Exigir a volta aos escritórios é entrar em um beco sem saída

O retorno forçado à rotina presencial é um equívoco que muitos CEOs estão cometendo

Crédito: Gpoint Studio/ Envato Elements/ Raw Pixel

Tony Jamous 3 minutos de leitura

Em janeiro de 2020, fundei uma empresa que lida com questões globais de emprego, como folha de pagamento, benefícios e conformidade fiscal para equipes espalhadas por diversas localidades. O momento não foi dos melhores, porque apenas dois meses depois, o mundo inteiro mudou. Mas nossa empresa se adaptou rapidamente e o trabalho remoto se tornou a norma. Apesar dos complexos desafios impostos pela crise de saúde global, havia claros saldos positivos.

Do ponto de vista dos funcionários, a flexibilidade do trabalho remoto ajuda a tirar muitos pesos das costas. Os pais que trabalham em horário integral têm a chance de passar mais tempo com os filhos. As viagens longas foram encurtadas ou descartadas por completo.

As rotinas de bem-estar são agora parte permanente da vida de muitas pessoas. Em geral, a força de trabalho está desfrutando das vantagens de não precisar ficar presa em uma mesa por oito ou mais horas por dia.

Na competição pelos melhores talentos, a contratação que exige presença já entra com uma desvantagem autoimposta.

Do ponto de vista do empregador, essas mesmas vantagens devem ser valorizadas. Afinal, funcionários mais felizes são mais produtivos. No entanto, parece que todos os dias esbarro em novas notícias sobre CEOs exigindo o retorno físico dos funcionários ao escritório.

Na minha opinião, essa exigência é completamente equivocada, por vários motivos. Mas vou focar, aqui, naqueles relacionados ao que mais preocupa os CEOs: o desempenho dos negócios. Obrigar a volta aos escritórios pode ser um tiro pela culatra, pois essa imposição...

AFASTA OS FUNCIONÁRIOS

A obrigatoriedade de retorno ao trabalho presencial diminui o poder de barganha dos empregadores logo em um momento em que eles não podem perdê-la.

O mercado de trabalho atual se destaca por vagas quase recordes. Há mais oportunidades do que nunca para quem está procurando por emprego. Simplificando: os candidatos estão em vantagem nesse cenário.

Na competição pelos melhores talentos, a contratação que exige presença já entra com uma desvantagem autoimposta. Oferecer salários maiores para driblar o problema não vai adiantar. Mesmo que a empresa esteja disposta a cobrir as ofertas da concorrência, os candidatos indicaram que prefeririam um corte salarial se isso significasse a chance de permanecer no modelo remoto.

RESTRINGE AS POSSIBILIDADES DE CONTRATAÇÃO 

Ao exigir atendimento físico no escritório, você reduz o pool de talentos, ou seja, o grupo de profissionais que são candidatos elegíveis. 

O acesso à oferta ampliada de talentos tornou-se uma clara vantagem competitiva no atual ambiente de contratação.

Historicamente, os empregadores foram forçados a contratar talentos nas proximidades das cidades-sedes. Hoje, graças tanto à preferência dos trabalhadores quanto à tecnologia, a distância não é mais problema. A oferta de talentos de uma empresa pode e deve ser muito maior.

Os empregadores que estão engajando o mercado global de talentos estão contratando mais rápido e ficando mais fortes do que aqueles que não o fazem. Em nossa análise de mais de 500 empresas que estão contratando funcionários globais, a Oyster descobriu que 37% eram "startups de alto crescimento" crescendo a uma taxa de 30% ao ano.

Entre todas as startups do estudo, o tempo médio de integração de talentos foi de 15 dias – mais de duas vezes mais rápido que a média de 36 dias, de acordo com a Society for Human Resource Management (Sociedade de Administração de Recursos Humanos). O acesso à oferta ampliada de talentos tornou-se uma clara vantagem competitiva no atual ambiente de contratação.

FAZ A EMPRESA PARECER ULTRAPASSADA

Não estamos mais no final de 2020, quando os funcionários comentavam “você acredita que ainda estamos trabalhando via Zoom?” Já se passaram mais de dois anos desde que a pandemia começou. As pessoas se adaptaram e já entenderam que o trabalho remoto veio para ficar.

Indivíduos talentosos trocaram de cidade, compraram casas e tomaram decisões de mudança de vida, que afetam suas famílias, com base no fato de que não precisam mais se deslocar diariamente de casa para o trabalho. Para muitos, um retorno permanente ao escritório físico simplesmente não faz mais sentido – e os empregadores que o exigem estão apresentando uma perspectiva ultrapassada.

A conclusão que podemos tirar disso tudo é simples: exigir o retorno ao escritório prejudicará os negócios a curto e longo prazo. As empresas diminuirão seu poder de contratação, seu acesso a talentos e terão funcionários insatisfeitos. Enquanto isso, os concorrentes que adotaram o trabalho remoto e a contratação global terão o resultado oposto.


SOBRE O AUTOR

Tony Jamous é cofundador e CEO da Oyster, plataforma global de emprego que lida com contratação, folha de pagamento, impostos locais e... saiba mais