Liderança sem gritos: por que empatia e colaboração superam a força bruta

Pesquisa mostra que estilos colaborativos, inclusivos e emocionalmente inteligentes superam o velho modelo de comando e controle

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Maria Brinck 4 minutos de leitura

Assertividade, dominância, competição, tomada de risco: esses foram, por muito tempo, os pilares dos modelos tradicionais de liderança, quase sempre associados aos homens. Dos conselhos corporativos aos gabinetes políticos, o arquétipo do “líder forte” foi construído em torno de vozes que comandam, decisões inflexíveis e posturas de lobo solitário.

Essa postura não é apenas ultrapassada: é perigosa.

As qualidades que durante décadas foram deixadas de lado – compaixão, colaboração, visão de longo prazo, humildade – não são mais “soft skills”. São competências de sobrevivência. E elas estão no centro do que costuma ser chamado de estilo de liderança "feminino”.

Os dados confirmam: empresas com equipes executivas diversas em gênero têm 25% mais chances de superar concorrentes financeiramente. Companhias lideradas por mulheres CEOs entregaram, historicamente, um retorno sobre o patrimônio de 223% em 10 anos, contra 130% das lideradas por homens.

Já uma pesquisa da Gallup mostra que a performance dos funcionários pode cair até 30% em ambientes autoritários ou de gestão de cima para baixo.

Está claro: estilos de liderança agressivos não funcionam mais. Organizações que querem prosperar e ter longevidade precisam adotar modelos inclusivos, colaborativos e emocionalmente inteligentes. Três estilos, em especial, estão redesenhando o que significa liderar com eficácia.

LIDERANÇA COLABORATIVA: PODER COM, NÃO PODER SOBRE

A liderança agressiva se alimenta do controle: o líder fala, os outros escutam. Mas, em um mundo no qual as melhores soluções nascem da diversidade de vozes e de equipes interdisciplinares, esse modelo falha. Colaboração não é moda, é pré-requisito de sucesso.

O caso da Korean Air nos anos 1990 ilustra isso. Após uma série de acidentes fatais, descobriu-se que os tripulantes de nível júnior tinham medo de questionar seus comandantes – reflexo de uma cultura hierárquica rígida que custava vidas.

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Quando a empresa adotou treinamentos que incentivavam o trabalho em equipe e davam voz a todos no cockpit, sua reputação de segurança foi transformada.

Nas organizações de hoje, líderes colaborativos achatam hierarquias, encorajam a iniciativa e estimulam a participação ativa. Eles ouvem mais do que falam, tomam decisões a partir de múltiplas perspectivas e entendem que autoridade não é ter todas as respostas, mas criar condições para que as melhores respostas apareçam.

LIDERANÇA COM PROPÓSITO: INSPIRAR, NÃO INTIMIDAR

O modelo tradicional motiva pela pressão: bater as metas ou enfrentar as consequências. Mas essa abordagem é um dos maiores motores do desengajamento. Segundo a Gallup, quase 80% da força de trabalho global está desengajada, custando US$ 8,8 trilhões em produtividade perdida. Muitos não estão apenas desmotivados: trabalham contra seus empregadores.

A intimidação custa caro. Líderes que inspiram com propósito invertem essa lógica.

imagem simbólica de uma chefe fazendo seleção de funcionários
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Foi o que fez Paul Polman, ex-CEO da Unilever, ao ampliar o foco da empresa para além dos lucros: sustentabilidade, saúde, bem-estar. Polman rompeu com a prática dos relatórios trimestrais, que alimentam o imediatismo, e integrou metas sociais e ambientais ao coração da estratégia corporativa. O resultado? A Unilever superou concorrentes e se consolidou como uma das marcas mais admiradas do mundo.

Líderes movidos por propósito não governam pelo medo, mas pela visão. Fazem as pessoas se importar não apenas com o que fazem, mas com o porquê fazem. Num cenário em que novas gerações escolhem empregos guiados por valores, esse é o diferencial competitivo.

LIDERANÇA COM INTELIGÊNCIA EMOCIONAL: FORÇA PELA EMPATIA

Durante décadas, ensinou-se que líderes deveriam “deixar as emoções em casa”. Mas a verdade é que inteligência emocional é uma das ferramentas mais poderosas que um líder pode ter. Reconhecer, compreender e gerir emoções – próprias e dos outros – é essencial para construir confiança, aliviar tensões e conduzir equipes em tempos de incerteza.

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Nelson Mandela talvez seja o exemplo mais marcante. Após 27 anos preso, saiu não com rancor, mas com foco na reconciliação. Sua liderança trouxe a África do Sul de volta da beira da guerra civil, não pela força, mas pela empatia, humildade e visão.

No mundo dos negócios, Satya Nadella, da Microsoft, é outro exemplo. Ao priorizar a aprendizagem, a segurança psicológica e a inclusão, remodelou a cultura da empresa. Esses líderes não confundem gentileza com fraqueza: entendem que as pessoas dão o seu melhor quando se sentem vistas, ouvidas, valorizadas e respeitadas.

O FUTURO DA LIDERANÇA É EQUILÍBRIO

As características que líderes agressivos costumam desprezar – ouvir, colaborar, ter empatia – são justamente as que criam resiliência, inovação e sucesso de longo prazo.

Não importa se são chamadas de “masculinas” ou “femininas”, elas são simplesmente eficazes. E são exatamente o que os desafios de hoje exigem. A pergunta é: os líderes estão preparados para esse momento?

O que o futuro pede é equilíbrio. Líderes capazes de ser ousados e humildes, decisivos e inclusivos, confiantes e cuidadosos. Por muito tempo, a liderança premiou quem falava mais alto e dominava a sala. O futuro recompensará quem souber ouvir, conectar e unir pessoas.


SOBRE A AUTORA

Maria Brinck é fundadora e presidente da consultoria Zynergy International. saiba mais