Jamie Lee Curtis chega ao ponto mais intenso de sua carreira de quatro décadas

Crédito: Fast Company Brasil

Yasmin Gagne 8 minutos de leitura

Jamie Lee Curtis não esperava chegar agora ao ponto mais intenso de sua longa carreira de quatro décadas. Na verdade, houve um tempo em sua infância em que ela falava repetidamente sobre se aposentar. “Eu queria me retirar por conta própria, antes que outros me convidassem a me retirar”, explica, depois de ver seus pais, os atores Tony Curtis e Janet Leigh, “lidarem com o fato de não serem mais contratados, algo muito doloroso de se assistir”. Após inúmeros trabalhos para TV, um podcast e seu próprio empreendimento social, seu afilhado, Jake Gyllenhaal, ligou para ela, querendo apresentá-la ao diretor David Gordon Green, que teve uma ideia de roteiro para uma sequência do filme Halloween. Quando ela percebeu que “o roteiro era sobre traumas geracionais e mostrava mulheres lidando com eles”, Curtis sentiu-se pronta não só para reprisar o papel com o qual ela havia tornado o filme famoso em 1978, mas também para ser produtora executiva. O Halloween de 2018 tornou-se a maior estreia de todos os tempos, com uma mulher de mais de 55 anos como protagonista. Aqui, Curtis fala sobre a estreia de Halloween Kills, sobre sua nova produtora, a Comet Pictures, e sobre ser alguém em quem as pessoas confiam.

Você esperava estar tão ocupada aos 62 anos?

Não! Foi uma grande surpresa, mas estou empolgada com isso. Quer dizer, é só olhar para o meu rosto! Quando voltei para casa depois de gravar o filme Halloween de 2018, que foi muito divertido, eu pensei: a pior coisa que acontecerá se eu morrer é que toda a criatividade que eu tenho, mas nunca expressei, também morrerá comigo. Refletir sobre isso foi um grande estímulo. Quando fui para casa, escrevi um roteiro [de um filme de terror sobre mudança climática chamado Mother Nature] que estava na minha cabeça desde os 19 anos. Eu escrevi um esboço, mas iria entregá-lo a outra pessoa para escrever o roteiro completo. Então, meu marido [o ator e cineasta Christopher Guest] me sugeriu: “Por que você não escreve o roteiro inteiro?” [O roteiro, que Curtis dirigirá, a levou a fundar uma empresa chamada Comet Pictures, que fechou um acordo inicial com a produtora de Halloween Blumhouse]. Acabamos de vender quatro programas de TV, um filme e dois podcasts. Meu trabalho criativo finalmente está acontecendo e é tudo porque decidi não perder mais tempo. Meu lema passou a ser: “Se eu não o fizer agora, então quando farei? Se não for eu a fazer, então quem fará?” E agora eu estou aberta a tudo e continuo seguindo em frente.

Depois de uma longa carreira na frente das câmeras, você se tornou produtora no revival do filme Halloween de 2018. O que está por trás dessa decisão?

Eu deveria ter sido a produtora do filme de 2002. [O filme] foi ideia minha, mas naquela época eu ainda não era firme o suficiente para dizer: “Calma aí, estamos fazendo isso porque eu chamei todos – eu vou produzir”. Não fiz isso na ocasião.

Como é você como produtora?

Resolução de conflitos sempre foi difícil para mim. Eu sou o produto de nove casamentos muito conflituosos na minha família, então aprendi a evitar confrontos. Por outro lado, eu sou uma pessoa ótima para incentivar os outros. E delego muito bem. Eu sou firme e clara. Mas a presença do ego no show business é enorme e eu não entendo isso. Eu lido com minha equipe da seguinte forma: às segundas-feiras de manhã, peço atualizações… Eu não faço reuniões para simplesmente perguntar, “Oi, pessoal! Como está tudo?” Eu quero colocar a mão na massa e fazer as coisas.

Jamie Lee Curtis (Crédito: Joe Pugliese/AUGUST)

Muitos fãs a conhecem por seus primeiros filmes, como Trocando as Bolas e Um Peixe Chamado Wanda. Já o público mais jovem conhece você por Sexta-Feira Muito Louca ou Entre Facas e Segredos. Qual é a sua relação com essas diferentes gerações?

Não tenho relação com eles porque sou uma pessoa reservada. Eu vivo uma vida muito fechada e não gosto de atenção. Quando você tem a minha idade, acaba fazendo uma ampla variedade de trabalhos, se tiver sorte. Por exemplo, quando Halloween foi lançado fui capa da AARP e [ao mesmo tempo] e continuarei a escrever meus livros infantis – lançarei um novo em 2023. Definitivamente, eu atinjo diferentes públicos demográficos, mas isso não foi exatamente um plano.

Você também participou de algumas campanhas publicitárias memoráveis, estrelando comerciais da Hertz, L’eggs e Activia. O que você acha que a torna uma porta-voz tão requisitada?

Eu sou a porta-voz dos sonhos de executivos de marketing e publicidade. Eu criei minha marca [pessoal] com base na integridade – as pessoas me conhecem por dizer a verdade. Eu não necessariamente planejei isso, mas minha marca ficou mais clara para mim quando comecei a ser contratada por empresas para vender seus produtos. O público confia em mim.

Como você escolhe que marcas representar?

Quase todos os trabalhos que já aceitei apareceram no meu caminho. Nunca fui alguém que fica sentada escolhendo entre uma série de propostas.

Você já falou que não quer fazer mais nenhuma cirurgia plástica. Você acha que os padrões de beleza de Hollywood estão mudando?

Eu já fiz cirurgia plástica e não funcionou, apenas me viciou em Vicodin. Mas estou sóbria há 22 anos. Essa tendência atual de preenchimentos e procedimentos, essa obsessão por filtros e ferramentas que melhoram nossa aparência no Zoom está destruindo a beleza de uma geração inteira. Depois de mexer no seu rosto, você não consegue mais recuperá-lo.

Essa tendência atual de preenchimentos e procedimentos, essa obsessão por filtros e ferramentas que melhoram nossa aparência no Zoom está destruindo a beleza de uma geração inteira.

Você é muito ativa no Instagram e um dos seus livros infantis se chama Me, Myselfie & I. Como é sua relação com as redes sociais?

Eu uso as redes sociais para vender produtos e descobrir coisas que me interessam. Ponto. O resto é lixo. Não leio comentários. Faço o meu trabalho e tenho uma vida reservada. Eu acredito na separação da igreja e do Estado. E também acredito que não devo nada a ninguém depois que meu trabalho acaba. Sou uma pessoa super amigável por natureza, mas também tenho um limite muito claro do que é apropriado e inapropriado de compartilhar. Mas há coisas muito boas nas redes sociais. Eu amo ver pessoas fascinantes fazendo coisas incríveis no ativismo. O melhor exemplo disso é a Greta Thunberg. Fico inspirada ao ver o movimento que ela criou. Por outro lado, as redes também podem ser muito perigosas. É como dar uma serra elétrica na mão de uma criança. Simplesmente não temos como saber os efeitos mentais, espirituais e físicos que essa geração de jovens ansiosos, por causa das redes sociais e por conta das comparações com outros, terá. Todos nós que já temos uma certa idade sabemos que é tudo mentira. Mas, para jovens, é um perigo real.

Existe algum tipo de perfil que você gosta de seguir?

Eu adoro ver pedidos de casamento no Tik Tok, como pedidos com flash mob. Quando eu estava na Hungria gravando um filme, sozinha e longe de casa, e voltava para o meu quarto de hotel, ficava horas assistindo a pedidos de casamento.

Você claramente gosta de fazer coisas novas. Você foi uma das primeiras pessoas a advogar por carros movidos a hidrogênio, possui uma patente de design de fraldas e uma loja de e-commerce filantrópica. O que te estimula a explorar tantas coisas?

Uma das minhas frases favoritas é “viva o momento”, que meio que me tira dos meus pensamentos e me coloca em ação. Acredito que meu segredo é estar sempre a par das coisas. Sou um autodidata e acho que consigo perceber tudo o que está acontecendo ao meu redor. Estou aberta a novas experiências e sempre atenta a tudo.

Uma das minhas frases favoritas é “viva o momento”, que meio que me tira dos meus pensamentos e me coloca em ação.

JAMIE LEE CURTIS, INOVADORA

“Sou uma pessoa de ideias”, explica Curtis. “Gostaria que alguém me desse um escritório e me deixasse criar coisas, porque é isso que faço o tempo todo.” Estas são algumas de suas melhores ideias:

Uma mudança mais rápida

Em 1987, a atriz patenteou um design de fralda que continha um bolso de lenços umedecidos, para que fossem retirados facilmente. Mas ela se recusou a colocar a fralda no mercado até que as empresas do ramo vendessem fraldas biodegradáveis. Então, registrou de novo a patente em 2017.

Carros com energia limpa

Ela não inventou a tecnologia, mas foi uma das primeiras a defender a fabricação de carros movidos a hidrogênio e recebeu um dos primeiros 200 sedãs Honda Clarity  lançados em 2008.

Souvenirs para uma boa causa

Durante a pandemia, Curtis lançou o My Hand in Yours, uma loja online de produtos de bem-estar, arte e acessórios, que doa todo seu lucro para o Hospital Infantil de Los Angeles.

Ensinamentos para crianças… e adultos

Curtis é autora de 13 livros infantis junto com a ilustradora Laura Connell. Já para o público mais velho, ela tem um podcast chamado Good Friend, na iHeartRadio, onde recebe e conversa sobre amizade com convidados como Robin Wright e Michelle Williams.


SOBRE A AUTORA

Yasmin Gagne é escritora e redatora da Fast Company. saiba mais