Fofoca no trabalho pode ter um efeito positivo. Basta usar corretamente

O que se comenta pelos corredores influencia – e muito – a cultura da empresa

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Jared Lindzon 4 minutos de leitura

Pode parecer estranho, mas a fofoca – quando bem usada – pode ter um efeito positivo no ambiente de trabalho. Falar mal de colegas pelas costas, claro, dificilmente traz benefícios. Mas pesquisas indicam que compartilhar informações neutras ou positivas fora dos canais oficiais pode, sim, ser saudável.

Um estudo publicado na revista “Group and Organizational Management” mostra que pessoas que sentem que estão por dentro das coisas tendem a permanecer mais tempo na empresa. A pesquisa, feita com 338 enfermeiros, revelou que aqueles que trocavam informações relacionadas ao trabalho se sentiam mais influentes e apresentavam menores índices de pedidos de demissão.

“Quando alguém fala bem do próprio local de trabalho, os outros costumam enxergar essa pessoa como alguém que tem conhecimento ou autoridade – o que reduz a chance de ela querer sair da empresa”, explica Allison Gabriel, diretora do Purdue Center for Working Well e coautora do estudo.

Mas esse efeito positivo não vale para quem reclama ou fala mal dos outros. “Não vimos os mesmos resultados entre quem faz fofoca negativa – que provavelmente é o tipo mais comum”, diz Gabriel. “A fofoca até pode trazer algum benefício individual, desde que seja em um tom positivo.”

Para o pesquisador, a fofoca é praticamente inevitável quando se trabalha junto. E o tipo de conversa que circula pode influenciar diretamente a cultura da empresa.

“Quando os comentários que se espalham são positivos, isso melhora o clima da equipe”, afirma. “Mas se todo mundo está reclamando, dizendo o quanto está ansioso ou frustrado, isso tende a contaminar o ambiente – e reforça a ideia de que algo não vai bem.”

COMO SURGEM OS BOATOS

A famosa “rádio-corredor” costuma ganhar força quando há falta de informação. Quando os funcionários sentem que a liderança está escondendo alguma coisa ou não é transparente, é natural que recorram uns aos outros para tentar preencher essas lacunas.

“A fofoca funciona como um jeito de as pessoas tentarem entender o que está acontecendo ao redor”, explica Allison Howell, vice-presidente de inovação da Hogan Assessments, empresa especializada em perfis de personalidade no ambiente corporativo. “Quando há desconfiança em relação à liderança, a fofoca se torna um jeito de acompanhar o que está acontecendo.”

Segundo ela, existe uma tendência natural de duvidar um pouco do que vem dos canais oficiais. “A comunicação informal, muitas vezes, é o que mais convence – é assim que as pessoas se engajam de verdade com uma ideia”, completa.

FOFOCA NEGATIVA PODE TER ALGUM BENEFÍCIO?

Nem sempre é fácil separar a fofoca inofensiva da que realmente prejudica o ambiente. E é aí que as coisas ficam complicadas. Para Howell, desabafar sobre um colega ou gestor pode ter um papel importante em certos contextos.

“Esse tipo de conversa pode aproximar as pessoas. Os membros da equipe costumam se conectar quando compartilham frustrações”, diz. “Isso pode aliviar tensões, criar vínculos e até ajudar a construir confiança.”

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Mas Joseph Grenny discorda. Especialista em desempenho organizacional e cofundador da Crucial Learning, ele afirma que a fofoca no trabalho, por ser feita pelas costas, permite que a pessoa fuja da responsabilidade pelo que diz – e isso prejudica sua credibilidade.

“Ela pode até gerar uma falsa sensação de conexão, mas não constrói confiança de verdade”, explica. “Se eu fofoco com você, é natural que pense que eu também vou fofocar sobre você. E isso mina qualquer tipo de confiança.”

COMO LIDAR COM A FOFOCA NO TRABALHO

Para Grenny, a quantidade de fofoca é um termômetro da saúde organizacional. Ambientes mais tóxicos ou disfuncionais tendem a gerar mais rumores. “O problema é que a fofoca alimenta os mesmos problemas que a fizeram surgir”, afirma. “Quanto mais importância damos à comunicação informal, mais desconfiamos dos canais oficiais.”

Romper esse ciclo, segundo ele, exige mais transparência por parte da liderança. Quando a informação chega de forma clara e direta, os boatos perdem espaço e a confiança nas comunicações formais aumenta. “Ao demorar para se comunicar, os líderes acabam, sem querer, incentivando a fofoca”, diz Grenny.

Nem sempre é fácil separar a fofoca inofensiva da que realmente prejudica o ambiente.

Embora seja impossível eliminar completamente esse tipo de conversa, ele acredita que é possível estimular o lado positivo da história, criando um ambiente mais aberto e com menos ruídos. Uma estratégia eficaz é manter os funcionários bem informados e abrir espaço para perguntas difíceis.

Ele sugere que líderes identifiquem e envolvam pessoas influentes dentro da equipe, dando a elas a oportunidade de fazer questionamentos diretos e dando respostas francas. 

“Quando essas pessoas passam a ter acesso direto e confiável à liderança, começam a confiar mais nos canais oficiais e a depender menos da rádio-corredor”, afirma. “É preciso criar e fortalecer esses canais saudáveis de comunicação para que eles se tornem o caminho mais natural para quem quer entender o que está acontecendo.”


SOBRE O AUTOR

Jared Lindzon é jornalista especializado em temas como futuro do trabalho e profissões ligadas a inovação tecnológica. saiba mais