Está travado? Falhar pode ser sua melhor estratégia
Você sabe exatamente o que precisa fazer, mas continua adiando? A solução pode estar em mudar a forma como enxerga o fracasso

A maioria das pessoas tem objetivos claros e sabe, pelo menos na teoria, o que precisa fazer para alcançá-los. Ainda assim, não dá os passos necessários. É o caso de Tim, um designer bem-sucedido que cria obras incríveis no tempo livre e quer colocá-las à venda para testar o interesse do público.
Ele sabe exatamente o que fazer em termos de marketing e vendas, mas continuam sem agir – ou, pelo menos, não o suficiente. Algo o está impedindo de colocar seu plano em prática.
Ao treinar empreendedores e líderes, percebo que, muitas vezes, eles já sabem exatamente quais passos precisam dar. Mais uma técnica ou discurso motivacional não vai fazer grande diferença. Mas existe um método surpreende – chamado “me ensine a fracassar” – que pode desbloquear o caminho, independentemente das habilidades, metas ou contexto da pessoa.
APRENDENDO A LIDAR COM O FRACASSO
Geralmente, evitamos pensar sobre fracasso. Ele assusta – e muito. E as pesquisas confirmam o que já desconfiamos: o medo de fracassar pode realmente nos paralisar, até mesmo quem tem perfil empreendedor. Evitar pensar nisso é, muitas vezes, uma tentativa de escapar desse medo. É o famoso “manter-se positivo” a qualquer custo.
Quanto mais revisitamos os medos e emoções associadas a eles, maiores são as chances de avanço
O problema é que é justamente enfrentando nossos medos que conseguimos superá-los. Quanto mais revisitamos, de forma segura, as situações e emoções associadas a eles, maiores são as chances de avanço. Pesquisas mostram que, quando exploramos conscientemente o medo de fracassar, conseguimos mudar de forma significativa nossa maneira de agir.
TRANSFORMANDO O FRACASSO EM ESTRATÉGIA
O “me ensine a fracassar” é um método para inverter a lógica e encarar o fracasso de forma construtiva. Ele permite se expor, de maneira segura e consciente, às situações e emoções ligadas a ele, revelando rapidamente informações valiosas sobre o que está travando o seu avanço. Com isso, fica muito mais fácil entender o que mudar no seu caso específico.
O “me ensine a fracassar” ajuda a encarar o fracasso de forma construtiva
Nesse processo, o fracasso passa a ser visto como uma estratégia. Não para atingir a meta, mas para atender à outra necessidade relevante. Essa simples mudança de perspectiva costuma ser um ponto de virada para muita gente.
Pense em algo que você sabe que deveria estar fazendo, mas não está. Pergunte a si mesmo: “o que eu ganho ao não agir?”. Essa nova forma de olhar ajuda a perceber o “não agir” de maneira mais positiva – e, muitas vezes, mais precisa. Estudos em neurociência indicam que ressignificar situações dessa forma pode mudar seu estado emocional e reduzir o gatilho cerebral que ativa o modo “luta ou fuga”.
O método também busca entender, com detalhes, como uma pessoa fracassa da maneira exata que a impede de agir.
UM EXEMPLO PRÁTICO
Vamos falar de Tim, um designer de sucesso que decidiu expandir sua atuação como artista-empreendedor.
Ele participou de um programa de coaching em grupo que eu cofacilito. Ao tentar se motivar, Tim dizia: “só preciso colocar minha arte no mundo e ver o que acontece”. Quando perguntei: “o que você ganha ao não mostrar sua arte?”, ele admitiu que assim evitava ouvir um “não” do público – e, com isso, mantinha viva a esperança de que poderia haver compradores interessados. Descobrimos, então, que sua “estratégia” ajudava justamente a preservar essa esperança.
Depois, exploramos o que alguém precisaria fazer para fracassar exatamente como Tim, ou seja, não mostrar sua arte. Já sabíamos que o foco dele era manter a esperança viva. Sua “estratégia” incluía hábitos, crenças e sentimentos específicos, como: imaginar reações negativas, focar nas coisas erradas e justificar a inação. Por exemplo:
- Dizer para si mesmo que a obra ainda não está pronta.
- Antecipar a frustração caso não houvesse interesse.
- Acreditar que ouvir um “não” significaria que sua arte não era boa o suficiente para ser vendida.
O QUE FEZ A DIFERENÇA
Quando entendemos exatamente como Tim se sabotava, ficou claro o que poderia fazer a diferença para ele. Aqui estão algumas das mudanças que ele adotou:
- Foco: em vez de gastar energia justificando a espera, passou a gastá-la justificando agir agora.
- Sentimento: em vez de imaginar decepção, começou a imaginar a empolgação do processo.
- Crença: em vez de evitar ouvir um “não”, passou a buscá-lo ativamente, criando interações nas quais as pessoas precisassem dizer “sim” ou “não” – e usando o feedback para melhorar.
- Intenção: refletiu sobre “como manter a esperança viva justamente mostrando minha arte?”.
Estudos em psicologia e neurociência mostram que mudanças nesses quatro pontos – foco, sentimentos, crenças e intenção – têm um grande impacto no modo como agimos. Enxergar o fracasso como uma estratégia útil quebra o ciclo da inércia, tira você do bloqueio mental e coloca sua mente em um estado mais produtivo e criativo. Além disso, revela necessidades, hábitos e crenças ocultas que estavam atrapalhando seu progresso.
Para Tim, esse foi o ponto de virada. Ele colocou sua arte no mundo e agora comemora a resposta positiva que está recebendo.