Como a liderança intergeracional pode garantir o futuro de um negócio

Formar novas lideranças enquanto se aproveita a experiência dos veteranos garante não só estabilidade mas também inovação contínua

Créditos: Deagreez/ Getty Images/ Rawpixel

Dave Allen 4 minutos de leitura

Na aclamada série da HBO "Succession", o patriarca Logan Roy promoveu uma disputa interna entre seus filhos pela liderança de seu império midiático. Quem acompanhou a trama sabe bem como terminou.

Mas, e se o desfecho tivesse sido diferente? E se Roy tivesse optado por um modelo colaborativo e de liderança intergeracional para conduzir sua empresa rumo ao futuro? Talvez a série tivesse menos tensão dramática (e ganhado menos prêmios). Mas, para os acionistas, seria certamente uma decisão mais sensata diante das rápidas transformações da indústria da mídia.

Planejar a sucessão é um princípio inegociável para qualquer organização próspera, ainda que seja um dos mais difíceis de executar com eficácia. Em um cenário global volátil e em constante mudança, esse planejamento torna-se ainda mais essencial.

Disrupções tecnológicas em ritmo acelerado, iniciativas de diversidade sob escrutínio e um ambiente onde cinco gerações de profissionais trabalham juntas representam desafios únicos para garantir crescimento e estabilidade.

Para os CEOs – cuja idade média gira em torno dos 59 anos –, algumas perguntas se impõem: estão preparados para engajar os profissionais da geração Z e os que virão depois deles? Estão prontos para liderar em um mundo impulsionado pela inteligência artificial?

Sem apoio adequado, a resposta honesta costuma ser negativa. Em 2023, o jornal "Financial Times" destacou um número recorde de pedidos de demissão de CEOs, pressionados por investidores, pela rápida transformação digital e por mercados em queda. A função nunca foi tão exigente.

Depois de anos de reflexão, tomei a decisão de nomear um novo CEO para nossas operações no Reino Unido e Europa. Foi uma escolha ousada: pulamos algumas gerações. Mas ele estava pronto, após anos de preparo, aprendizado e conquistas.

Até agora, a aposta tem se mostrado acertada. Em pouco tempo, a empresa tornou-se mais dinâmica, ágil, inovadora e resiliente.

COMO APLICAR A LIDERANÇA INTERGERACIONAL

1. Crie uma cultura aberta de aprendizado entre diferentes gerações

Com a chegada da geração Alpha ao mercado de trabalho, cinco gerações coexistirão no mesmo ambiente corporativo. Em vez de tratar isso como um obstáculo, as empresas devem enxergar a oportunidade: integrar diferentes perspectivas promove criatividade, melhora a tomada de decisões e fortalece a colaboração entre equipes.

Uma forma eficaz de fazer isso é implementar programas de mentoria com troca de conhecimentos, em vez de uma lógica unidirecional de cima para baixo.

2. Identifique e desenvolva sucessores de todas as gerações

Encontrar líderes qualificados sempre foi um desafio, que se complicou no ambiente atual de mudanças rápidas. Setores em transformação – como os de tecnologia e mídia – precisam de lideranças capazes de lidar com complexidade, mesmo sem experiência prévia em setores cenários parecidos.

Promover talentos internos costuma ser mais eficaz do que contratar de fora. Em minha experiência, formar sucessores dentro da organização gera melhores resultados a longo prazo.

liderança intergeracional
"Succession" (Crédito: HBO)

Uma vez identificado o talento, é essencial oferecer um plano de desenvolvimento robusto. Ao observar como essa pessoa lida com vitórias e fracassos ao longo do caminho, ganha-se confiança na escolha feita.

Mas atenção: talentos de alto desempenho são cobiçados pelo mercado. Já perdi dois sucessores promissores para concorrentes. A saída de profissionais estratégicos é dispendiosa e frustrante.

Um conselho executivo intergeracional pode atuar como rede de segurança, ajudando a reter esses talentos ao oferecer o suporte e a mentoria necessários para que continuem crescendo.

3. O futuro começa agora

O momento ideal para pensar em sucessão é o presente. Os líderes de amanhã precisam participar hoje das decisões que vão moldar os próximos três a cinco anos. Incentive-os a opinar, a assumir responsabilidades e a colaborar entre gerações.

A sucessão não é apenas tema de ficção, é um desafio real de liderança. Os erros de Logan Roy servem de alerta. Adiar decisões e negligenciar o desenvolvimento de uma liderança diversa são riscos que nenhuma organização pode se dar ao luxo de correr.

Uma corrente intergeracional de líderes não é apenas um diferencial, é uma necessidade diante da complexidade atual. Formar novas lideranças enquanto se aproveita a experiência dos veteranos garante não só estabilidade mas também inovação contínua.

Não espere. Comece hoje a construir uma estratégia de sucessão de olho no futuro. Uma liderança plural e dinâmica pode ser o diferencial entre ser protagonista da transformação ou ser deixado para trás por ela.


SOBRE O AUTOR

Dave Allen é fundador e CEO global da empresa de consultoria Brandpie. saiba mais