Qual tipo de líder é você: o que corta empregos ou o que investe em pessoas?
Firmeza e empatia não são opostos. Os melhores líderes sabem equilibrar os dois

Uma provocação que costumo fazer em sala de aula é dizer que existem dois tipos de pessoas no mundo: as que têm coração e as que não têm. A frase costuma arrancar sorrisos desconfiados de alunos e executivos, curiosos para saber aonde quero chegar.
Então explico que muitos líderes, ao observarem as mudanças tecnológicas e do mercado, percebem que várias funções em suas empresas deixarão de existir em poucos anos – e não é difícil prever quais serão. A questão é: como eles lidam com isso?
Os que “têm coração” sentem empatia pelas pessoas cujos cargos estão com os dias contados. Pensam em rostos, nomes, histórias. Enxergam os membros de suas equipes como seres humanos reais.
Eles sabem o impacto que uma demissão pode ter: perder a fonte de renda que sustenta a família, o lar, o plano de saúde – sem contar o valor emocional que o trabalho tem para muitos.
Outros líderes encaram essas mudanças com mais frieza. Para eles, a “destruição criativa” é um pilar do capitalismo. O economista austríaco Joseph Schumpeter já falava sobre como os avanços inevitavelmente substituem o que veio antes.
Por exemplo, já houve uma época em que operadores de telégrafo ou pessoas que faziam contas rapidamente com lápis e papel eram altamente valorizados – até que a tecnologia tornou essas funções obsoletas. Líderes com esse olhar preferem focar nas novas oportunidades criadas por essas mudanças, em vez de se preocupar com quem perdeu o emprego.
Para eles, é simples: ou você se adapta ou fica para trás – e não adianta se lamentar, porque cada um é responsável pela própria carreira. Esses líderes enxergam essas rupturas como parte natural da trajetória humana. Outros vão além: pensam apenas em cortar custos, sem nem considerar o lado “criativo” da equação.
Mas, quando falamos de liderança de forma mais ampla, mais sistêmica, essa divisão (admito: simplista) perde a importância. O ponto central é que, independentemente do seu estilo, é preciso investir nas pessoas – por pelo menos três motivos fundamentais:
1. É mais barato e mais fácil requalificar do que substituir
Diversos estudos mostram que é mais econômico capacitar um funcionário atual do que contratar e treinar outro. Segundo a Society for Human Resource Management, substituir um profissional pode custar de seis a nove meses do seu salário.

Ou seja, trocar alguém que ganha US$ 60 mil por ano pode gerar um custo de US$ 30 mil a US$ 45 mil. Segundo o Center for American Progress, esse valor pode ser ainda maior dependendo do cargo. Requalificar, portanto, não é só uma atitude responsável – muitas vezes, é a escolha mais inteligente financeiramente.
2. Investir nas pessoas aumenta a motivação e o engajamento
Quando uma empresa investe no desenvolvimento dos colaboradores, passa uma mensagem clara: “vocês são importantes para nós”. Imagine o impacto positivo de ser escolhido para um curso de especialização em inteligência artificial, por exemplo.

Agora, pense no contrário – descobrir que a empresa abriu vagas externas para especialistas em IA e que vai cortar pessoal para bancar essas contratações. O impacto na motivação e no comprometimento da equipe é enorme.
Oferecer oportunidades de aprendizado contínuo e crescimento profissional é fundamental para construir uma cultura de trabalho saudável e produtiva.
3. Conhecimento interno é um ativo valioso
Muitos líderes são atraídos por inovação, talentos externos e ideias novas. Mas aqueles que têm uma visão sistêmica entendem o valor do conhecimento que já existe dentro da dentro da empresa – a sabedoria que vem da experiência.

Embora dados objetivos sejam importantes nas decisões, quem já viveu os desafios da organização tem um olhar único, muitas vezes essencial para resolver problemas futuros.
Seja qual for o seu estilo de liderança, é fundamental enxergar seus colaboradores como um investimento estratégico, e não como peças descartáveis.
Um bom líder aproveita oportunidades de redução de custos sem desvalorizar sua equipe. Sabe que exigir alto desempenho e manter padrões elevados faz parte do jogo.
Para ele, não existe essa dicotomia entre gestão firme e liderança com empatia – cabeça fria e coração quente podem, sim, andar juntos. E grandes líderes aspiram justamente a isso.
Trecho adaptado do livro "The Systems Leader", de Robert E. Siegel, sob licença da Penguin Random House.