Este é o novo posto de trabalho  que as empresas deveriam criar em 2024

A tarefa desse profissional exigirá um profundo conhecimento da IA e de todos os seus derivados. Uma formação em filosofia também é bem-vinda

Créditos: Magnus Engø/ Igor Omilaev/ Unsplash

Cliff Jurkiewicz 6 minutos de leitura

O tom e o teor dos discursos a respeito da inteligência artificial mudaram, em linhas gerais, do medo do roubo de empregos para o entusiasmo com a criação de empregos.

A tecnologia realmente gerará novas funções. Na verdade, muitas. Mas a questão é: que tipos de empregos?

Um dos cargos mais novos e mais importantes que surgirão com a revolução da IA será o de especialista em ética – em parte um mediador, em parte um filósofo.

A principal função do especialista em ética de IA será formular perguntas profundas – basta lembrarmos do personagem de Jeff Goldblum no filme "Parque dos Dinossauros " ("Jurassic Park", de 1993). O cientista Ian Malcolm alertava que os criadores de um parque temático de dinossauros não tiveram tempo para pensar a fundo no que tinham acabado de produzir.

"Os cientistas estavam tão preocupados em saber se conseguiriam fazer dinossauros ou não que não pararam para pensar se deveriam", diz Goldblum em uma cena icônica. Os especialistas em ética de IA se concentrarão justamente no "deveríamos?".

Jeff Goldblum (à frente) como o cientista Ian Malcolm em "Parque dos Dinossauros" (Crédito: Universal Studios)

Esse profissional terá a clara missão de garantir que o uso da IA não seja apenas ético, mas também defensável, explicável e auditável.

Como acontece com qualquer tecnologia em sua fase inicial, serão necessárias medidas de proteção. Existem regras para a descoberta de medicamentos, para segurança alimentar, transporte e outros setores. O responsável pelo controle dos efeitos da IA será o especialista em ética.

A IA ainda é muito incompreendida. Um especialista que consiga aconselhar, educar e garantir práticas seguras pode promover uma melhor receptividade.

CRIANDO CONFIANÇA NA IA

O ceticismo sobre o uso responsável da IA pelas empresas é alto. Isso se contrapõe à postura dos CEOs, que estão totalmente a favor da tecnologia e até sentem a necessidade de agir com um senso de urgência, temendo que os concorrentes levem vantagem.

Essa desconexão entre o receio do público e o otimismo dos CEOs poderia ser superada com a presença de um especialista em ética que determinasse os erros e acertos de forma justa e consistente. Com a próxima geração de líderes empresariais sendo treinada em IA, a tecnologia veio para ficar. Os especialistas em ética podem ser essenciais para criar um clima de mais confiança.

o profissional terá a missão de garantir que o uso da IA não seja apenas ético, mas também defensável, explicável e auditável.

Eles já estão presentes no setor de saúde. Os especialistas em ética médica, por exemplo, auxiliam as famílias e os médicos a decidir sobre o tratamento. Um engenheiro de segurança determina se um novo prédio ou ponte é seguro.

Esses exemplos apresentam desafios e riscos que têm o potencial de causar danos e discriminação e que podem ser igualmente essenciais para a manutenção de uma vida com sentido.

Essa é a importância de entender as implicações éticas da IA.

CHEGANDO À DIRETORIA

As empresas que usam IA passarão a ver os especialistas em ética como vitais para os negócios, tornando esse um dos cargos mais procurados no próximo ano. Eventualmente, ele se tornará tão importante que poderá chegar a um cargo de diretoria, mas não começará por aí. Nem deveria, pois é necessário mais tempo para entender o escopo de responsabilidades dessa função.

Até que essa posição nova e independente seja elevada à diretoria executiva, ela provavelmente se reportará ao diretor de operações, pois afeta as operações.

O departamento jurídico provavelmente não será o melhor lugar no organograma corporativo, porque um especialista em ética não pode atuar como um pensador autônomo quando é pressionado a defender legalmente a IA.

A função também não deve ser deixada nas mãos do diretor de informações ou do de tecnologia. Eles tomarão decisões sobre IA com base em suas responsabilidades, o que pode não ser do melhor interesse da organização ou dos seres humanos em geral.

ALINHANDO O COMPROMISSO

A quem um especialista em ética deve lealdade? À empresa ou ao seu compromisso de proteger as pessoas? Essa é uma pergunta que surge com frequência. Os especialistas em ética devem se alinhar com o que é do melhor interesse da humanidade.

No entanto, sabemos que haverá outras influências nas empresas. O CEO da OpenAI, Sam Altman, por exemplo,

As empresas que usam IA passarão a ver os especialistas em ética como vitais para os negócios.

disse que sua esperança é que a IA terá aproximadamente a mesma inteligência que um "ser humano mediano que você poderia contratar como colega de trabalho". Parece que o maior compromisso de Altman é com a tecnologia.

Um contraponto seria que precisamos de alguém com autoridade e poder de decisão nas organizações para garantir que essa meta de manter as pessoas no centro das atenções seja realmente alcançada. Isso se alinharia com algumas das posturas regulatórias nos Estados Unidos e na Europa em relação ao comprometimento com o ser humano.

EMPREGOS EMERGENTES EM IA

As próximas funções que provavelmente ganharão importância depois do especialista em ética são as de curador de IA e de gerente de IA humana.

Os especialistas em ética e os curadores podem trabalhar juntos na mesma empresa com responsabilidades diferentes, mas conectadas. A função de curador torna-se incrivelmente importante quando se trata do uso estratégico da IA.

Considere a IA como sinônimo de automação e inteligência. "Inteligência artificial" deixou de ser uma definição precisa, porque soa um pouco fantasiosa. Mas não é. Na verdade, é algo muito mais prático.

Crédito: Freepik

Automação e inteligência é uma representação melhor do que a IA realmente significa. Os profissionais de recrutamento de recursos humanos, por exemplo, usam a IA para lidar de forma eficiente com tarefas repetitivas, como o agendamento de entrevistas.

Quando a gente pensa dessa forma, fica claro que novas funções surgirão com a  automação. Esse é o espaço de atuação dos curadores. Trata-se de combinar a automação e a inteligência em uma coisa só, para executar funções importantes em escala para as empresas.

A quem um especialista em ética deve lealdade? À empresa ou ao seu compromisso de proteger as pessoas?

À medida que a IA se torna um componente integral de equipes de alto desempenho, é necessário que os líderes compreendam e operem em sistemas matriciais que englobam elementos significativos de IA. Dada a magnitude da contribuição da tecnologia, um gerente de IA humana será um membro indispensável da equipe.

Há uma década, poucos tinham ouvido falar de influenciadores digitais. Hoje, a maioria das organizações não pensaria em fazer negócios sem a presença de um. Esse será o caso do especialista em ética, do curador e de uma série de outras funções criadas especificamente por e para a IA.


SOBRE O AUTOR

Cliff Jurkiewicz é vice-presidente de estratégia global da plataforma de recursos humanos Phenom saiba mais