Gol contra na diversidade

Um não, vários, desde a escolha do Qatar como sede da Copa do Mundo até a falta de posicionamento das marcas em relação ao tema durante o torneio

Crédito: Istock

Rui Piranda 2 minutos de leitura

Copa do Mundo rolando e, como sabemos, este é aquele tipo de evento imperdível para as marcas. Uma oportunidade única de exposição e visibilidade perante os mais variados públicos. Porém, uma coisa vem martelando em minha cabeça há semanas: como fica o discurso das marcas em relação à diversidade?

Sabemos que o Qatar adota um posicionamento criminalizador perante a homossexualidade e que já recebeu diversas denúncias de violações aos direitos humanos, sendo que o próprio representante do evento no país teceu comentários preconceituosos referentes a este tema.

Agora, acompanhamos seleções criando ações para se posicionarem a respeito e muitas marcas (muitas mesmo), simplesmente ignorando o assunto e tocando em frente. Afinal, ninguém quer perder esta oportunidade de gerar negócios, não é mesmo? A FIFA, inclusive, acaba de registrar uma receita recorde de US$ 7,5 bilhões, esgotando todas as cotas de patrocínio disponíveis.

Alguns poucos gatos pingados manifestaram-se sobre o assunto, como é o caso da cervejaria escocesa BrewDog, que se posicionou como uma “ orgulhosa anti-patrocinadora” em protesto contra as denúncias de violação de direitos humanos no Qatar. 

Sempre digo que a diversidade genuína não é imposta, ela deve fazer parte do DNA da marca. Caso sua empresa ainda tenha dúvidas sobre o lugar que o tema diversidade ocupa dentro da organização, antes de se lançar em campanhas em defesa da causa, sugiro levar a marca para o divã e fazer um exercício de autoconhecimento.

Felizmente, tenho visto o esforço de muitas marcas para engajar as pessoas a respeitar o outro de forma genuína e empática.

Busque compreender aspectos como: o que é diversidade para a alta organização; como o tema é tratado no dia a dia do ambiente corporativo; se há resistências com relação ao assunto; se existe alguma ação interna que realmente faça a diferença na vida do público diverso.

Uma campanha de comunicação, assim como um colaborador respeitado e um cliente satisfeito, são relacionais. Todos têm um forte potencial de construir e fortalecer a relação da marca com o consumidor. E toda empresa é livre para definir seus valores e suas ações, porém, cada vez mais a coerência entre discursos e atitudes será cobrada das marcas. É preciso que elas decidam o que irão incorporar em si.

Se a empresa abre mão de algum de seus valores por uma boa oportunidade comercial, ora, isso não é bem um valor, então. Felizmente, tenho visto o esforço genuíno de muitas marcas para compreender a raiz social deste tema e buscando, cada vez mais, engajar as pessoas a respeitar o outro de forma genuína e empática, entendendo a pluralidade como uma via para ampliar horizontes e viver melhor.

Sigo confiando que a diversidade é um tema que ainda será inserido em nossas vidas, nossa rotina e nossos relacionamentos com leveza e naturalidade. Mas, por enquanto, acho que tomamos um gol contra.

Na verdade, um não, vários. Desde a escolha do Qatar como local para sediar o evento, a atitude das marcas de compactuar com a situação ao seguirem normalmente com seus patrocínios e sua falta de posicionamento em relação ao assunto.


SOBRE O AUTOR

Rui Piranda é sócio-fundador da agência ForALL. saiba mais