Este CEO decidiu ir contra a maré do presencial e abraçar o trabalho remoto

Brian Doubles, da Synchrony, explica como confiança e agilidade estão impulsionando crescimento e inovação na empresa de cartões de crédito

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Stephanie Mehta 4 minutos de leitura

Quando Brian Doubles assumiu o cargo de CEO da empresa de cartão de crédito Synchrony, em 2021, o mundo corporativo ainda tentava se adaptar às mudanças provocadas pela pandemia.

O trabalho remoto havia se tornado comum e muitas empresas já forneciam as ferramentas necessárias para que seus funcionários pudessem trabalhar de qualquer lugar.

Agora, enquanto diversas instituições financeiras e bancos tradicionais exigem o retorno ao escritório, Doubles decidiu seguir o caminho oposto. Sediada em Stamford, no estado norte-americano de Connecticut, a Synchrony permite que seus mais de 20 mil funcionários escolham onde preferem trabalhar: de casa, nos escritórios da empresa ou em regime híbrido.

Ainda assim, há encontros presenciais pontuais para treinamentos, reuniões de liderança, sessões de inovação e atividades voltadas à cultura corporativa.

A decisão parece estar dando bons resultados. A taxa de rotatividade caiu, o número de candidatos às vagas aumentou 30% e, em 2025, a Synchrony conquistou o segundo lugar no ranking de melhores empresas para se trabalhar no ranking da Fortune 100 (em 2021, foi a 37ª colocada).

Essa conquista é um reconhecimento dos quatro anos de crescimento sólido para a empresa, que é a maior emissora de cartões de crédito private label dos Estados Unidos.

Em 2023, a Synchrony registrou US$ 18 bilhões em receita líquida de juros – um aumento de 26% em relação a 2021. Desde que Doubles assumiu o comando, o valor das ações subiu mais de 60%, superando o índice S&P 500.

Brian Doubles, CEO da empresa de cartões de crédito Synchrony
Brian Doubles, CEO da Synchrony (Crédito: Fast Company)

Logo que assumiu a liderança, Doubles iniciou uma reestruturação estratégica para tornar a empresa mais ágil e preparada para o futuro. Embora a Synchrony já apresentasse bons resultados com a retomada do consumo pós-pandemia, ele reorganizou a estrutura para diversificar a base de clientes, criou uma divisão dedicada ao crescimento e unificou as áreas de tecnologia e operações para acelerar o desenvolvimento de novos produtos.

“Tenho uma espécie de paranoia produtiva e acredito que o melhor momento para promover grandes mudanças é quando estamos fortes”, afirma Doubles.

Um exemplo dessa mentalidade é o PRISM, um sistema proprietário usado para análises de crédito e decisões de concessão. A Synchrony aprimorou um processo que já funcionava bem e o levou a outro nível. Hoje, o PRISM consegue avaliar o crédito de um cliente em apenas seis segundos, analisando nove mil pontos de dados – contra cerca de 100 em 2018.

TRABALHO REMOTO x PRESENCIAL

Apesar dos avanços tecnológicos e operacionais, a Synchrony se destaca mesmo pela flexibilidade no trabalho. E isso representa uma mudança radical para a empresa.

“Antes da pandemia, tínhamos uma cultura 99% presencial”, conta o diretor de recursos humanos, DJ Casto. “Foi uma transformação profunda – e também um grande exercício de confiança.”

Uma pesquisa interna havia revelado que mais de 85% dos funcionários queriam manter a opção de trabalhar remotamente. Com base nisso, a empresa tornou o modelo híbrido permanente, permitindo que todos escolham onde e como trabalhar – desde que morem a uma distância viável de um dos escritórios da Synchrony e participem de encontros presenciais ocasionais.

A taxa de rotatividade caiu e o número de candidatos às vagas aumentou 30%.

Enquanto bancos de investimento de Wall Street e concorrentes como o JPMorgan Chase exigem presença obrigatória em determinados dias, a Synchrony conseguiu estender o modelo híbrido até para funcionários horistas, já que não conta com agências físicas (algo dispensável no setor de cartões de crédito).

“Confiamos que nossos funcionários continuarão dando 110%, mesmo sem estarmos monitorando o tempo que passam no escritório”, diz Doubles. “Lembro sempre às equipes que o modelo híbrido é um privilégio e que precisamos conquistá-lo todos os dias, mantendo o negócio saudável e em crescimento.”

Para garantir o engajamento e a responsabilidade nesse modelo de trabalho, Casto explica que a empresa reforçou a importância de reuniões individuais frequentes entre gestores e equipes, com foco em coaching em vez de mera supervisão.

Na Synchrony, o coaching é parte da cultura. Todos os executivos da alta liderança têm mentores profissionais e a empresa está ampliando o acesso a esse tipo de acompanhamento para mais funcionários – incluindo talentos em desenvolvimento e profissionais que enfrentam problemas complexos. Além disso, todos os colaboradores têm acesso a coaches de bem-estar.

Ouvir os funcionários foi essencial para moldar essa abordagem. Doubles também aplica esse princípio à sua forma de liderar:

“Você precisa ouvir as pessoas”, diz ele. “Elas vão te dizer o que está funcionando e o que não está. Quando apontarem o que não está dando certo, é preciso agir rápido e mostrar que você realmente está fazendo algo a respeito.”


SOBRE A AUTORA

Stephanie Mehta é CEO e chief content officer da Mansueto Ventures, controladora da Inc.e da Fast Company. saiba mais