Escritora conta como a ansiedade a ajudou a lidar melhor com o trabalho

Crédito:Jackson Simmer/ Unsplash

Leanna Lee 6 minutos de leitura

É a minha saúde mental que dita o ritmo e o modo como trabalho.

Convivo com a ansiedade e a depressão há mais de 15 anos. Quase sempre há um fluxo constante de pensamentos ansiosos acontecendo no meu cérebro. Meu transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) se agrava quando me sinto insegura ou sobrecarregada, causando mudanças de humor e ataques de pânico. Também tenho uma média de seis a oito episódios depressivos por ano, que vêm acompanhados de fadiga, confusão mental, ideais suicidas e dissociação.

Essa parece uma receita perfeita para o desastre, especialmente porque administro meu próprio negócio. Mas, depois de anos de trabalho (e de terapia!), aprendi que, na verdade, minha saúde mental delicada me ajuda a trabalhar melhor. Foi ela que:

1. Me mostrou a importância do autoconhecimento

Pensamentos ansiosos ou gatilhos do TEPT podem facilmente desencadear a depressão. Por isso, é extremamente importante que eu monitore minhas mudanças repentinas de humor. Uma tática que aprendi anos atrás se tornou essencial no meu dia a dia: prestar atenção ao frio na barriga. É exatamente isso: paro e presto atenção ao meu corpo para identificar a fonte do estresse.

Começo me sentando e ficando quieta para identificar o que estou sentindo – se é pânico, náusea, falta de foco, chateação, irritação ou cansaço. Depois de alguns minutos, começo a me fazer perguntas mais amplas, como “será que é meu relacionamento? ou é falta de comida ou de descanso?”. Se sinto um aperto no estômago ou um frio na barriga, sei que estou no caminho certo.

Com base na resposta do meu corpo, consigo perceber: 

• Que preciso fazer uma pausa e me cuidar. Fazer um lanchinho, beber água ou chá, tomar banho e caminhar são paradas necessárias.

• Que preciso parar o que estou fazendo e resolver os problemas que estão me atormentando, para que meu cérebro se acalme e se concentre.

• Que estou em um episódio de ansiedade e preciso reorganizar minha agenda para sair dali rápido.

2. Me ensinou quando trabalho melhor

Todo mundo tem um relógio interno que funciona de forma diferente. É o chamado ritmo circadiano, que ajuda a regular nossos corpos e mentes quando acordamos, comemos, dormimos e trabalhamos. A ansiedade e a depressão gostam de pregar peças, nos mandando dormir o dia todo ou pular refeições. Mas isso desencadeia mais problemas de saúde e dificulta a manutenção de uma boa rotina.

depois de anos de trabalho (e de terapia), aprendi que minha saúde mental delicada me ajuda a trabalhar melhor.

Esses sinais confusos me fizeram querer aprender mais sobre a base natural do meu corpo: o que eu preciso – e quando preciso – para trabalhar no meu melhor.

Uma maneira de fazer isso é determinar seu cronótipo, uma palavra chique para o seu tipo de sono. Eu sou do cronótipo “urso”, o que significa que fico mais acordada e focada no início da manhã e da noite. Esse conhecimento me ajuda a otimizar minha agenda, planejando os dias de trabalho nos períodos em que estou mais energizada e menos mal-humorada.

3. Deixou minha agenda mais organizada

O estresse não é inerentemente ruim, é simplesmente uma reação ao que acontece à nossa volta. O problema é que o estresse contínuo e não controlado pode custar caro e levar a problemas de saúde mental. Inspirada por uma amiga marca com cores seus diferentes estados de espírito em um diário mensal, criei um sistema para rastrear minhas horas de trabalho, meus projetos e minha saúde mental.

Fiz isso por cerca de dois meses e aprendi muito, como por exemplo:

• Intervalos de tempo ideais para trabalho matinal e noturno.

• Limites pessoais para o número de projetos e de conversas com clientes por dia e por semana.

• Atividades de tempo livre que me mantêm feliz e energizada.

Quando a capacidade de funcionar depende muito da sua saúde mental, você precisa ser criativo com sua organização. Acompanhar esses diferentes aspectos da minha vida ajudou a obter informações valiosas sobre como maximizar minha produtividade e me manter trabalhando bem.

4. Me levou a abraçar o trabalho de forma diferente

A saúde mental raramente é preto no branco. Tenho dias bons e ruins, mas, na maioria das vezes, vivo em uma montanha russa entre esses extremos. Nos dias de queda nessa montanha-russa, ser produtiva pode significar  apenas trabalhar o tempo necessário para completar minha lista de tarefas.

o estresse contínuo e não controlado pode custar caro e levar a problemas de saúde mental.

Quando você vive na incerteza, é importante ter um sistema flexível, que ajude a manter um equilíbrio saudável. Em vez de seguir um cronograma ou de tentar descobrir o que está errado, eu me faço uma pergunta simples: “Estou pronta para trabalhar?”

Às vezes, essa pergunta é tudo que preciso para limpar minha mente. Outras vezes, a solução é começar um pouco mais tarde ou trabalhar em tarefas mais simples. E, às vezes, preciso do meu protocolo de emergência: pequenos intervalos de trabalho interrompidos por longas pausas, até terminar, não importa a que horas. Nem sempre é o ideal, mas me ajuda quando tenho muito trabalho a fazer.

5. Me ajudou a estabelecer limites cruciais

Como dona da minha própria empresa, é fácil ficar presa na cultura da produtividade e perder de vista o bem-estar. A saúde mental me obriga a me priorizar, desafiando-me a descobrir o que preciso para trabalhar da melhor maneira possível. Aprendi da maneira mais difícil que estabelecer limites é uma das coisas mais importantes e saudáveis ​​que posso fazer como empresária.

Esses são alguns dos limites que estabeleci ao longo do tempo:

• Pré-selecionar clientes, para que eles se alinhem aos valores e necessidades de comunicação do meu negócio.

• Me ater aos tipos de projeto e de conteúdos que estão dentro do meu nicho, a menos que esteja tomando uma decisão estratégica de ramificar meu negócio.

• Não responder e-mails ou atender chamadas fora do horário de trabalho designado, a menos que isso me ajude a manter minha saúde mental.

• Estabelecer prazos mais longos e valores mais competitivos.

6. Me incentivou a investir e ferramentas de trabalho melhores

Ter pouca energia me motivou a automatizar os negócios. Uma das minhas ferramentas favoritas é um fluxo de trabalho automatizado, que configurei quando percebi a frequência com que perdia chamadas durante os dias ruins de saúde mental. Agora recebo um lembrete de texto 30 minutos antes de cada evento no meu Google Agenda, o que dá tempo para me reorientar e preparar.

Uma última reflexão

A saúde mental de todos depende de fatores diferentes e encontrar o equilíbrio certo para você leva tempo. É fácil? Sinceramente, não. Muitas coisas ainda me escapam entre os dedos, ainda tenho muito a aprender e, embora minha saúde mental tenha melhorado enormemente, algumas dificuldades vieram para ficar.

Cuidar do meu bem-estar significa me esforçar constantemente para fazer o bem, para meus clientes e para mim mesma. Agora posso planejar os dias ruins e aproveitar os bons. E isso faz toda a diferença.


SOBRE A AUTORA

Leanna Lee é escritora especializada em bem-estar e futuro do trabalho, co-apresentadora do podcast Bettermental e colaboradora da pla... saiba mais