Inovação x valorização das diferenças no ambiente de trabalho

Vivemos em uma era marcada por transformações rápidas e disruptivas. Mas é preciso diferenciar as competências clássicas das contemporâneas

Crédito: Istock

Betânia Tanure 4 minutos de leitura

O estímulo à inovação e a verdadeira valorização das diferenças são grandes desafios neste mundo recheado de incertezas em que vivemos, afinal, representam a quebra de comportamentos recorrentes. No ambiente organizacional, é preciso buscar o amadurecimento coletivo e, na atuação de uma Equipe, não prescindir da máxima “um mais um é sempre mais que dois”. A Equipe representa o estágio mais evoluído desse amadurecimento, que se inicia no Grupo e tem continuidade no Time. 

No Grupo ainda predominam os interesses do indivíduo e os resultados individuais são maiores do que o resultado coletivo. O Time inaugura a maturidade da formação coletiva, mas seu resultado ainda não ultrapassa a soma dos resultados individuais. Isso só será alcançado pela Equipe, nível de evolução em que se somam as qualidades específicas de cada componente e, ao mesmo tempo, se subtraem algumas limitações.

o desafio é maior do que aceitar as diferenças. É preciso ir além, valorizá-las.

Isso é o que todos querem, multiplicar o desempenho dos indivíduos e do coletivo valendo-se do lado sol dos seus membros, mas sem ignorar o inevitável lado sombra de cada um deles. Até porque, a sombra de um precisa ser compensada pelo sol do outro. Aqui, o desafio é maior do que aceitar as diferenças. É preciso ir além, valorizá-las. 

Não é novidade que trabalhar com iguais é mais fácil. Muitas vezes, basta pronunciar uma sílaba e o outro já completa a palavra...  Agilidade, redução de conflitos, mais eficiência na execução, pouca demanda de explicações ou de esforço para compreender o outro... Nada como a “harmonia”! 

Uma agenda mais leve é tudo o que você quer, não é? Só que, em um ambiente desses, não há estímulo para a inovação.

VIVEMOS NA ERA DAS TRANSFORMAÇÕES  

Por que é tão difícil valorizar as diferenças? As razões são múltiplas, exploro aqui apenas algumas: egos, egos e egos. Se uma pessoa tem a incurável convicção de que é a melhor, a mais inteligente – isto é, a mais brilhante –, certamente lhe faltam requisitos como autoconhecimento, percepção ou compreensão das próprias fragilidades (destas ninguém escapa!) e a capacidade de exercitar a empatia. 

Hoje, seja pelo advento do imponderável – como a pandemia de 2020 –, seja pela revolução digital em curso, seja pela aceleração das mudanças sociais, não se pode negar que a inovação é essencial. Vivemos em uma era marcada por transformações extremamente rápidas e disruptivas. É preciso, porém, diferenciar as competências clássicas das contemporâneas.

Achar que tudo fica obsoleto, mesmo neste período de incertezas, é um erro enorme.

A obsolescência de conhecimentos e tecnologias se mostra surpreendentemente acelerada e algumas competências envelhecem com grande rapidez. Outras, porém, mantêm-se fundamentais na viagem da liderança. Achar que tudo fica obsoleto, mesmo neste período de incertezas, é um erro enorme. 

Metodologias trazidas pela evolução digital, como agile, squads, scrum e design sprint são necessárias. Tornam-se, no entanto, absolutamente inócuas como fonte de construção de valor se as pessoas não estiverem verdadeiramente dispostas a ir além da “moda”.

O método, ou a tecnologia, a ser usada deve ser bem mais do que embalagem. Para isso, é preciso que a base cultural da empresa viabilize a implementação desse método, dessa tecnologia, dessas inovações.

A COMPETÊNCIA DE INOVAR

Ainda que a inovação seja festejada pelas organizações, muitas não fizeram ainda o dever de casa nessa área. Afinal, a competência de inovar não se sustenta apenas na objetividade e na tecnologia. Aliás, no Brasil, as competências de 75% dos executivos são de caráter objetivo, segundo nosso conceito.

Inovação exige mais. Exige competência subjetiva, que se relaciona à capacidade de levar em frente uma transformação cultural. Apenas 23% dos executivos têm essa fortaleza no seu perfil. Assim, conseguiram florescer as empresas que tinham uma cultura suficientemente aberta. 

É preciso romper comportamentos recorrentes, hábitos e estilos consolidados que impedem o crescimento.

Diante desse cenário – parte dele ainda em construção – surge a pergunta: como derrubar as paredes da hierarquia e dos silos de modo a criar soluções inovadoras e obter resultados extraordinários? A resposta é: por meio da integração das competências hard e soft para a valorização da diversidade. 

Não dá para mergulhar no mundo digital sem trabalhar a cultura, o mindset das pessoas. Portanto, é preciso fazer a cultura evoluir, ou mesmo transformá-la. É preciso romper comportamentos recorrentes, hábitos e estilos consolidados que impedem o crescimento.

Um desses comportamentos, que pode ser um grande inimigo, é o sucesso. O alto nível de conforto que ele traz às pessoas dificulta movimentos de transformação que permitiriam a elas vencer a inércia e sair de seus ciclos normais de funcionamento. 

Disposto a fazer esse movimento? Vá em frente, lembrando sempre que “um mais um é sempre maior que dois”! Valorize as diferenças, evite a cristalização de verdades e abra-se para exercer sua liberdade de pensar e de inovar, fruto do saudável exercício da autonomia.


SOBRE A AUTORA

Betânia Tanure é sócia-fundadora da Betânia Tanure Associados, consultoria de desenvolvimento empresarial, saúde e vitalidade organiza... saiba mais