GenZ e a armadilha da especialização: por que é mais vantagem ser generalista
Ao combinar sua adaptabilidade natural com o desenvolvimento de habilidades generalistas, a geração Z terá uma vantagem real no mercado de trabalho

Em 2013, aos 22 anos, eu estava no que muitos considerariam o emprego dos sonhos: analista do banco Goldman Sachs, em Nova York.
O cargo oferecia tudo aquilo que dizem que jovens profissionais devem buscar – um salário competitivo, uma marca de prestígio, um escritório luxuoso em Manhattan, todo o tipo de benefício e uma progressão de carreira bem definida. Parecia que eu tinha alcançado a tão sonhada estabilidade – ou, pelo menos, era o que pensava.
Por trás dessa aparente segurança, porém, crescia uma inquietação. Eu percebia que, com o tempo, minhas habilidades ficariam cada vez mais restritas a um único campo, o que acabaria limitando minhas opções no futuro.
A especialização oferecia estabilidade, mas também me colocava em um caminho estreito. Hoje, olhando para trás, fico feliz por ter decidido mudar de rumo.
A ARMADILHA DA ESPECIALIZAÇÃO
Em 2025, 150 empresas de tecnologia já demitiram 72.808 profissionais nos EUA. Muitos deles haviam construído suas carreiras em funções altamente específicas, difíceis de transferir para outras áreas.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, até 2030, 70% das habilidades exigidas na maioria dos empregos terão mudado. Isso significa que competências hoje vistas como indispensáveis podem se tornar irrelevantes em apenas alguns anos.
No livro “Por que os generalistas vencem em um mundo de especialistas”, o pesquisador David Epstein mostra que profissionais com habilidades mais amplas tendem a se sair melhor em ambientes complexos e imprevisíveis. Isso porque conseguem conectar ideias de diferentes áreas, se adaptar a novos contextos e transferir conhecimentos de um campo para outro.

Em 2014, um amigo meu – vamos chamá-lo de Taylor – me disse que estava em dúvida em relação à sua carreira. Formado em Letras, ele havia ingressado no prestigiado programa Teach for America e dava aulas em uma comunidade carente.
No papel, tudo parecia ótimo. Mas ele se perguntava se estava realmente fazendo a diferença. Decidiu então aprender programação e, em pouco tempo, conquistou bons cargos de tecnologia, até chegar a scrum master na Nike. Só que, à medida que subia na carreira, seu conhecimento técnico ia se tornando menos relevante.
O que realmente abriu portas para Taylor foram suas habilidades “não técnicas”: sua capacidade de lidar com diferentes perfis, de ler o ambiente e de propor soluções criativas para problemas complexos. A formação em Letras, a experiência como professor e a atuação na área de tecnologia se complementavam de um jeito único.
HABILIDADES DE GENERALISTA PARA SE CULTIVAR
Embora a especialização tenha seu valor, em um cenário cheio de incertezas, a maior vantagem que se pode ter é a capacidade de aprender, se adaptar e transitar entre diferentes áreas. Algumas habilidades-chave para desenvolver são:
- Comunicar-se bem – saber expressar ideias com clareza, ouvir atentamente e lidar com dinâmicas interpessoais complexas é fundamental, especialmente no início da carreira. Jovens que investem nisso costumam estar mais preparados para lidar com os imprevistos do mundo atual.
- Construir conexões genuínas – quando comecei a captar recursos para a Venture for Canada, ouvi muitos “nãos”. Mas as coisas começaram a mudar quando parei de tentar passar uma imagem de perfeição e passei a falar da realidade: noites em claro, dúvidas, mas também a convicção que me movia. Essa vulnerabilidade, longe de me enfraquecer, me fortaleceu.
- Trabalho em equipe – em qualquer esforço coletivo, principalmente em ambientes instáveis, duas qualidades são essenciais: ser confiável e encarar conflitos de frente.
- Gerir bem tempo e foco – no livro “Como Avaliar Sua Vida?”, Clayton Christensen destaca a importância de direcionar recursos de forma consciente. Isso significa dedicar o seu tempo às atividades que realmente te ajudam a alcançar seus objetivos.
- Manter-se curioso – a curiosidade é o que permite ver as incertezas não como obstáculos, mas como oportunidades. Cada desafio se torna um quebra-cabeça a ser resolvido, um mundo de possibilidades a ser explorado.
A VANTAGEM DA GERAÇÃO Z
A verdade é que o mercado de trabalho nunca esteve tão incerto. Mas, ao mesmo tempo, nenhuma geração esteve tão preparada para se adaptar.
até 2030, 70% das habilidades exigidas na maioria dos empregos terão mudado.
Diferentemente das gerações anteriores, os GenZs cresceram aprendendo a programar sozinhos e a desenvolver novas habilidades através de tutoriais no YouTube. Isso lhes dá um acesso sem precedentes a conhecimento, ferramentas e comunidades globais.
Hoje, é possível aprender de graça na internet o que antes exigia meses de cursos pagos. Também é possível se conectar diretamente com colegas e especialistas do mundo todo, compartilhar projetos e receber feedback em tempo real.
Se a geração Z souber combinar sua adaptabilidade natural com o desenvolvimento intencional de habilidades generalistas, poderá transformar a instabilidade do presente em uma vantagem real e criar oportunidades em meio às incertezas.