Fofocas no trabalho são inevitáveis. Aprenda a tirar proveito delas

A fofoca é um jeito informal de compartilhar informações e uma plataforma para que os funcionários se sintam ouvidos e pertencentes

Crédito: Anton Vierietin/ iStock

Roxanne Calder 5 minutos de leitura

Hoje em dia, tudo no mundo do trabalho parece estar de cabeça para baixo, do avesso e invertido. As “boas práticas” do passado estão em baixa, depois de terem sido duramente questionadas e revisadas – como precisavam ser mesmo.

Os últimos anos nos ensinaram a ver a vida através de um prisma diferente e a flexibilização dos ambientes de trabalho agora é considerada a nova maneira de trabalhar.

Mas a flexibilidade de hoje vai muito além da ideia de que é possível “trabalhar em qualquer lugar, a qualquer hora”. À medida que exploramos e abrimos nossos olhos e mentes, também somos obrigados a revisar nossos conceitos sobre comportamentos que antes eram condenados e malvistos.

Fofocar é algo instintivo e saudável, proporcionando segurança, troca, compreensão e um sentimento de pertencimento.

A primeira grande mudança aconteceu na visão sobre a exigência de direitos e a importância da autopromoção. Agora, estamos começando a ver a fofoca do escritório sob um novo prisma. Se no passado ela era difamada, hoje está sendo reconhecida como uma aliada do bom convívio no local de trabalho. Mais que isso: a fofoca do escritório pode ser a salvadora da empresa. 

A fofoca é uma jeito informal de compartilhar informações. Quer gostemos ou não, ela constrói confiança, engajamento e relacionamentos. Não importa o cargo ou o nível na carreira, todos participamos das fofocas do escritório. É da natureza humana.

Compartilhar informações inteligentes reduz o estresse e pode até proporcionar entretenimento. Não tem como isso ser tão ruim assim para os negócios. Em sua essência, portanto, a fofoca é uma plataforma para os funcionários se sentirem ouvidos e pertencentes.

Fofocar também é um comportamento primordial. De acordo com a teoria da evolução, os humanos desenvolveram as fofocas para facilitar a cooperação em grupo. Elas ajudam a alertar sobre ameaças, a divulgar informações e a controlar comportamentos indesejáveis.

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Essas conversas buscam entender e obter informações. Isso proporciona segurança profissional e psicológica justamente quando estamos inseguros sobre decisões e políticas da empresa, sobre comunicados à imprensa, novas nomeações ou qualquer outro evento que gera ansiedade. Nunca, no mundo pós-pandemia, isso fez tanta falta.

RECONSTRUINDO O CAPITAL SOCIAL

Conforme as pessoas passaram a trabalhar mais desarticuladas e desconectadas, a fofoca foi desaparecendo da interação diária. Aqueles momentos clandestinos de matar o tempo na hora de beber água, os segredos trocados e detalhes vazados depois das reuniões, os fragmentos de conversa nos corredores e corridas de táxi compartilhadas serviam a um propósito.

Fofocar é algo instintivo e saudável, proporcionando segurança, troca, compreensão e um sentimento de pertencimento.

Na pior das hipóteses, o online nos deixa só com o lado ruim das fofocas do escritório.

Os líderes de recursos humanos citam a comunicação e a manutenção da cultura da empresa como algo “muito desafiador” com o trabalho híbrido e remoto. A resposta não é obrigar ninguém a trabalhar no escritório só porque é bom para os negócios. O fato é que isso precisa (e deve) ser bom para os funcionários.

Cerca de 84% dos trabalhadores afirmam que se sentiriam motivados pela socialização com os colegas de trabalho e 85% pela reconstrução dos laços da equipe. Além disso, os funcionários relatam que frequentariam mais o escritório se seus “amigos do trabalho” também estivessem por lá.

Portanto, crie oportunidades para fofocas saudáveis no escritório. Conectividade e engajamento social são atrativos culturais muito importantes.

PERIGOS DA FALHA DE COMUNICAÇÃO

O que acontece quando não há oportunidades de fofocar ao vivo? Pressupostos equivocados e preconceitos ganham espaço.

Trabalhando à distância, perdemos muito da interação humana. Na melhor das hipóteses, temos expressões faciais que orientam o entendimento, mas não contamos com a linguagem corporal necessária para uma interpretação completa.

Não importa o cargo ou o nível na carreira, todos participamos das fofocas do escritório. É da natureza humana.

Ficamos sem todas aquelas outras interações cotidianas que serviriam para contrabalançar o que quer que esteja nos incomodando ou nos deixando paranoicos, conscientemente ou não.

Na pior das hipóteses, o online nos deixa só com o lado ruim das fofocas do escritório. Usar e-mails, textos etc. para transmitir frustração ou discordância pode fazer com que a discussão facilmente vire uma briga.

Sem as entonações de uma conversa em tempo real para mudar de argumentação, abrandar o tom e restituir o equilíbrio, as palavras podem ficar mais inflamadas. Não é nada muito diferente do que acontece com os trolls do Twitter ou entre os comentaristas de redes sociais ou portais de notícias. 

A FOFOCA COMO ALIADA

Com a mudança constante no mundo do trabalho, os funcionários precisam sentir uma conexão mais profunda. Para os líderes que procuram aumentar a representatividade da força de trabalho, é bom encontrar maneiras de os funcionários se conectarem, conversarem ou interagirem informalmente. 

Permita que as preocupações sejam discutidas e, ao mesmo tempo, forneça comunicação atualizada e meios de acesso à informação.

Identifique, dentro da equipe, os principais influenciadores e torne seu ambiente propício para trazer à tona questões desconfortáveis ou conflituosas.

Incentive e recompense aqueles que fazem perguntas incômodas em reuniões e até mesmo em eventos de maior porte. As discussões e fofocas já ocorreram mil vezes e vão continuar acontecendo. É inevitável. Melhor admitir e lidar com isso. 

Encarar a liberdade de expressão como uma norma cultural e implementá-la como uma estratégia no local de trabalho ajuda a entender melhor os funcionários e ainda proporciona uma forte vantagem competitiva para a empresa.


SOBRE A AUTORA

Roxanne Calder é autora de "Employable: 7 Attributes to Assuring Your Working Future" e fundadora e diretora administrativa da EST10. saiba mais