Filho do meio, mais velho ou caçula: como isso afeta a escolha da carreira?

A ciência explica por que a ordem do nascimento tem implicações no seu futuro profissional

Crédito: Kylo/ Unsplash

Tracy Brower 5 minutos de leitura

Para entender melhor a relação entre personalidade e escolha de uma determinada profissão, um ponto a ser considerado é a posição da pessoa na “hierarquia” da família (filho mais velho, do meio, caçula etc.).

Segundo a psicologia clássica, isso faz diferença no que diz respeito a comportamento e visão de mundo. Primogênitos seriam mais inteligentes e responsáveis; irmãos do meio seriam conciliadores; e os mais novos, divertidos e amorosos.

Mas a ordem do nascimento pode não importar, nem ser decisiva em termos de características, carreira ou mesmo sobre como será o futuro. Se for assim, então como fazer para entender melhor sua personalidade e escolher qual carreira seguir?

PRIMEIRO, SEGUNDO, TERCEIRO

A questão da ordem do nascimento tem sido aceita como parte do âmbito da psicologia desde os anos 1990. Pesquisas realizadas no início dos anos 2000 mostram que era dado como certo que isso influenciava a motivação e o comportamento. A teoria tomava por base o modo como os pais interagem com cada um dos filhos, de acordo com a ordem em que nasceram.

Por exemplo, se filhos mais velhos são frequentemente encarregados de tomar conta dos irmãos, acabam desenvolvendo um senso maior de responsabilidade. Pesquisas apontam também que primogênitos tendem a ser mais escrupulosos, estruturados, prudentes e a ter melhor desempenho.

Filhos do meio, supostamente, tendem a ser mais atenciosos, diplomáticos e a se relacionar em círculos sociais mais amplos. Já os caçulas, se tiverem a vantagem de contar com pais mais condescendentes, tenderão a ser mais flexíveis, extrovertidos e descomplicados.

A ciência já pesquisou o peso da personalidade na escolha da profissão. Segundo alguns estudos, filhos mais velhos seriam mais propensos a ser estrelas de rock, astronautas, cientistas ou engenheiros. Os do meio poderiam seguir carreira na política, administração ou na criação, e os mais novos tenderiam a ser compositores ou exploradores.

E os filhos únicos? Eles seriam como os primogênitos, só que mais incisivos em termos de disciplina e liderança. Também teriam um pendor maior para as artes do que outras crianças.

OUTROS FATORES

Por mais que seja divertido pensar em como a ordem do nascimento influencia a personalidade (e azucrinar seus irmãos com isso), as coisas não são bem como se pensava antes. O European Journal of Personality publicou um estudo que apontou diferenças mínimas entre pessoas, personalidades e profissões tomando por base a ordem de nascimento.

Filhos únicos seriam como os primogênitos, só que mais incisivos em termos de disciplina e liderança.

Outra pesquisa, feita pela Universidade de Illinois com 377 mil participantes, apontou que a relação entre posição na família e personalidade é muito tênue. Então, se a ordem do nascimento não é fator determinante no desenvolvimento da personalidade ou na escolha da profissão, para onde devemos olhar? Existem algumas boas alternativas.

Avalie seus interesses

Ao analisar caminhos possíveis para sua carreira e antes de tomar qualquer decisão, pense bem em quais são suas paixões e interesses na vida. Eles é que vão te dar energia e atrair a atenção das outras pessoas sobre você – num sentido bom –, estabelecendo um círculo virtuoso formado por fazer algo que você gosta, ser pago para isso e ir melhorando a performance cada vez mais.

Existem ferramentas que ajudam a mensurar seu nível de interesse em diversas áreas, por exemplo, trabalhos manuais, de cunho científico, investigativo, artístico, social ou empreendedor, entre outras. Priorize o que mais gosta e procure descobrir que tipos de tarefas ou de responsabilidades o motivam a dar o melhor de si.

Invista no seu futuro

Outra forma de analisar a questão é pensar em que direção você pretende se desenvolver, o que quer do futuro e como gostaria de viver daqui por diante. Imagine como desejaria passar seu tempo e em quais áreas suas habilidades seriam mais bem aproveitadas. Crie um mapa mental de seus objetivos ou um cenário que permita visualizar o futuro que você deseja para si mesmo.

Um cuidado que se deve tomar é o de ouvir a sua intuição. Seus colegas podem achar que você é um “ninja” quando se trata de gerenciamento, por exemplo. Mas, se você sente que seu negócio está mais para o lado artístico, leve isso em consideração. Não se limite ao que você faz ou à posição que ocupa hoje. Fique firme no caminho que pode levá-lo ao futuro que você quer – e que pode ser bem diferente do presente.

Encontre a sua turma

Um jeito de descobrir qual carreira seguir é observar por

Priorize o que mais gosta e procure descobrir que tipos de tarefas ou de responsabilidades o motivam a dar o melhor de si.

onde anda o pessoal que compartilha os mesmos interesses que os seus. As pessoas tendem a escolher profissões com base na personalidade e, geralmente, se sentem mais realizadas trabalhando com quem tem os mesmos gostos e preferências.

É claro que aprendemos muito com quem vê as coisas de uma perspectiva diferente da nossa. Mas, quando sente que se encaixa em um grupo e que as pessoas ali falam a mesma linguagem que a sua, é sinal de que essa pode ser uma área que combina com você.

Forme opinião a partir das próprias experiências

Obviamente, você pode ignorar a pesquisa sobre a ordem de nascimento e confiar nas características que acredita que possui. Nesse caso, aceite quem você é e aquilo no qual é bom. Altos níveis de autoestima e de confiança em si mesmo são fatores muito importantes para o desenvolvimento pessoal.

Se você acredita que tem uma qualidade em particular, ou tem orgulho de uma determinada habilidade que possui, pode criar confiança para crescer ainda mais no futuro. Quando a pessoa sente que está fazendo um bom trabalho e que é aquilo que ela ama fazer, consegue alcançar o máximo de satisfação – não importando se é o filho mais novo, mais velho ou seja lá a ordem que for.


SOBRE A AUTORA

Tracy Brower é socióloga focada na felicidade e realização da vida profissional. Trabalha na Steelcase e é autora de dois livros," The... saiba mais