Frustrações no trabalho? Elas podem fazer de você alguém melhor
Sua rotina de trabalho pode ser revertida em recursos de autoaperfeiçoamento
Em um mundo que adora polarizações, uma pergunta em particular não saía da minha cabeça: vida profissional e pessoal são antagônicas ou complementares?
Essa foi a pergunta colocada há mais de 15 anos pelo professor Jeff Greenhaus, que escreveu um dos melhores livros sobre gestão de carreira e que é uma autoridade em tudo relacionado à vida profissional. Antes de Greenhaus publicar seu artigo “Quando o trabalho e a família são aliados: uma teoria do enriquecimento trabalho-família”, todos diziam que o trabalho era o maior inimigo de uma vida feliz.
Infelizmente, a sociedade ainda está um pouco presa a essa mentalidade de que “o trabalho é inimigo da vida pessoal”. Pensamos que o trabalho é simplesmente um meio para um fim. Mas trabalhar nos traz muito mais do que recursos materiais.
Nesse sentido, talvez seja hora de resgatar o pensamento de Greenhaus e refletir sobre todas as formas pelas quais o trabalho pode enriquecer papéis não profissionais (ou seja: nossa vida, lar, família etc.).
Quando bem-feito, o trabalho pode tornar as pessoas uma versão melhor de si mesmas. Além dos recursos materiais (como remuneração, benefícios, investimentos), há três outros, adquiridos no âmbito profissional, que podem enriquecer os aspectos subjetivo e familiar.
HABILIDADES
Simplificando, uma habilidade é aquilo que você faz bem. Há
trabalhar nos traz muito mais do que recursos materiais.
várias habilidades que normalmente desenvolvemos no trabalho e que são muito úteis quando aplicamos em casa, como as cognitivas (na resolução de problemas), interpessoais (para lidar com gente difícil, fazer os outros se sentirem mais confortáveis), de posicionamento e de fazer mais de uma tarefa ao mesmo tempo.
Além disso, os obstáculos no trabalho criam oportunidades para alcançarmos um entendimento mais profundo sobre o que significa, objetivamente e/ou subjetivamente, ser bem-sucedido.
Como acadêmico, exerço várias funções. Ensino, pesquiso, presto consultoria e participo de comitês administrativos. Organizar minha agenda pode ser muito difícil. Minha energia deve ir para os alunos? Ou devo ajudar os colegas sem vínculo empregatício, cujo sustento depende de publicar as coisas o mais rápido possível? O que acontece quando um cliente tem um problema urgente?
Minhas funções no trabalho me ajudaram a desenvolver a habilidade de priorização. Na base da tentativa e erro, agora tenho um processo muito específico para comunicar e conciliar prioridades. Minha vida fora do trabalho também traz muitas demandas. Mas agora tenho uma estrutura para lidar com isso.
PERSPECTIVAS
Ganhar perspectiva implica adquirir uma nova lente para perceber ou lidar com uma situação. Alguns dos exercícios de perspectiva mais comuns – e que podem ser trazidos do trabalho para casa – incluem respeitar e apreciar diferenças psicográficas, demográficas e culturais, ter empatia (especialmente com quem está enfrentando problemas) e aprender a conquistar a confiança alheia.
os obstáculos criam oportunidades para alcançarmos um entendimento mais profundo sobre o que significa ser bem-sucedido.
Uma das minhas funções favoritas é ser diretor de pesquisa da Cloverleaf, uma empresa de tecnologia de recursos humanos. A cultura da Cloverleaf imita seu produto. O objetivo é ajudar todos a prosperar no trabalho e a se tornar um bom companheiro de equipe.
A “perspectiva” do Cloverleaf é que todos são únicos e têm algo a oferecer. Só que, às vezes, é difícil lidar com as muitas diferenças entre colegas em termos de traços, tendências e preferências. Essa perspectiva tem sido útil em todos os aspectos da minha vida, incluindo as interações com minha esposa, filhos e vizinhos.
CAPITAL PSICOLÓGICO
Três grandes categorias de capital psicológico tendem a ser trazidas dos ambientes de trabalho para os outros. A primeira inclui a positividade na forma de autoestima (“eu sou merecedor”) e a autoeficácia (“eu consigo fazer isso”).
Ganhar perspectiva implica adquirir uma nova lente para perceber ou lidar com uma situação.
Em segundo lugar vem a garra, ou seja, a resiliência diante das dificuldades, a resistência, a capacidade de superar momentos de estresse, a diligência. Por fim, podemos trazer do trabalho o cultivo de emoções positivas, como otimismo e esperança.
Uma das empresas mais fascinantes com as quais trabalhei é uma fábrica de processamento de tomates na Califórnia, chamada Morning Star. Ela é estruturada como uma holocracia, um modelo em que todos os funcionários são colegas e não há gerentes. Tudo é decidido por meio de compromissos e comitês entre pares.
Nas coletas de dados e entrevistas com esses funcionários, as constatações são claras. Eles têm uma autoconfiança sem precedentes, se apropriam de seu trabalho e procuram oportunidades para construir confiança nos outros. Também relatam consistentemente que trabalhar lá não apenas fez deles funcionários melhores, como também pessoas melhores. Essa é a síntese da transferência de capital psicológico.
Há momentos em que a rotina pode parecer cansativa e interminável. Mas, antes de bater o martelo e voltar a rotular o trabalho como apenas uma fonte de renda e de recursos materiais, lembre-se de que, enquanto trabalha, você também tem a chance de acumular recursos imateriais, que podem ajudá-lo em outras áreas da vida.
Essa mudança sutil de mentalidade pode fazer toda a diferença, levando o trabalho e a família a serem aliados, não inimigos.