. Todas têm em comum o fato de que a imagem de uma pessoa é transmitida ao vivo ou compartilhada de forma imediata.

Não surpreende, portanto, que essas plataformas centradas na imagem tenham sido significativamente associadas à insatisfação com a aparência, ansiedade, depressão e distúrbios alimentares.

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Um aspecto exclusivo das chamadas de vídeo é que elas permitem que as pessoas se comparem facilmente com outras e se vejam ao mesmo tempo, falando em tempo real.

Um estudo de 2023 descobriu que o desconforto com a própria aparência durante as videoconferências levou a uma maior fixação na autoimagem, o que, por sua vez, prejudicou o desempenho no trabalho.

Os pesquisadores também sugerem que a insatisfação com a aparência está associada ao cansaço das reuniões virtuais. Isso pode acontecer devido ao foco negativo em si mesmo, à sobrecarga cognitiva e à angústia de ser examinado ou avaliado negativamente com base na aparência.

COMO COMBATER O PROBLEMA

Se você se pega criticando sua aparência toda vez que entra em uma chamada de vídeo, talvez seja hora de avaliar sua relação com sua imagem e procurar ajuda de um terapeuta qualificado. A seguir, listamos algumas perguntas que podem ajudar a determinar se seus padrões de pensamento ou comportamentos são problemáticos:

- Quanto tempo do meu dia é gasto pensando na minha aparência?

- Que tipo de hábitos eu tenho em relação à minha imagem?

- Eu me sinto angustiado se não realizar esses hábitos?

- Esse estilo de vida está alinhado com meus valores e com a forma como quero passar meu tempo?

Os pesquisadores sugerem que a insatisfação com a aparência também está associada ao cansaço das reuniões virtuais.

Outra estratégia é tentar se concentrar no que as outras pessoas estão dizendo, em vez de ficar olhando para o seu próprio rosto.

Já se o caso for ajudar alguém que possa estar lutando contra a insatisfação com a aparência, é importante concentrar-se nas qualidades inatas da pessoa, além da estética. É preciso ter consciência sobre seus comentários a respeito de características físicas, não importa quão bem-intencionados eles sejam.

Ao ver a si mesmo ou a seus colegas em vídeos e nas mídias sociais, tente se concentrar na pessoa como um todo e não como partes de um corpo. Reduzir o tempo de tela também pode fazer diferença. Pesquisas mostram que diminuir o uso de redes sociais em 50% pode melhorar a satisfação com a própria aparência.

Quando usadas com moderação, as câmeras de vídeo e as redes sociais são ferramentas para nos conectar com outras pessoas, o que, em última análise, é um fator fundamental para a satisfação e para o bem-estar.

Este artigo foi republicado do "The Conversation" sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE A AUTORA

Emily Hemendinger é professora assistente de psiquiatria no Campus Médico Anschutz, da Universidade do Colorado. saiba mais