Empresas buscam profissionais “nativos de IA”, mas ninguém sabe o que isso quer dizer
Mesmo em um mercado de trabalho desafiador, empresas estão dispostas a pagar altos salários por jovens profissionais fluentes em IA

Corria na semana passada um boato de que a Meta estaria preparando cortes de centenas de postos de trabalho em sua divisão de inteligência artificial. Na terça-feira (dia 21, a empresa enviou cartas de demissão para 600 funcionários das áreas de produtos, pesquisa e infraestrutura, após um período de forte expansão de contratações para fortalecer a estratégia da empresa em IA.
Apesar da redução, o diretor-chefe de IA da companhia afirmou ao "The Wall Street Journal" que a Meta vai continuar contratando talentos “nativos de IA” – termo que, silenciosamente, foi ganhando espaço no jargão corporativo em meio à corrida global pela inteligência artificial.
Nos últimos anos, a expressão “nativos digitais” descreveu a geração Z, que cresceu conectada à internet. A geração seguinte, Alfa, já é chamada de “geração IA”. Ainda assim, não parece ser esse o sentido adotado pela Meta, até porque os maiss velhos dessa geração têm apenas cerca de 15 anos. A empresa não comentou o assunto.
Mas, afinal, o que significa ser “nativo de IA”?
“Tenho notado esse termo aparecer cada vez mais”, diz JR Keller, professor de estudos de recursos humanos na Escola Industrial e de Relações Trabalhistas da Universidade Cornell. Para ele, trata-se de trabalhadores que integram ferramentas de inteligência artificial a todos os aspectos da rotina. “É como se cada um deles tivesse um pequeno companheiro invisível de IA o tempo todo.”
Mesmo em um mercado de trabalho desafiador, empresas estão dispostas a pagar altos salários por jovens profissionais fluentes em IA – ao contrário de funcionários mais experientes, que muitas vezes precisam ser convencidos a adotá-la.
Segundo Keller, esses trabalhadores parecem falar “outro idioma” quando o tema é inteligência artificial. “Penso em IA como algo útil em momentos específicos: quando usar o ChatGPT, quando permitir que o Copilot analise meus e-mails, quando ativar o Grammarly… Mas, para os nativos de IA, isso está sempre ligado.”
Jeffrey Bussgang, sócio da firma de venture capital Flybridge, afirma usar frequentemente o termo para descrever pessoas “extremamente hábeis” no uso de um amplo conjunto de ferramentas modernas de IA, o que as tornaria muito mais produtivas do que seus pares. Em artigo no LinkedIn, escreveu que empresas “nativas de IA” são compostas por funcionários que infundem essas tecnologias em tudo o que fazem.

O avanço do termo reflete um movimento maior: organizações de todos os setores buscam profissionais que enxergam tarefas e processos primeiro sob a ótica da IA. Para empregadores tradicionais com dificuldade de adotar essas tecnologias, contratar especialistas pode ser crucial.
Dados do Pew Research Center mostram que 58% dos jovens entre 18 e 29 anos já usaram o ChatGPT, a maior proporção entre todas as faixas etárias.
“A ideia do ‘nativo de IA’ é cada vez mais real”, afirmou recentemente Dan Helfrich, ex-CEO da Deloitte Consulting. “Organizações líderes estão capacitando e dando autonomia a esses talentos – que, por definição, dominam IA, mas geralmente são funcionários menos experientes e com menos tempo de casa.”
Para Keller, é apenas questão de tempo até que profissionais passem a usar o termo como vantagem competitiva na busca por emprego. “À medida que as empresas adotarem essa expressão, muita gente começará a incluí-la no LinkedIn, como ‘sou um programador nativo de IA’. Porque sabem que isso os fará aparecer no topo das buscas.”