Má notícia para quem costuma fingir que trabalha: a IA vai acabar com a festa
A inteligência artificial está escancarando o quanto do trabalho nunca precisou existir

Existe um grande paradoxo no trabalho moderno. A inteligência artificial tem avançado em um ritmo nunca antes visto, criando apresentações, resumindo reuniões, redigindo propostas, analisando planilhas e até gerando avatares para videoconferências.
Mesmo assim, apesar de toda a expectativa em torno dos ganhos de produtividade, a maioria das empresas continua frustrada com os tímidos resultados de seus testes com IA.
Um relatório recente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) mostra que, embora ferramentas como ChatGPT e Copilot aumentem a produtividade individual, isso raramente se reflete nos lucros.
Se as pessoas estão produzindo mais, mas isso não melhora o desempenho financeiro das empresas, a pergunta inevitável é: de que adianta tanto ganho de produtividade? A resposta incômoda é que a IA está revelando o óbvio: muito do trabalho que fazemos nunca precisou existir.
Podemos chamar isso de “trabalho inútil”: tarefas que, até para quem as executa, soam como perda de tempo. Atividades que, se deixassem de ser feitas, ninguém sentiria falta – ou, pior, todos respirariam aliviados.
A inteligência artificial está desmontando o “teatro corporativo”, automatizando justamente as tarefas simbólicas e superficiais que nunca geraram valor de verdade.
DESMASCARANDO O TRABALHO INÚTIL
A IA ainda não transformou a essência da maioria dos empregos. Mas já está, e em uma velocidade maior do que as empresas conseguem acompanhar, escancarando a camada performática do trabalho. Escrever e-mails. Produzir relatórios. Reformular propostas. Polir apresentações. Transcrever e resumir reuniões que, muitas vezes, nem precisariam acontecer.
Como disse Yuval Harari, a inteligência artificial já conta histórias melhor do que os humanos. Ela não só compete no trabalho “real”, como também no ato de fingir trabalhar – assumindo tarefas que passam a sensação de produtividade, mas que pouco agregam de fato.
Se uma IA consegue produzir um relatório anual inteiro em segundos, isso só reforça o quanto esses documentos sempre seguiram uma fórmula. A facilidade com que podem ser replicados mostra que, no fundo, há pouca substância neles.

Estamos vivendo uma revolução da produtividade, mas sem uma revolução de propósito. As ferramentas evoluem, mas o trabalho continua vazio. Em vez de reinventar processos, muitas empresas usam IA apenas para produzir mais do mesmo, em maior velocidade. Mas correr mais rápido na direção errada só significa se perder mais depressa.
Sem um redesenho consciente, a inteligência artificial não vai apenas expor trabalhos inúteis – pode até reforçá-los. Se líderes não desafiarem o status quo, corremos o risco de amplificar o barulho em vez de reduzi-lo: adicionando novos sistemas a processos ruins e depois nos perguntando por que nada mudou.
Se máquinas produzem relatórios em massa, que serão revisados, resumidos e processados por outras máquinas, o que realmente ganhamos com isso?
O VALOR ESTÁ NAS PESSOAS, NÃO NOS ROBÔS
O ponto central é: a inteligência artificial pode otimizar a forma como o trabalho é feito, mas não define o que deve ser feito, nem por que isso importa. Essa decisão continua sendo humana – e é justamente aí que está a oportunidade.
O verdadeiro impacto da IA não será medido pelo quanto ela automatiza tarefas inúteis, mas pelo quanto libera o potencial humano. Se um gestor ganha 10 horas semanais sem precisar redigir relatórios, a pergunta é: o que ele fará com esse tempo?
Em vez de reinventar processos, muitas empresas usam IA apenas para produzir mais do mesmo.
A resposta depende da liderança e do RH, não da tecnologia.
Para extrair valor real, as empresas precisam ajudar seus profissionais a repensar seus papéis além da entrega mecânica. Isso significa abrir espaço para contribuições que envolvam criatividade, relacionamentos, estratégia e julgamento – áreas em que a IA ainda é fraca.
E também significa dar às pessoas condições de usar esse tempo para pensar, aprender, explorar, se conectar e inovar.